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A escritora Rosa Alice Branco venceu o XVII Prémio de Poesia Espiral maior, com a obra "O Gado do Senhor", tendo a escolha merecido a reuniu a unanimidade do júri, disse hoje à Lusa, no Porto, fonte da organização do evento.
O Prémio de Poesia Espiral Maior, no valor de 15 mil euros, pretende promover esta forma de expressão na área de influência das línguas galega e portuguesa.
Ao todo estavam a concurso 198 obras, precedentes de Portugal, Galiza, Angola e Brasil tornando esta numa das mais importantes edições deste prémio, apoiado pelo Âmbito Cultural do El Corte Inglés.
O júri foi formado pelos poetas Xosé Maria Alvarez Cáccamo, Xavier Rodriguez Baixeras e Miguel Anxo Fernan Vello, tendo como secretária com voz e sem voto Amparo Manteiga Vázquez.
Nas palavras do colectivo de jurados, a obra premiada "contém uma proposta poética que leva a cabo um discurso crítico e uma interpretação irónica sobre a Bíblia, centrada na consideração da injustiça que representa a morte consentida pela Providência".
"A obra vencedora denota igualmente um grande domínio técnico, tanto na composição do poema como no ritmo sintáctico e une uma grande intensidade dramática em equilíbrio com um olhar sereno sobre a realidade imediata", refere a decisão do júri.
Rosa Alice Branco, nascida em Aveiro, em 1950, tem publicada mais de uma dezena de livros de poesia, à qual se junta uma importante obra ensaística.
Doutorada em Filosofia Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa é actualmente professora de Teoria da Percepção na Escola Superior de Arte e Design, em Matosinhos.
A sua obra está traduzida e publicada em idiomas, nomeadamente alemão, árabe, castelhano, francês e inglês.
Arte Poética Gostaria de começar com uma pergunta ou então com o simples facto das rosas que daqui se vêem entrarem no poema. O que é então o poema? um tecido de orifícios por onde entra o corpo sentado à mesa e o modo como as rosas me espreitam da janela? Lá fora um jardineiro trabalha, uma criança corre, uma gota de orvalho acaba de evaporar-se e a humidade do ar não entra no poema. Amanhã estará murcha aquela rosa: poderá escolher o epitáfio, a mão que a sepulte e depois entrar num canteiro do poema, enquanto um botão abre em verso livre lá fora onde pulsa o rumor do dia. O que são as rosas dentro e fora do poema? Onde estou eu no verso em que a criança se atirou ao chão cansada de correr? E são horas do almoço do jardineiro! Como se fosse indiferente a gota de orvalho ter ou não entrado no poema! Rosa Alice Branco Soletrar o Dia. Obra Poética Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2002 |