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No último declive da montanha, as casas desenhadas no granito equilibram-se em estreitos sucalcos.
Quando se chega mais perto, o espírito funde-se nesta amálgama de cheiros, cores e sons. A cor da terra é triste - há muito tempo deixou de sentir o peso dos passos de homens, mulheres, crianças e do gado.
As casas ainda têm portas. As portas trancam memórias, abafam gemidos; e as janelas pintadas de cor vermelha gritam o vazio da respiração e do afago.
No interior apenas os sopros das sombras que animam - imitando os gestos, as palavras, os silêncios, as mágoas, a ternura, a gargalhada dos ausentes moradores, e o crepitar da lenha no lume da lareira - esta espécie de teatro de marionetes manipulados por sombras, que se tornaram fantasmas por tamanha saudade de vida e de vivos.
Nas vielas desta aldeia sem gente, apenas se ouve o choro manso de um violino, cujas cordas são calcadas pelos dedos do vento.
Nesta paisagem dolorosamente bela, as feridas do abandono, da renúncia e da ausênca jamais cicatrizarão.