Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Inverno. Troco o passo. Atropelo o passo. O braço que não balança.O rosto fechado. Um esgar na boca. Uma pontada entre os olhos. O lenço guardado no bolso, a mão não chega lá empanca em alguma contrariedade.
É quase Primavera, o vento abotoa-me o casaco, afaga-me a alma. Depois das máscaras, quase a Páscoa.
O vermelho é a cor: das opas, do sangue derramado e do vinho...
E o mar já à espreita! É quase Verão...
...Entretanto, homens gigantes na alma e na coragem preparam mais uma faina. Mãos poderosas agarram os remos como se agarrassem a vida, e as mulheres vestidas de negro, o rosário a rolar nos dedos, parecem sentinelas de olhar lacrimoso, corações apertados, atentas aos humores do mar e ao regresso dos homens.
Amam o mar que lhes mata a fome. Odeiam o mar que lhes mata os homens.
O sol levanta-se mais cedo, as noites são mais curtas, o tempo do tempo quente e dos dias descontraídos, dos corpos que se insinuam, corações na areia, o pôr-do-sol que incendeia o mar. Festas, romarias, bailaricos e fogos de artifício anunciam o fim da festa e o fim do verão.
Abro a janela. Uma pequena brisa sacode as folhas cor do fogo, cor da terra que desmaiam silenciosamente ao longo das linhas solares verticais. É o momento da terna melancolia, do silêncio tranquilo, das metamorfoses da natureza.
É o outono que se anuncia suavemente e o começo de um novo ciclo que morrerá noventa dias depois. E de ciclo em ciclo tudo se repetirá.