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e torna ágil o sentido, e tão longa a vida, na sua demora precipitada:
Por fim, pensei: deixar-me-ei eternamente abalar pelos sofismas dos bens falantes, quando nem sequer estou certo de que as opiniões que apregoam, e que, com tanto ardor, tentam forçar os outros a adoptar, são exactamente as suas? As suas paixões, que regem a sua doutrina, o seu interesse em fazer acreditar nisto ou naquilo, tornam impossível perceber aquilo em que eles próprios acreditam. Será possível procurar boa fé em chefes de partido? A sua filosofia destina-se aos outros; precisava de uma para mim. Procurá-la-ei com todas as minhas forças enquanto ainda é tempo, a fim de adquirir uma regra fixa de conduta para o resto dos meus dias. Eis-me na idade madura, na plenitude do entendimento. Já me vou aproximando do declínio. Se espero mais tempo, já não poderei servir-me de todas as minhas forças nas minhas deliberações tardias; as minhas faculdades intelectuais já terão perdido eficácia, farei menos bem o que hoje posso fazer o melhor possível: o momento é favorável; se chegou a época da minha reforma externa e material, que ela seja também a época da minha reforma intelectual e moral. Fixarei, de uma vez por todas, as opiniões, os princípios, e serei para o resto da minha vida o que achar que devo ser, depois de ter reflectido bem.
[J. J. Rousseau, Os devaneios do caminhante solitário, tradução de Henrique de Barros, Lisboa, 1989, pp. 36-37]
Retirado do livro 'Fragmentos de Píndaro', de Friedrich Holderlin, edição Assírio & Alvim, 2009