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OS FILHOS DE EVA
Eva, mulher de Adão, concebeu trinta filhos. Um dia, Ygziabier, Deus-Pai, ordenou a Eva que lhe mostrasse os seus filhos. Eva suspeitou que Deus lhe quisesse comer a descendência e escondeu os seus quinze filhos mais belos e apenas lhe mostrou os outros quinze. Mas Deus, que tudo conhece, soube que Eva escondera parte dos seus filhos, e por isso, como castigo do acto de Eva, amaldiçoou e deserdou aqueles que ela subtraíra à sua presença.
Os quinze filhos escondidos de Eva tornaram-se os Zar, os seres satânicos que habitam invisíveis a terra. Ficaram para sempre invejosos dos seus irmãos protegidos por Deus-Pai, que deram origem a Jesus Cristo e aos antepassados do povo Amhara. Magoados e revoltosos, procuram desde a sua queda vingar-se dos homens mortais.
Texto traduzido por Manuel João Ramos e originário da Etiópia, Amhara, retirado do livro Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro - edição Assírio & Alvim
No lugar sagrado,
na casa feita de aurora,
na casa feita de crepúsculo,
na casa feita de nuvem sombria,
na casa feita de bruma e chuva, de gafanhotos, de pólen,
onde a negra bruma cerra a entrada
-senda aonde o arco-íris leva -
onde os raios rasgam o alto,
ó viril divindade!
Com teus mocassins de nuvens negras, vem até nós,
com calças e camisa e cabeleira de nuvens negras, vem até nós,
com o pensamento envolto em nuvens negras, vem até nós,
com o sombrio trovão por cima, vem voando até nós,
com a nuvem formada aos pés, vem voando até nós,
com a obscuridade formada pela nuvem negra que está sobre a tua cabeça, voando vem até nós,
com os raios cruzados ribombando ao alto sobre a cabeça,
com o arco-íris suspenso ao alto sobre a cabeça, voando vem até nós,
com a obscuridade formada nas asas por nuvens negras,
com a longínqua obscuridade formada na ponta das asas por chuva e bruma, voando vem até nós,
com os raios cruzados, com o arco-íris suspenso ao alto sobre a ponta das asas, voando vem até nós,
com a obscuridade próxima formada por nuvens negras, por chuva e bruma, vem até nós,
com a obscuridade da terra, vem até nós.
Que flutue a espuma à tona da água sobre as raízes do trigo alto.
Em tua honra preparei um fogo que fumega,
em tua honra consumei o sacrifício.
Oh, aquece-me os pés,
aquece-me o corpo, os membros, o espírito, a voz.
Afasta o encantamento, aquece-me, favorece-me, afasta o encantamento.
Arrancaste-o de mim, levaste-o para longe, para longe de mim.
E agora curo-me, recupero a força, recupero a frescura,
a frescura sobe-me à cabeça, a força.
Movo-me com movimentos novos, ouço com ouvidos novos, olho com olhos novos.
Caminho, livre do tormento caminho, com uma luz no coração caminho, felizmente caminho.
Quero abundância de nuvens sombrias,
quero abundância de erva,
abundância de pólen,
abundância de orvalho.
Que venha contigo até aos confins da terra o belo fermento branco,
que venham até aos confins da terra o belo fermento amarelo, o belo fermento azul,
o belo fermento de todas as espécies,
as plantas de todas as espécies,
os bens de todas as espécies,
as jóias de todas as espécies,
que venham contigo até aos confins da terra.
Que venham contigo à frente, atrás, por baixo, por cima, à volta, que venham contigo até aos confins da terra.
Que se consume a obra.
Avanço dentro da beleza,
com a beleza à minha frente, sim, eu avanço,
com a beleza por trás das minhas costas, sim, eu avanço,
com a beleza por cima de mim e à minha volta, sim, eu avanço.
Em plena beleza tudo se consuma, sim, tudo se consuma, sim, eu avanço.
Origem do Poema: América do Norte, Nação dos Navajos.
Versão de Herberto Helder.
Retirado do Livro "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o futuro, edição Assírio & Alvim