Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
LUÍS MIGUEL NAVA (1957-1995)
OLHANDO O MURO
E assim ficava olhando o muro. Não atentava então
na claridade em que a casa e a terra a essa hora faleciam,
nos fragmentos vários do horizonte de que a luz fazia
um jogo insuportável. Tão pouco em como a sublevação
das paisagens é matéria da linguagem, tão pouco nisso
ele atentava ao colocar o olhar no muro, outro suporte
procurando, a ele idêntico, no leite à superfície do qual
pequeninos nós de fezes eclodiam, nós que com uma
vara ele agitava e perturbava com fascínio. Metade do
seu rosto entrava pelas paisagens, era prisioneira da
fabulação de que apenas os animais o libertavam contra a
face lhe quebrando imagens fortes - as fezes imiscuindo-se
no muro, a luz uma indecção que alastra pelo leite, a vara
de agitá-lo desviada desse ofício. Estranhos actos cometia
ele então, deles o mais minucioso sendo a introdução de
mínimos calhaus nos intestinos.