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Nunca saberei a resposta da pergunta
que nunca farei.
Não sei.
Não sei por que não a farei!...
A casa em frente das nossas sombras
continua desabitada.
As janelas têm cortinas em teias de aranha
tecidas nas vidraças.
À noite
uma coruja
toma conta do ar frio
e uma luz bruxuleante ilumina as partículas da poeira
que adormecem sobre
os esqueletos do mobiliário.
Murmúrios ouvem-se e
rastejam até aos nossos pés.
Escalam silenciosamente e
com agilidade os nossos corpos e
alojam-se, sem pedir licença, no
interior do ouvido.
É apenas o murmúrio
de alguém que vive só, faz demasiado tempo e
procura um confidente,
um ouvinte.
Mas não o entendemos ou
não o queremos ouvir
que o ouvido já está ocupado com outros rumores
que vêm das folhas inquietas da laranjeira
em cujos ramos bichos de vária natureza se reúnem
todas as noites
para espiar, discutir, especular, intrigar
a coruja.
Mas nada descobrem.
A coruja, apenas cuida da pequena luz bruxuleante
que aquece as várias camadas de pó que
habitam a casa
deitadas sobre o ar horizontal
de todas as coisas
existentes no seu interior.