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#2919 - EDIÇÃO COMPLETA DA OBRA DE VITORINO NEMÉSIO

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.11.18

VITORINO NEMÉSIO (19 DEZEMBRO DE 1901 - 20 FEVEREIRO DE 1978)

A Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM) vai editar a obra completa de Vitorino Nemésio, tendo já saído o primeiro volume desta nova edição "POESIA (1916 - 1940)".

Este primeiro volume integra uma colecção com cerca de 20 que serão publicados até 2021, distribuídos em 4 séries:

poesia, teatro e ficção, crónica e diário, ensaio e crítica. Esta nova edição da INCM da obra de Vitorino Nemésio é o resultado de uma proposta da Companhia das Ilhas, uma pequena editora da ilha do Pico.

 

 

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publicado às 22:46


#2673 - Um Poema de Vitorino Nemésio

por Carlos Pereira \foleirices, em 20.11.17

Nascimento19 de dezembro de 1901, Ilha Terceira
Falecimento20 de fevereiro de 1978, Lisboa
 
 
 
O anoitecer situa as coisas na minha alma
Como as cadeiras arrumadas
Quando os amigos partiram.
Meus degraus ainda têm a passada do adeus,
Lá quando uma palavra cria tudo,
E o resto, fechada a porta,
É posto nas mãos de Deus.
Então, à minha janela,
Tudo repousa e larga o aro dos conjuntos,
Tudo vem, com um gesto secreto e confiado,
Pedir-me o molde e o amor do isolamento,
Como se um desconhecido
Passasse e pedisse lume
E eu, sem reparar, lho estendesse:
Quando quisesse conhecê-loo,
Só a minha brasa ao longe,
Na noite que se faz pelo peso dos rios
E vive de fogo dado.
Assim nocturno, sou
O suporte de quem não tem para aconsciência,
Que é como não ter para pão:
As coisas cegas
Prendem-se a mim,
Ao meu olhar, que é único na noite
Pelo seu grande alcance de humildade,
E fico cheio delas,
Como estes sítios ermos, junto de uma cidade,
Cemitérios de tudo, lugares para cães e bidons velhos;
Fico cheio da pobreza e do sinal das coisas,
Como um retrato de gente pobre é pobre e gauche
(Vale a recordação),
Mas sinto-me, ao mesmo tempo seco e cheio de tacto
Como se fosse o seu bordão.
 
Poema de Vitorino Nemésio

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publicado às 17:22


#2050 - 26

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.06.16

 VITORINO NEMÉSIO

 

26

 

O anoitecer situa as coisas na minha alma
Como as cadeiras arrumadas
Quando os amigos partiram.
Meus degraus ainda têm a passada do adeus,
Lá quando uma palavra cria tudo,
E o resto, fechada a porta,
É posto nas mãos de Deus.
Então, à minha janela,
Tudo repousa e larga o aro dos conjuntos,
Tudo vem, com um gesto secreto e confiado,
Pedir-me o molde e o amor do isolamento,
Como se um desconhecido
Passasse e pedisse lume
E eu, sem reparar, lho estendesse:
Quando quisesse conhecê-lo,
Só a minha brasa ao longe,
Na noite que se faz pelo peso dos rios
E vive de fogo dado.
Assim nocturno, sou
O suporte de quem não tem para consciência,
Que é como não ter para pão:
As coisas cegas
Prendem-se a mim,
Ao meu olhar, que é único na noite
Pelo seu grande alcance de humildade,
E fico cheio delas,
Como estes sítios ermos, junto de uma cidade,
Cemitérios de tudo, lugares para cães e bidons velhos;
Fico cheio da pobreza e do sinal das coisas,
Como um retrato de gente pobre é pobre e gauche
(Vale a recordação),
Mas sinto-me, ao mesmo tempo, seco e cheio de tacto
Como se fosse o seu bordão.

 

 

Poema de Vitorino Nemésio (EU, COMOVIDO A OESTE, 1940)

 

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publicado às 19:35


#1764 - Outro testamento

por Carlos Pereira \foleirices, em 25.10.12

 

Quando eu morrer deitem-me nu à cova

Como uma libra ou uma raiz,

Dêem a minha roupa a uma mulher nova

Para o amante que não a quis.

 

Façam coisas bonitas por minha alma:

Espalhem moedas, rosas, figos.

Dando-me terra dura e calma,

Cortem as unhas aos meus amigos.

 

Quando eu morrer mandem embora os lírios:

Vou nu, não quero que me vejam

Assim puro e conciso entre círios vergados.

As rosas sim; estão acostumadas

A bem cair no que desejam:

Sejam as rosas toleradas.

 

Mas não me levem os cravos ásperos e quentes

Que minha Mulher me trouxe:

Ficam para o seu cabelo de viúva,

Ali, em vez da minha mão;

Ali, naquela cara doce.

Ficam para irritar a turba

E eu existir, para analfabetos, nessa correcta irritação.

 

Quando eu morrer e for chegando ao cemitério,

Acima da rampa.

Mandem um coveiro sério

Verificar, campa por campa

(Mas é batendo devagarinho

Só três pancadas em cada tampa,

E um só coveiro seguro chega),

Se os mortos Têm licor d ausência

(Como nas pipas de uma adega

Se bate o tampo, a ver o vinho):

Se os mortos têm licor de ausência

Para bebermos de cova a cova,

Naturalmente, como quem  prova

Da lavra da própria paciência.

 

Quando eu morrer...

Eu morro lá!

Faço-me morto aqui, nu nas minhas palavras,

POis quando me comovo até o osso é sonoro.

 

Minha casa de sons com a morador na lua,

Esqueleto que deixo em linhas trabalhado:

Mimha morte civil será uma cena de rua;

Palavras, terra onde moro,

Nunca vos deixarei.

 

Mas quando eu morrer, só por geometria,

Largando a vertical, ferida do ar,

Façam, à portuguesa, uma alegria para todos;

Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;

Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos,

E levem-me - só horizonte - para o mar.

 

Poema de Vitorino Nemésio (1901-1978) [O Bicho Harmonioso, 1938]

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publicado às 19:31


Vitorino Nemésio

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.03.09


O anoitecer situa as coisas na minha alma

Como as cadeiras arrumadas

Quando os anigos partiram.

Meus degraus ainda têm a passada do adeus,

Lá quando uma palavra cria tudo,

E o resto, fechada a porta,

É posto nas mãos de Deus.

Então, à minha janela,

Tudo repousa e larga o aro dos conjuntos,

Tudo vem, com um gesto secreto e confiado,

Pedir-me o molde e o amor do isolamento,

Como se um desconhecido

Passasse e pedisse lume

E eu, sem reparar, lho estendesse:

Quando quisesse conhecê-lo,

Só a minha brasa ao longe,

Na noite que se faz pelo peso dos rios

E vive de fogo dado.

Assim nocturno, sou

O suporte de quem não tem para a consciência,

Que é como não ter para pão:
As coisa cegas

Prendem-se a mim,

Ao meu olhar, que é único na noite

Pelo seu grande alcance de humildade,

E fico cheio delas,

Como estes sítios ermos, junto de uma cidade,

Cemitérios de tudo, lugares para cães e bidons velhos;

Fico cheio da pobreza e do sinal das coisas,

Como um retrato de gente pobre é pobre e gauche

(Vale a recordação),

Mas sinto-me, ao mesmo tempo seco  cheio de tacto

Como se fosse o seu bordão

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publicado às 17:30


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