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#2881 - Como funciona uma rede de notícias falsas em Portugal

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.10.18

Como funciona uma rede de notícias falsas em Portugal

Este artigo foi escrito por Paulo Pena e foi retirado do jornal on-line Diário de Notícias

 

Vários sites sediados no Canadá alojam fake news sobre a política portuguesa. Depois, vários grupos no Facebook, com milhares de membros, divulgam-nas. O criador desta operação explica-nos porquê.

Há uma série de imagens a circular rapidamente nas redes sociais. Numa delas, Catarina Martins tem um círculo desenhado à volta do pulso e uma caixa no lado esquerdo que explica uma parte da imagem que não se vê - um suposto relógio. Diz a mesma imagem que é um relógio de luxo suíço com o valor de 20,9 milhões de euros. A acusação vem em letras garrafais: "A maior fraude da política portuguesa depois de António Costa." O relógio não se vê, o preço é absurdo. A informação, propriamente dita, é "absolutamente falsa", contrapõe o BE. Mas a imagem teve 875 partilhas só da primeira vez que foi publicada no Facebook.

 

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publicado às 18:11

A gare do caminho-de-ferro do Cairo a Alexandria; A eterna confusão das festas de Suez ; O que é um maquinista nos caminhos-de-ferro egípcios ; O embarque em Alexandria ; Port Said ; A baía em festa ; Iluminações ; Um café cantante em Port Said ; Os pavilhões e os príncipes ; Abd el-Kader ; Mr. Bauer ; Os dois obeliscos de pau da entrada do canal ;Primeiros sustos

 

Sr. Redator

Acedo com a mais perfeita vontade ao seu desejo de ter a história real das festas de Suez. Conto-lhe, porém, simplesmente e descarnadamente, o que me ficou em memória daqueles dias confusos e cheios de factos: tanto mais que as festas de Suez estão para mim entre duas recordações - o Cairo e Jerusalém: estão abafadas, escurecidas por estas duas luminosas e poderosas impressões: estão como pode estar um desenho linear a lápis, entre uma tela resplandecente de Decamps, o pintor do Alcorão, e uma tela mortuária de Delaroche, o pintor do Evangelho.

Talvez em breve eu diga o que é o Cairo e o que é Jerusalém na sua crua e positiva realidade, se Deus consentir que eu escreva o que vi na terra dos seus profetas. Hoje, faço-lhe apenas a narração trivial, o relatório chato das festas de Port Said, Ismailia e Suez.

Tínhamos voltado, eu e o meu companheiro, o conde de Resende, de uma excursão às pirâmides de Gizé, aos templos de Sacara e às ruínas de Mênfis, quando no Cairo soubemos que estavam na baía de Alexandria os navios do quediva que deviam levar-nos a Port Said e Suez.

Vínhamos do sossego do deserto e das ruínas, e logo na gare do Cairo, ao partir para Alexandria, começámos a envolver-nos, bem a custo, naquela confusão irritante que foi o maior elemento de todas as festas de Suez. A previdente penetração da polícia egípcia tinha esquecido que trezentos convidados, ainda que não tenham a corpulência tradicional dos paxás e dos vizires, não podem caber em vinte lugares de vagões, estreitos como bancos de réus. Por isso, em volta das carruagens havia uma multidão tão ávida como no saque de uma cidade.

Jonas Ali, o nosso drogman, um núbio, intrigou, conspirou, clamou e alcançou-nos numa carruagem de segunda classe, miseravelmente desmoronada, dois lugares empoeirados.

Confesso que foi com o maior tédio que comecei a atravessar a magnífica natureza do Delta. Demais, os caminhos-de-ferro egípcios não têm uma velocidade fixa. Vão aos caprichos do maquinista, que, de vez em quando, para a máquina, desce, acende o cachimbo, ri com algum velho conhecimento de estrada, sorve minuciosamente o seu café, torna a subir bocejando, e faz partir distraidamente o trem. Nesse dia, porém, o ar estava nublado, chuvoso; o maquinista levou-nos rapidamente a Alexandria. Na baía esperavam o Marsh, o Fayoum, o Behera, navios do paxá. O embarque fez-se com a confusão habitual, complicada com os embaraços de um mar agitado: os barcos iam cheios de gente; uns de pé, outros sentados na borda, roçando pela água, outros gravemente equilibrados sobre a acumulação pitoresca das bagagens: ria-se, fulminava-se a organização e a polícia das festas, gritava-se um pouco quando os barcos pesados oscilavam mais inquietadoramente. Nós subimos para o Fayoum, que devia levantar ferro nessa tarde, apesar do tempo contrário e dos mares que nós víamos partir de longe na linha de rochedos que precede a baía de Alexandria. E ao outro dia, por uma bela luz da manhã, entrávamos em Port Said por entre os dois grandes molhes que se adiantam paralelamente pelo mar, feitos de poderosos blocos de pedra solta. Port Said é uma cidade improvisada no deserto. É uma cidade de indústria e de operários: isto dá-lhe uma especialidade de fisionomia: estaleiros, forjas, serralharias, armazéns de materiais, aparelhos destilatórios. Tal é Port Said. A sua construção foi determinada pela necessidade de haver um vasto porto, que fosse uma estação de navios, à entrada do canal, e primitivamente, para que engenheiros, maquinistas, diretores de obras, tivessem um centro. Isto dá-lhe um aspeto de cidade provisória. Como havia espaço, as ruas são largas como praças e compridas como avenidas: as casas são baixas, de materiais ligeiros: sente-se a construção rápida e a incerteza da duração. Ali em Port Said, apesar dos seus doze mil habitantes, não há ainda um viver definitivo e regular. Não há estabelecimentos feitos na esperança da duração, não há comércios fixamente estabelecidos: tem tudo o aspeto de uma feira, que hoje ganha e prospera e amanhã se levanta e se dispersa. E isto porque, apesar da confiança de toda a população na prosperidade do canal, nenhuma profissão, nenhum comércio se quer arriscar a estabelecer-se de um modo definitivo, correndo o perigo de ver aquele começo de cidade estiolar-se e morrer miseravelmente. Pois tal seria a sorte de Port Said, bem como de Ismailia, se o canal fosse uma inutilidade, abandonada do comércio e da navegação.

A sua construção ressente-se pois destas circunstâncias: nem edifícios, nem monumentos, nem construções sólidas e sérias: tudo é ligeiro, barato, provisório. A igreja católica é como uma grande barraca: vê-se o céu azul através do seu teto feito de grandes traves mal unidas. Tudo isto dá a Port Said um aspeto triste. No fim das festas, tempo depois, quando ali tornei a passar, em viagem para Jerusalém, pareceu-me pela apatia da vida, pelo silêncio, que o deserto começava de novo a aparecer por entre aquela fraca aparência de cidade.

Mas naquele dia 17, da inauguração, Port Said, cheio de gente, coberto de bandeiras, todo ruidoso dos tiros dos canhões e dos hurras da marinhagem, tendo no seu porto as esquadras da Europa, cheio de flâmulas, de arcos, de flores, de músicas, de cafés improvisados, de barracas de acampamento, de uniformes, tinha um belo e poderoso aspeto de vida. A baía de Port Said estava triunfante. Era o primeiro dia das festas. Estavam ali as esquadras francesas do Levante, a esquadra italiana, os navios suecos, holandeses, alemães e russos, os iates dos príncipes, os vapores egípcios, a frota do paxá, as fragatas espanholas, a Aigle, com a imperatriz, o Mamondeh com o quediva, e navios com todas as amostras de realeza, desde o imperador cristianíssimo Francisco José até ao quediva árabe Abd el-Kader. As salvas faziam o ar sonoro. Em todos os navios, empavesados e cheios de pavilhões, a marinhagem, perfilada nas vergas, saudava com vastos hurras. De todos os tombadilhos vinha o vivo ruído das músicas militares. O azul da baía era riscado em todos os sentidos pelos escaleres, a remos, a vapor, à vela: almirantes com os seus pavilhões, oficialidades todas resplandecentes de uniformes, gordos funcionários turcos afadigados e apopléticos, viajantes com os chapéus cobertos de véus e couffiés, cruzavam-se ruidosamente por entre os grandes navios ancorados; as barcas decrépitas dos árabes, apinhadas de turbantes, abriam as suas largas velas riscadas de azul. Sobre tudo isto o céu do Egito, de uma cor, de uma profundidade infinita. À noite a cidade iluminava-se, enchia-se de músicas, de festas populares. As esquadras tinham as suas armações e cordagens cobertas de fios de luz. Durante toda a noite os fogos-de-artifício, numa grande linha de terra, faziam, sobre o céu escuro, grande bordado luminoso.

Na baía havia um viver completo, como numa cidade: bailes a bordo dos navios, jantares, visitas trocadas, receções, passeios a remo, serenatas nos escaleres. De tudo isto saía uma luz, um ruído, um fluido de vida poderosamente original. Havia em Port Said um café-cantante, memorável pela excentricidade da sua alegria: estava tão cheio de gente, que era necessário fumar, beber, ouvir, de pé, sufocado, hirto. Quando no palco aparecia a atriz para dizer a sua canção, as mil vozes daquela imensa multidão, acompanhadas do tinir cadenciado dos copos, do bater dos pés, dos assobios, dos uivos, dos gritos, começavam repetindo, com estrondo assombroso, a canção conhecida da atriz. Era bestial e extraordinário.

No dia seguinte ao da chegada, descemos todos a terra para a cerimónia da inauguração. Do lado oposto aos molhes, para além da cidade, tinham-se construído três pavilhões, estrados tapetados e blasonados, sobre a areia húmida da espuma do mar. Era nesse lugar a celebração religiosa: os ulemás e os padres cristãos deviam abençoar e consagrar nos seus ritos o canal de Suez. Um grande cortejo de convidados precedido dos príncipes, entre os quais sobressaía a pensativa e bela figura de Abd el-Kader, dirigiu-se para esse lugar, entre duas fileiras de soldados egípcios, de arcos, de bandeiras, e de árabes que abriam grandes olhos. No pavilhão principal, de cores triunfantes, colocavam-se os convidados reais e imperiais e os mais que podiam caber; no outro pavilhão estavam os ulemás maometanos; no terceiro os padres latinos, gregos, arménios e coptas.

Quando tudo estava colocado e o grande rumor da chegada e da confusão se acalmou, os ulemás prostraram-se, voltados para o lado de Meca, os padres cristãos começaram a missa, a artilharia salvou nas esquadras. Entretanto a multidão apinhava-se sobre a areia húmida em volta dos estrados; a grossa figura vermelha do quediva estava radiosa, a imperatriz tinha um ar de compunção discreta, Mr. De Lesseps tinha o seu belo e inteligente sorriso; em redor e até ao fundo horizonte, o mar sereno reluzia. Quando a artilharia findou, Mr. Bauer adiantou-se à beira do estrado e falou. Mr. Bauer é um homem baixo, pálido, de cara feminina e larga, cabelos pendentes em anéis sobre os ombros, asseado, bordado, perfumado, delicado, e com uma voz assombrosa. O que ele dizia eram palavras de fraternidade entre o Oriente e o Ocidente, esperanças de humanidade mais profunda, unida por aquela ligação marítima, palavras afáveis aos convidados reais, e recordações piedosas pelos corajosos trabalhadores, que durante aquela obra de luta morreram obscuramente. Quando ele disse o nome de Mr. De Lesseps, toda a imensa multidão bateu as palmas. Mr. Bauer findou, e o cortejo voltou à praia e dispersou-se pelos navios. Durante toda a noite os fogos-de-artifício, os clamores alegres da cidade, o ruído dos escaleres, as músicas, encheram a baía de vida.

Ao outro dia os navios começaram a mover-se lentamente, voltando a proa para um ponto da baía de Port Said, onde se erguiam, como os dois umbrais de uma porta, dois obeliscos de madeira vermelhos. Era a entrada do canal de Suez. Entretanto corriam por todos os navios estranhos boatos.

 

In "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

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publicado às 10:21


#2691 - Escravatura

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.11.17

 

 

O historiador e romancista João Pedro Marques assina o primeiro volume da nova coleção da editora Guerra & Paz Livros Vermelhos. O tema é polémico e o título tem uma só palavra: Escravatura.

Não acredita que os portugueses se interessem muito pelo tema, pois "no passado isso não aconteceu". Também não está preocupado em desmistificar a participação portuguesa na construção desta forma de explorar o outro: "Foi a que foi e está estudada pelos historiadores, entre os quais eu. A minha intenção ao voltar a escrever sobre o assunto, dirigindo-me desta vez aos leitores em geral, foi a de tentar esclarecer mal-entendidos que aparecem nas ideias e discursos de muitas pessoas."

 

 

AUTOR DA NOTÍCIA:  João Céu e Silva - DIÁRIO DE NOTÍCIAS

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publicado às 10:24


#2679 - Os Loucos da Rua Mazur

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.11.17

 

 

O mais recente Prémio Leya chega hoje às livrarias. Leia aqui o primeiro capítulo do novo romance de João Pinto Coelho.

Chega hoje às livrarias o mais recente Prémio Leya de Literatura, o romance Os Loucos da Rua Mazur, de João Pinto Coelho. O autor, que já tinha sido finalista deste prémio em 2014 com o livro Perguntem a Sarah Gross, regressa ao mesmo tema, o do holocausto e de uma das épocas do século XX mais dramáticas da história da humanidade. O cenário do romance é duplo, passando-se uma parte na atualidade e outra na Polónia, durante a II Guerra Mundial. Recorde-se que o júri presidido por Manuel Alegre escolheu este original entre 400 por ser "bem estruturado, bem escrito, que capta a atenção do leitor, quer pelo tema quer pela construção em tempos paralelos".

Para João Pinto Coelho, a edição que hoje chega aos leitores, menos de um mês depois de ter sido anunciado vencedor, só tem a ganhar por ser fruto do "reconhecimento que resulta da atribuição de um prémio literário com este prestígio, que acaba sempre por contribuir para a visibilidade do romance distinguido". Quanto ao futuro profissional passar pela atividade literária, Pinto Coelho não é por enquanto assim tão entusiasta: "No futuro imediato, não creio. É uma hipótese que poderei colocar, mas apenas quando tiver três ou quatro livros publicados."

Segundo o autor, este livro começou a ser pensado enquanto escrevia o anterior. Daí que admita que o cenário semelhante de ambos se deva à sua perceção sobre a necessidade de voltar a esta época: "Tive sempre a convicção de que havia coisas cruciais sobre a perseguição aos judeus naquele período que não constavam no meu primeiro romance. Além dos alemães, houve outros perpetradores; tem que ver com a universalidade do mal, e tinha de escrever sobre isso ou sobraria a sensação de uma história incompleta."

No que respeita à investigação, João Pinto Coelho voltou aos muitos livros que leu sobre o tema nos últimos trinta anos, não esquecendo os muitos contactos que estabeleceu com historiadores polacos ao longo de diversas visitas à Polónia. Questionado sobre se leu os livros dos seus antecessores premiados, aponta o de João Ricardo Pedro e o de Afonso Reis Cabral: "Dois romances magníficos."

 

Pré-publicação do primeiro capítulo de Os Loucos da Rua Mazur

Por João Pinto Coelho

 

PARIS, 2001

A montra negra da Livraria Thibault era a moldura mais respeitada da Rue de Nevers, um beco desconsolado que se escondia entre as costas de dois quarteirões do Quartier de la Monnaie e que, séculos antes, servira de escoadouro às imundices das irmãs da Penitência de Jesus Cristo. A loja situava-se sob o arco que abria para o Quai de Conti e, para entrar, era necessário bater na vitrina. Isto se ele desse pelo sinal, o que não era garantido. Naquele domingo, o livreiro cego dirigiu-se ao recesso mais escuro da livraria e sentou-se à escrivaninha. O tampo estava vago, apenas papéis dispersos, uma telefonia a pilhas e um rosto num passe-partout, o rosto de Fidelia.

 

 

 

Artigo escrito por João Céu e Silva para o  DN - Diário de Notícias

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publicado às 22:31


#2330 - Rodrigo Guedes de Carvalho com um novo romance

por Carlos Pereira \foleirices, em 28.04.17

"O Pianista de Hotel" é publicado no próximo dia 16 de maio

 

O novo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho, "O Pianista de Hotel", é publicado no próximo dia 16 de maio, anunciou hoje a editora.

O novo romance surge dez anos depois de "Canário", o anterior romance do jornalista, também publicado pelas Publicações Dom Quixote, em 2007.

"Este seu novo trabalho, como o próprio título o indica, transporta-nos numa melodia e abre-nos a porta para um mundo redigido pela linguagem da música, pela sua força e beleza, presentes que estão no ritmo de cada frase e de cada parágrafo, rigorosamente medido", afirma a editora do Grupo LeYa, em comunicado enviado à agência Lusa.

"Com um vasto subtexto, a densidade das personagens está carregada de mistérios que nos prendem a sucessivas interrogações. E há, em cada uma delas, um pouco de nós. Tal como há um pouco de nós, também, neste mergulho ao mais fundo da alma humana.", acrescenta a editora

"É um romance que se lê e que se ouve e que mantém, por isso, todos os sentidos alerta. Uma pauta musical, com andamentos diversos, que acabam por se cruzar numa vertigem imprevisível de autêntico 'thriller' psicológico. E depois, bom, e depois há o pianista...", remata a mesma fonte.

Rodrigo Guedes de Carvalho nasceu há 53 anos no Porto, tendo-se estreado na ficção em 1992 com "Daqui a Nada", com o qual venceu o Prémio Jovens Talentos da ONU, e ao qual se seguiram "A Casa Quieta" (2005), "Mulher em Branco" (2006) e "Canário" (2007).

O jornalista é também autor dos argumentos cinematográficos de "Coisa Ruim" (2006), realizado por Tiago Guedes e Frederico Serra, de "Entre os Dedos" (2009), dos mesmos realizadores, e assinou a peça de teatro "Os Pés no Arame", estreada em 2002, que voltou à cena, com nova encenação, no ano passado.

 

FONTE: DIÁRIO DE NOTÍCIAS ONLINE

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publicado às 20:19

Que surpresa nos vai trazer a religião de Khalid Masood? Sem qualquer pista, por enquanto, aguardemos

Na manhã de ontem, a primeira-ministra britânica Theresa May forneceu alguns dados sobre o autor do atentado da véspera, em Westminster, na vizinhança do Parlamento. May disse que ele era "britânico de nascimento" e tinha sido investigado há alguns anos por extremismo violento, pelo MI-5 (as secretas para a segurança interna). E ela acrescentou que o terrorista não estava atualmente sujeito ao radar das polícias. O jornal The Guardian confirmou esta informação: o homem não estava entre os 800 indivíduos do núcleo duro que a polícia seguia, nem tão-pouco do círculo mais largo de três mil suspeitos. Entre todas estas especificações talvez nenhuma fosse mais reveladora do que esse "britânico de nascimento", que a primeira-ministra se achou obrigada a dar.

Horas antes da declaração de May, tinha sido lançada uma campanha de Nigel Farage contra a política laxista nas fronteiras, permitindo que os terroristas as atravessem ao deus-dará - como o atentado, dizia ele, demonstrava. No ano passado, já Farage e o seu partido, o UKIP, levaram o primeiro-ministro David Cameron a convocar o referendo do brexit. Era uma manobra para mostrar que os nacionalistas extremistas, que andavam a mordiscar o eleitorado conservador, não tinham tanta força como se supunha... Mas o brexit venceu, Cameron mordeu o pó e demitiu-se. A sua sucessora, Theresa May, preferiu não menorizar o poder de Farage e apressou-se a combater a ideia que ele fazia passar. O homem do atentado era bem um britânico feito em casa, não um terrorista importado!

 

 

 

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publicado às 11:37

 Notícia retirada do Jornal on-line DIÁRIO DE NOTÍCIAS

 

 

Este tipo de intervenção "tem ainda a vantagem de diminuir a exposição do doente ao ambiente hospitalar e de reduzir os inerentes custos do SNS com essa estadia", de acordo com Miguel Paiva

O Centro Hospitalar  de Entre Douro e Vouga (CHEDV) revelou esta sexta-feira ter realizado com sucesso as primeiras cirurgias endoscópicas a hérnias discais pelo Serviço Nacional de Saúde, num procedimento menos invasivo, com agressão mínima e mais fácil recuperação.

Em causa estão quatro discectomias (excisão parcial ou total de um disco intervertebral herniado) lombares totalmente endoscópicas, realizadas em Santa Maria da Feira pelo Serviço de Ortopedia e Unidade de Coluna do Hospital São Sebastião, que é um dos três sob administração do CHEDV.

"O Hospital São Sebastião é o primeiro hospital público do país a realizar esta cirurgia inovadora que, sendo muito menos invasiva do que uma intervenção convencional aberta, representa maior conforto para o doente e menos tempo de internamento pós-cirúrgico", declarou à Lusa Miguel Paiva, presidente do conselho de administração do CHEDV.

 

 

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publicado às 19:27

Entrevista da responsabilidade de João Céu e Silva - Jornal Diário de Notícias

 

O historiador britânico Timothy Garton Ash critica os algoritmos pouco éticos das super poderosas Google, Facebook, Amazon e Apple na manipulação da verdade dos acontecimentos mundiais.

O historiador britânico e analista Timothy Garton Ash acaba de publicar em Portugal a sua mais recente investigação: A liberdade de expressão - Dez princípios para um mundo interligado. Um livro em que continua o debate sobre a dificuldade de o cidadão se emancipar de algoritmos pouco éticos da Google, Facebook, Amazon ou Apple quando quer formar uma opinião isenta sobre os acontecimentos mundiais. Um debate que já mantém num site em que a língua portuguesa é uma das treze usadas

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Resume a atualidade marcada pela Internet logo à primeira frase do livro: "Agora somos todos vizinhos." É uma bênção ou uma maldição?

As duas. A Internet foi um tremendo ganho para a liberdade de expressão e de comunicação em todo o mundo e um momento nunca antes verificado na História do Homem. Mas é preciso ponderar que poder comunicar-se através dos smarthphones que estão no bolso de cada um é também um perigo pois convive-se com ameaças de morte, assédio e discursos alucinados. Como escrevo no livro, a Internet é o maior esgoto da história mundial, daí que a questão fundamental que quis analisar seja a de como maximizar a oportunidade e de minimizar os riscos.

 

 

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publicado às 17:48

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Podiam ser apocalípticos, mas deixaram isso para a geração anterior, a individualista, sombria e hedonista X. Cresceram com a internet, levaram com a crise financeira de 2008 em cheio nas expectativas e logo a seguir com a do euro. Tanto os dizem hipernarcisistas como mais gregários, conformados ou empreendedores, apolíticos ou ativistas, alheados ou otimistas, os mais "bem preparados de sempre" ou os mais pretensiosos. Quem são afinal os milénicos?

"A minha geração". É o nome de uma célebre canção que começa assim: "As pessoas tentam fazer-nos sentir mal / Falando da minha geração / Só porque andamos por aí / Falando da minha geração / Espero morrer antes de ficar velho/ Falando da minha geração."

A canção tem 46 anos. O homem que a escreveu, Pete Townshend, da banda britânica The Who, tem mais de 70; não morreu antes de ficar velho. É talvez uma forma estranha de começar um texto sobre uma geração com idade para ser neta dele. Ou não: talvez seja preciso lembrar que todas as pessoas a dada altura foram a "nova geração". Todas sentiram que aquilo que sentiam era iniciático, que vinham para mudar alguma coisa. Ou tudo. E que quem já cá estava não percebia, não podia perceber. Precisamos disso - de sentir que somos parte de uma mudança. Que somos a novidade, a estrear.

"Sentimos que tudo nos é devido"

Como Inês Herédia, de 27 anos, que fez um vídeo a falar disso - da sua geração. "Tinha ido para Londres estudar teatro entre 2012 e 2014 e quando voltei, depois de uma breve experiência com La Féria e de, por ser um pouco mais gordinha, apesar de vir de um dos melhores cursos de atores do mundo não ter sorte nenhuma nas audições, decidi procurar trabalho na área da consultoria, na qual se usa muito a criatividade. E pensei fazer um vídeo de apresentação para responder à pergunta que nos fazem nas entrevistas de emprego: porquê tu, porque te havemos de contratar a ti?"

Contra um fundo cinza, uma Inês deolhos no alvo e num inglês de impecável sotaque british traça um breve retrato das pessoas da sua idade que frisa a importância da tecnologia digital: "Sabem porque dizem que somos a geração mais criativa de sempre? Porque os nossos cérebros veem o que a internet vê. Não veem limites. Estamos neste mundo de abundância e com acesso a tudo, sedentos de conhecimento. Aceitamos as diferenças e somos especialistas em marketing. E fazemos tudo isto muito mais depressa que qualquer geração antes de nós. Temos uma perceção holística do mundo, somos esponjas a beber de tudo . (...) Isto é a minha geração. Não nos contentamos com o fácil. Estamos cá para fazer a diferença."

Não por acaso, houve quem quisesse crismá-la de igeração - não pegou, porém. Começaram por denominá-la de Y (a letra do alfabeto que se segue ao X, de Geração X, d"après o célebre livro-retrato de Douglas Coupland) mas foi "millennials", de milénio, que pegou. A respetiva definição temporal, variando bastante (ver texto nestas páginas), inclui seguramente os nascidos entre 1980 e 2000, como é o caso de Inês, e a ligação com a tecnologia digital e este mundo sem fronteiras, fluído e simultaneamente infinito e mais finito (porque mais abarcável, mais alcançável) que a internet criou é sem dúvida a característica mais distintiva. Com tudo o que isso traz de bem mas também de menos bom.

"Porque há o reverso", diz Inês, que mandou tatuar nas costas "the book of disquiet" (O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa/Bernardo Soares). "A minha geração tem imensos defeitos. Não se consegue concentrar, hoje quer uma coisa amanhã outra. Acho que vem precisamente de termos acesso a tantas opções. E com o facto de termos crescido com a ideia de que vais conseguir fazer tudo aquilo que quiseres. Há um sentimento de entitlement: de que temos direito, merecemos, tudo nos é devido. Muitos amigos meus têm as mesmas oportunidades que eu e esperam que lhes caiam as coisas no colo. Ou trabalham duas horas e ficam cansados."

Mais uma vez, Inês menciona algo que surge muito frequentemente nas caracterizações desta geração - vamos chamar-lhes milénicos - como um dos seus traços mais negativos: a ideia de merecimento automático, a expectativa de sucesso instantâneo, o não lidar bem com a frustração e com tarefas maçadoras, horários e obrigações. Assevera-se por exemplo a dificuldade de manter funcionários desta geração - estão sempre à procura de um sítio melhor, da coisa que vai mesmo interessar-lhes, fazê-los felizes. Aspetos que podem ser associados a mimalhos - há muito a ideia de que a "culpa" é dos pais, que os apaparicaram demasiado e lhes deram demasiada auto-confiança.

"Vivemos vidas editadas"

Filipa Neto, 26 anos, vê outras explicações. "Acho que precisamos de mais propósito do que a geração dos nossos pais. Pensamos numa missão."

 

Reportagem de Fernanda Câncio publicada em 18 de Fevereiro no jornal "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

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publicado às 20:11


#2163 - "Trump tem o vocabulário de uma criança de 6 anos"

por Carlos Pereira \foleirices, em 15.02.17

Peter Kuznick, professor de História na Universidade Americana em Washington

 

Para Peter Kuznick, professor de História na Universidade Americana em Washington, "as coisas parecem bem encaminhadas" para um impeachment a Trump. Kuznick é especialista em temas nucleares e autor do livro "A História não Contada dos Estados Unidos", escrito com o realizador Oliver Stone e editado em Portugal pela Vogais.

Está assustado com a presidência de Donald Trump?

Aterrorizado. A ameaça mais imediata vem das políticas nucleares. Basta pensar que uma guerra muito limitada, por hipótese entre a Índia e o Paquistão, em que explodissem cem bombas equivalentes à de Hiroxima, seria suficiente para causar dois mil milhões de mortos, uma queda abrupta das temperaturas e doenças pelo menos durante uma década. Imagine-se o que poderia acontecer se fosse usada apenas uma fração das cerca de 15 mil armas muito mais potentes. Trump disse durante a campanha que responderia a um ataque terrorista com armas nucleares, já ameaçou rasgar o acordo com o Irão e os seus conselheiros em matéria de política externa são assustadores. Rodeou-se de um bando de islamofóbicos.

Já se fizeram muitas comparações entre Hitler e Trump. É exagero?

Apesar de muitas semelhanças, Trump ainda não é um Hitler, nem nós deixaremos que ele se torne num. Ele apela às piores tendências que existem na sociedade, tem posições muitos hostis em relação aos muçulmanos e não lhe corre no sangue um pingo de bondade ou de generosidade humana. Mas ainda não vimos aquele ódio cego que poderia levar a uma loucura genocida como no caso de Hitler. Um sinal preocupante, porém, é o desprezo que mostra pela verdade. Não é um nazi, mas não tenho dúvidas de que um homem como Trump seria um nazi na Alemanha dos anos 30.

Tem esperança de que o Partido Republicano funcione como travão à loucura de Trump durante os próximos quatro anos?

Não, porque quem o criou foi o Partido Republicano. Trump é um produto de anos e anos de posições republicanas que apelam ao pior da sociedade americana: ao ódio, preconceito, medo, racismo, à misoginia. Trump vai apenas um bocadinho mais longe do que é o republicano médio dos dias de hoje. Os extremistas do Tea Party acabaram com os republicanos moderados. A única esperança, ainda que ténue, é que os menos extremistas dos extremistas percebam que Trump não é bom para o partido e que ficariam melhor com Mike Pence.

O ano de 2017 marca o 25.º aniversário do fim da Guerra Fria. Como vê a relação EUA-Rússia? Podemos falar de um antes e um depois de Vladimir Putin?

Nos tempos de Boris Ieltsin a relação Washington-Moscovo foi uma maravilha para a classe dirigente norte-americana, mas revelou-se um desastre para a Rússia. Ieltsin aceitou tudo o que os EUA queriam. O resultado foi a economia russa a encolher. Até a esperança média de vida caiu dos 66 para os 57 anos. O escritor Alexander Soljenítsin, depois de ter estado exilado durante duas décadas, voltou à Rússia e descreveu a situação em 2000: "Os setores fundamentais do Estado foram destruídos ou saqueados. Vivemos entre ruínas. As falsas reformas deixaram ainda mais pessoas na pobreza." Este foi o momento em que a NATO começou a expandir-se para leste - apesar de Bush ter prometido a Gorbachev de que isso não aconteceria se a Rússia viabilizasse a reunificação alemã.

E com Vladimir Putin?

No início, Putin teve um comportamento amistoso para com os EUA. Mas aos poucos, à medida que a NATO continuou a expandir-se até às portas da Rússia, a relação com Bush filho azedou. Barack Obama prometeu recomeçar do zero, mas continuou a seguir as políticas que eram vistas por Putin como uma ameaça para a segurança nacional russa, incluindo o envio de armamento para o espaço, a expansão da NATO, o envio de tropas para o Báltico, a Ucrânia, as sanções... Apesar de ter havido uma colaboração positiva em casos como o acordo nuclear com o Irão, as relações deterioraram-se a um ponto em que começou a falar-se numa "nova Guerra Fria". Em 2016 a situação era de facto perigosa. EUA e Rússia estiveram mais perto da guerra do que em qualquer momento desde 1962.

Com Trump passámos da nova guerra fria ao amor quente?

No último ano fui várias vezes à Rússia. Foi preocupante perceber que os meus colegas russos preferiam Trump a Hillary Clinton. Não sou um fã de Clinton, mas tentei explicar-lhes que ela seria sempre preferível a um louco imprudente, intolerante, ignorante, narcisista e impulsivo. A única coisa que Trump fez até agora como presidente que me deixa um bocadinho de esperança foi o telefonema com Putin. É bom que tenha conseguido reduzir as tensões. Mas o facto de neste momento estar a ser amigável para com a Rússia não significa que seja assim amanhã. Um homem que perde as estribeiras se for provocado no Twitter não devia jamais ter acesso aos códigos nucleares.

É uma questão de tempo até que as coisas amarguem?

Trump é um homem cheio de ódio e preconceituoso. E rodeou-se de pessoas da mesma laia. Creio que as relações vão azedar muito depressa.

Trump estará a começar uma nova guerra fria com a China?

Infelizmente, parece que sim. Mas também nesta questão a sua política pode mudar amanhã.

Quão plausível é um impeachment a Trump?

As coisas parecem bem encaminhadas. Até no próprio partido há muita gente a perder a cabeça. Trump tem a maturidade emocional de uma criança de 4 anos, o vocabulário de uma de 6 e é incapaz de pensar um problema complexo. Tem tanta propensão para os escândalos que dá aos opositores corda mais do que suficiente para que o enforquem.

Os conflitos de interesses...

Estão por todo o lado. Recusa publicar as declarações de impostos e passou os negócios para as mãos dos idiotas dos filhos. Há vários processos a correr contra ele e convém não esquecer que uma dúzia de mulheres apareceu durante a campanha a acusá-lo de assédio. O país está mobilizado contra ele. Desde os movimentos contra a Guerra do Vietname nos anos 1960 que não assistíamos a este nível de mobilização política. Muitos republicanos preferiam ver Mike Pence [atual vice-presidente] no lugar de Trump. Não terá a mesma pompa e circunstância, mas é um herói dos fanáticos cristãos da ala mais à direita do partido.

 

Entrevista publicada no DIÁRIO DE NOTÍCIAS ON-LINE  por José Fialho Gouveia

 

 

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publicado às 14:20

"Não me ocorreu dizer mais nada." É a última frase dos três espessos volumes que reúnem em 2795 páginas várias centenas de textos dispersos de Agustina Bessa-Luís que a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta hoje no Porto, numa sessão na Fundação Serralves.

Com recolha e organização da neta da autora, Lourença Baldaque, Ensaios e Artigos (1951-2007) permite a radiografia completa do seu pensamento sobre quase tudo, sendo muito curiosa a recordação das opiniões políticas no pós-25 de Abril, bem como os comentários sobre alguns ícones da música popular, Madonna e Bob Dylan (parcialmente reproduzido abaixo). Mas é a sua rudeza ou sedução nos comentários sobre os seus pares escritores que geram mais polémica, já que Agustina não se proíbe de dizer o que realmente pensa sobre a Literatura. Leia algumas partes no A a Z literário que se segue.

Agustina: "Decorre a apresentação do livro de Cavaco Silva no salão nobre [do Centro Cultural de Belém], e os carros pretos dos ministérios sobem a rampa com uma lentidão consular. (...) Freitas do Amaral acaba também de escrever um livro e é saudado triunfalmente. Eu escrevi cinquenta e não me prestam tanta atenção. Pelo que fico, por um momento, desencorajada." (1994)

Bob Dylan: "A multidão serve-se dos mitos no grande banquete frio de ideias feitas. A ideia romântica e a ideia triunfal, a ideia extradoméstica. Mas os anos 60 passaram. No seu rochedo sobre o mar, Bob Dylan está só. (...) Um tipo domesticado, como todos os velhos dizem. O seu lado espiritual deixa-o na sombra. O seu motivo cavalheiresco torna-o solitário." (1987)

Camilo Castelo Branco: "Um homem dotado para a vida é um homem angustiado; ele sabe que quanto mais o seu génio progride e se expande, mais cria para si próprio condições de invulgar desastre. (1964) " Tanto temia Camilo o punho da sociedade para quem escrevia e que, afinal, não era persistente na crueldade nem obstinada na estupidez. (...) Na verdade, não sei que lhe deu a Camilo para escrever este romance (A Enjeitada) a não ser o desprezo pela sua atividade face a um público que lhe exigia emoções calculadas, e para quem o melodramático se confunde com o sério." (1980)

Dostoievski: "Não há melhor maneira de perceber a intimidade de Dostoievski senão fazendo da sua obra uma Bíblia, pegando nela à boa maneira russa e deixando que se abram as folhas do destino, ao acaso, no encontro desse romântico calor e realidade profunda que foram seus dons. Como eu faço agora, detendo-me num parágrafo de Niétochka, um dos seus primeiros ensaios da longa novela, escrita na prisão e que tem por inteiro o estremecimento da aspiração frustrada do amor humano." (1981)

Éxito: "O êxito dos romances de Lawrence Durrell pode corresponder a uma fraqueza da personalidade, é natural que corresponda a uma fraqueza da personalidade de todos nós." (1965)

Fellini: "O que Fellini chama inocência é a libertação do aborrecimento. É o riso, o prazer, a espontaneidade inglória mas eficaz, e coisas assim. (...) Mas não é inocência. A inocência é o insulto que o amor aprova. E, como o amor, é rara. O que Fellini chama inocência é a libertação do aborrecimento. É o riso, o prazer, a espontaneidade." (1973)

Goethe: "O "eterno feminino", com que Goethe termina o segundo Fausto, é um aditamento à insuficiência humana com que todos os trabalhos e ideias se defrontam. Se a mulher assumisse o Poder, com todas as suas objetas funções o homem fica muito inexpressivo e o seu sentido da divindade perde-se."

Henry Miller: "Vejamos o caso de Henry Miller, que conta já mais de oitenta primaveras e diz fluentemente as mesmas coisas que um moço de vinte primaveras comenta por conta própria, ainda que de maneira mais ingrata e verde. Ambos se encontram no mesmo ponto: viver não é conhecer a vida." (1973)

Inspiração: "Escrever uma página inspirada não acontece todos os dias. Às vezes movemos o pensamento pelos atribulados caminhos do doméstico, que corrompem a subtileza e a graça; outras vezes pomos na cabeça o nosso gorro sábio, e resulta uma enfadonha tabuada de sentimentos." (1966)

José Régio: "É cedo ainda para que eu fale do Régio. Vejo-o ainda de desvelada maneira, "quieto no seu canto", porque a poesia é incomunicável. O que víamos era talvez uma dinâmica infeliz e um deserto de orgulho crucificado." (1970)

Kafka: "As criaturas isoladas, diamantinas, como Kafka, simulam toda a vida uma coragem normal de relações, contactos, até amores perdoáveis. Mas ficam sempre naquela terra hostil onde se murmura; nas selvas negras de Brecht onde se murmura: "Nós não pudemos ser amáveis... recordai-nos com indulgência." (1968)

Lobo Antunes. "Se me dissessem, há um tempo atrás, que eu haveria de fazer a apresentação dum livro de Lobo Antunes, e um livro chamado Tratado das paixões da alma, eu não teria levado a sério. (...) Das leituras que fiz algo de fundamental: que não se tratava de um carreirista das letras nem jovem zangado, como foi moda apelidar os snobs inteligentes. Tratava-se muito simplesmente dum homem em más relações com a justiça dos homens. A até com a injustiça deles." (1990)

Mecenas: "A cultura não é custear espetáculos. A cultura não se elabora, vive de uma filtragem moral e sentimental da sociedade que a produz. Não é obra de empresários nem de mecenas. Não é programa de Estado." (1977)

Namora: "Com o livro de Fernando Namora, URSS Mal amada bem amada, dá-se um caso de protocolo sem boa construção. Se percorremos um país estranho, há que em ter em conta o que é realmente degradação e costume. (...) O livro de Namora é um roteiro em que a imparcialidade não nos comove, simplesmente porque ela não interessa a ninguém. Namora escreve com certa usura de emoções. Sempre foi assim, ou descobre um registo mais profundo ao ficar fora da sua própria identidade?" (1986)

Odisseia: "Há uma teoria quanto ao autor da Odisseia que atribui a uma siciliana a obra imortal de Homero. Essa atrevida opinião funda-se em traços psicológicos, que não são para desprezar. Por exemplo, o grande conhecimento da vida doméstica demonstrado pela primeira Nausica, em contraste com a sua ignorância a respeito de navegação e os trabalhos pastoris." (1992)

Público: "O que acorre a esta conferência (...) é gente nova quase toda, dita das Artes, e que se preocupa extraordinariamente com a moldagem da sua personalidade." (1960)

Quadro: "O retrato presidencial de Jorge Sampaio é um retrato à margem do retratado. Paula Rego tem dificuldades em pintar pessoas. Desenha-as mas não as inventa, não as estuda, não reage com elas a isto que se chama o mundo. O retrato do Presidente Mário Soares, que confiou num amigo para o fazer, obedece a um absurdo lógico. Parte do conhecimento da sua personalidade, arrebatada e impaciente, para exprimir o lado facecioso dum temperamento. Não trai, apenas se destina a círculo dos amigos e nem sequer à roda da família." (2006)

Romance: "O romance é ainda um "jogo de palavras" e não corresponde, mesmo quando obtém grande sucesso, à exigência do homem. Porque, para lá dos seus intuitos de diversão ou aventura, talvez pressinta o pequeno campo de imagens do romance como coisa que não deve ser tomada a sério." (1963)

Salman Rushdie: "Não se podem ler os livros sagrados dando-lhes um significado panfletário. (...) Gibreel , o homem armado, personagem de Versículos Satânicos, de Salman Rushdie, achava que a fé era como uma doença, e que havia de voltar sempre. Por isso preferiu puxar o gatilho e libertar-se da infância da sua credulidade e dos génios de outrora." (1991)

Timidez: "A mulher tímida encontra o sucesso ao pé da porta, e foi nessa nota que os empresários de Marilyn se garantiram. Mas é muito raro que as mulheres sejam tímidas. Para isso têm que possuir um elevado sentido metafísico, sem o qual a timidez é apenas insuficiência mental. Quando Greta Garbo diz: "Tive hoje uma grande discussão com Deus", está explicado o teor da sua beleza e fascinação."(1992)

Uso: "Os usos estéticos da língua portuguesa começam notoriamente nos cronistas do século XIV, com Fernão Lopes. Até então, a prosa escrita destinava-se a atos de doação e testamentos e ao registo de propriedades. A redação desses papeis era confiada ao tabelião ou secretário régio, que não punham empenho na elegância da língua, mal socorrida por um latim bárbaro e menos que vulgar." (2005)

Vinha do Douro: "De maneira muito inesperada, indo ao Douro onde ainda há uma casa de família meio entregue a fantasmas competentes e que não pomos em dúvida, encontrei-me com Madame Bovary ali ao lado. Filmava-se um mortório, e as jovens do lugar, vestidas de preto, rodeavam o caixão da Dona Augusta, que era a Laura Soveral muito engripada. É estranho essa encarnação em figuras que os não inspiram. (...) E se eu tivesse melhor caneta, mais diria. Mas acaba-se aqui a tinta; não o canto que faltou a Camões, porque nesse tempo vinho de cheiro não havia."

Wilhelm Reich: "Há muito tempo que não lia Wilhelm Reich. No meio de muitas ideias mal sucedidas, de muitos absurdos concubinatos com a verdade, Reich mantém algo de surpreendente no seu discurso. A linguagem é, às vezes, delirante, outras vezes profética. Decerto comoveu muitos psiquiatras com veia revolucionária. Recorrem a Reich como a um precursor no âmbito das informações genitais, mas ignoram a teoria do novo líder." (1992)

Xenófanes: "A ignorância do magistério que determina a obra de Xenófanes não basta para o tomarmos como autodidata. Quer aprendesse nos livros ou nas palavras dos mestres, ele foi poeta e admite-se que foi professor de Parménides. Xenófanes dizia que a verdade não é para ser divulgada, porque as imagens da opinião ou do senso comum são historicamente mais fortes do que a justiça da verdade ou a verdade da justiça." (1995)

Yourcenar: "Antes de tudo, posto que para Filipe La Féria o cenário antecipa o teatro e é o seu porta-voz, a cova de Electra, aos nossos pés. (...) Mas o drama não está lá. O estudo dos atores não foi fecundo. Os atores estão vestidos como se fossem hunos e não gregos. Eu penso que a peça de [Marguerite] Yourcenar é débil, muito perto de um drama burguês, com um tempero de psicanálise que nos fatiga e nos dececiona." (1987)

Zarco: "Há um monumento a Gonçalves Zarco, mas não exige que os corredores de fundo da História parem diante dele, esperando indicações preciosas para poderem prosseguir. (...) Chegada à Madeira, depois de duas ou três conversas com jornalistas, apercebi-me de que eles sabiam mais de mim do que eui própria. Sabiam quem me estima e que me detesta, facto que parece bizarro se o tornarmos público aqui. Isto quer dizer que a ilha exerce um poder desinibidor e que lá o sintoma de identidade não é visto da mesma maneira." (1995)

 

NOTÍCIA RETIRADA DO JORNAL ON-LINE "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" , ESCRITA POR João Céu e Silva

 

 

 

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publicado às 16:51


#2116 - Prémio Pessoa 2016

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.12.16

 FERDERICO LOURENÇO

 

 

Professor universitário, Frederico Lourenço, conhecido como o tradutor da Bíblia e dos grandes clássicos gregos, foi escolha do júri

Reunido em Seteais, o Júri do Prémio Pessoa 2016, constituído por Francisco Pinto Balsemão (presidente), António Domingues (vice-presidente), António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Maria de Sousa, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião e Viriato Soromenho-Marques, decidiu atribuir o Prémio Pessoa 2016 a Frederico Lourenço.

Frederico Lourenço nasceu em Lisboa, em 1963. Obteve a sua Licenciatura e o seu Doutoramento em Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa, tendo lecionado também nessa Universidade, entre 1988 e 2009, antes de assumir o lugar de professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

O seu percurso profissional e criativo, assinalado pela significativa e abundante bibliografia, é caracterizado pela variedade de interesses e realizações que incluem, para além da centralidade dos estudos clássicos, a música, o romance, a poesia, o teatro, o ensaio, os estudos bizantinos, a germanística e a história da dança. O traço mais singular da sua atividade reside no modo como, ao longo de quase duas décadas, Frederico Lourenço tem vindo a oferecer à língua portuguesa as grandes obras da literatura clássica. Através de um trabalho metódico, revelador de uma ambição servida por rara erudição, Frederico Lourenço traduziu, com rigor, as obras fundamentais de Homero, a Ilíada e a Odisseia, bem como duas tragédias de Eurípedes, Hipólito e Íon. O desejo de disseminar a grande cultura clássica junto do público manifestou-se também na adaptação para jovens das referidas obras de Homero.

Em 2016, Frederico Lourenço publicou o primeiro volume, de um total de seis, do seu mais recente e ambicioso projeto, que se estenderá até 2020: a tradução integral da Bíblia para português a partir das fontes gregas, e respeitando elevados critérios de integração contextual, histórica e linguística, deste livro maior de ressonância universal em toda a história humana.

 

In "Diário de Notícias"

 

 

 

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publicado às 21:51

Investigação revela como são escondidas fortunas através de offshores, bancos e empresas fictícias. Putin é dos nomes citados

Uma gigante fuga de informação - 11,5 milhões de ficheiros - revela como chefes de Estado, políticos, criminosos, celebridades, multimilionários e estrelas do desporto usam paraísos fiscais (offshores) para "lavar dinheiro", esconder património e fugir aos impostos.

 

In "Diário de Notícias"

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publicado às 21:55


#1929 - Um livro ilustrado português entre os 100 melhores de sempre

por Carlos Pereira \foleirices, em 06.04.15

lustração de Bernardo Carvalho para 'Praia Mar' Fotografia © Direitos reservados

 

Segundo o especialista Martin Salisbury, há um título português entre os 100 "grandes livros ilustrados para crianças": 'Praia Mar', de Bernardo Carvalho, editado pela Planeta Tangerina.

Os títulos foram escolhidos pelo colecionador Martin Salisbury, que é professor de ilustração na Cambridge School of Art, no Reino Unido, e que publicou agora o livro100 Great Children's Picture Book onde faz uma seleção dos melhores livros ilustrados para crianças publicados entre 1922 e 2011. Segundo explicou o autor The Guardian esta é uma lista subjetiva, e inclui títulos tão diferentes como Goggles, de Ezra Jack Keats (Nova Iorque, 1969) ou Kem Byt? (título em russo que se poderá traduzir por: O que é que vou ser?) de Vladimir Mayakovksy e ilustrações de Nisson Abramovich Shifrin (1931).

Um dos 100 livros elencados é português: Praia Mar, de Bernardo Carvalho, editado em 2011, é um livro só com imagens. Segundo Martin Salisbury, "a editora portuguesa Planeta Tangerina é uma das mais inovadoras que surgiu nos últimos anos. Os seus livros são conhecidos em todo o mundo. Praia Mar começou por ser uma edição de autor, para a família e os amigos, com uma introdução de Carvalho explicando a sua relação com a praia e o mar."

 

Notícia retirada do Jornal "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

 

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publicado às 19:01


#1926 - Morreu o poeta sueco Tomas Transtromer

por Carlos Pereira \foleirices, em 28.03.15

O poeta sueco Tomas Tranströmer, Prémio Nobel da Literatura em 2011, morreu esta quinta-feira. Tinha 83 anos.

Tranströmer nasceu em 1931, em Estocolmo. Os seus poemas estão traduzidos em 30 línguas, incluindo português.

O autor tinha dificuldades em falar desde que em 1990 sofreu uma apoplexia e recebeu o prémio em 2011 numa cadeira de rodas. Ganhou na casa do prémio Nobel, algo que não acontecia desde 1974 quando Eyvind Johnson e Harry Martinson foram laureados.

Vasco Graça Moura traduziu o seu poema chamado "Lisboa":

 In

 

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publicado às 23:01


#1922 - Invocar o nome de Deus para justificar a barbárie

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.03.15

Advogado quer legalizar execução de gays com tiro na cabeça

 

"Qualquer pessoa que voluntariamente toque noutra pessoa do mesmo sexo para fins de gratificação sexual deve ser morta com balas na cabeça ou por qualquer outro método conveniente", defende.

Lei da Supressão Sodomita. É assim que se chama a proposta de lei apresentada pelo advogado norte-americano Matthew Gregory McLaughlin e que inclui sete medidas contra aqueles que se envolvem em sodomia homossexual, que define como "um mal monstruoso que Deus todo-poderoso, que dá liberdade e independência, nos ordena a suprimir sob pena de nos destruir".

 

Ler o resto aqui

 

In "Diário de Notícias on line"

 

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publicado às 16:15


#1844 - As leis fundamentais da estupidez humana

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.04.13

Anselmo Borges

 

 

Este - "as leis fundamentais da estupidez humana" - é o título de um livrinho famoso, publicado há muitos anos, mas sempre actual. Apareceu em inglês, depois em italiano. Acabo de lê-lo em francês. O seu autor, Carlo M. Cipolla (1922-2000), historiador da economia, foi professor na Universidade de Berkeley e na Escola Normal Superior de Pisa.

 

Para estabelecer as leis fundamentais da estupidez, é preciso, primeiro, definir quem é o estúpido. Para isso, ajudará a comparação com outros tipos de gente. Diz o autor que, quando temos um indivíduo que faz algo que nos causa uma perda, mas lhe traz um ganho a ele, estamos a lidar com um bandido. Se alguém realiza uma acção que lhe causa uma perda a ele e um ganho a nós, temos um imbecil. Quando alguém age de tal maneira que todos os interessados são beneficiados, estamos em presença de uma pessoa inteligente. Ora, o nosso quotidiano está cheio de incidentes que nos fazem "perder dinheiro, e/ou tempo, e/ou energia, e/ou o nosso apetite, a nossa alegria e a nossa saúde", por causa de uma criatura ridícula que "nada tem a ganhar e que realmente nada ganha em causar-nos embaraços, dificuldades e mal". Ninguém percebe por que razão alguém procede assim. "Na verdade, não há explicação ou, melhor, há só uma explicação: o indivíduo em questão é estúpido."

 

Lá está a primeira lei: "Cada um subestima sempre inevitavelmente o número de indivíduos estúpidos que existem no mundo." Já a Bíblia constata: "Stultorum infinitus est numerus" (o seu número é infinito) - evidentemente, sendo o número das pessoas finito, trata-se de um exagero.

 

Os estúpidos estão em todos os grupos, pois "a probabilidade de tal indivíduo ser estúpido é independente de todas as outras características desse indivíduo": segunda lei.

 

A terceira lei corresponde à própria definição do estúpido: "É estúpido aquele que desencadeia uma perda para outro indivíduo ou para um grupo de outros indivíduos, embora não tire ele mesmo nenhum benefício e eventualmente até inflija perdas a si próprio." A maioria dos estúpidos persevera na sua vontade de causar males e perdas aos outros, sem tirar daí nenhum proveito. Mas há aqueles que não só não tiram ganho como, desse modo, se prejudicam a si próprios: são atingidos pela "super-estupidez".

 

É desastroso associar-se aos estúpidos. A quarta lei diz: "Os não estúpidos subestimam sempre o poder destruidor dos estúpidos. Em concreto, os não estúpidos esquecem incessantemente que em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as circunstâncias tratar com e/ou associar-se com gente estúpida se revela inevitavelmente um erro custoso." A situação é perigosa e temível, porque quem é racional e razoável tem dificuldade em imaginar e compreender comportamentos irracionais como os do estúpido. Schiller escreveu: "Contra a estupidez mesmo os deuses lutam em vão."

 

Como consequência, temos a quinta lei: "O indivíduo estúpido é o tipo de indivíduo mais perigoso." O corolário desta lei é: "O indivíduo estúpido é mais perigoso do que o bandido." De facto, se a sociedade fosse constituída por bandidos, apenas estagnaria: a economia limitar-se--ia a enormes transferências de riquezas e de bem-estar a favor dos que assim agem, mas de tal modo que, se todos os membros da sociedade agissem dessa maneira, a sociedade no seu conjunto e os indivíduos encontrar-se-iam numa "situação perfeitamente estável, excluindo toda a mudança". Porém, quando entram em jogo os estúpidos, tudo muda: uma vez que causam perdas aos outros, sem ganhos pessoais, "a sociedade no seu conjunto empobrece".

 

A capacidade devastadora do estúpido está ligada, evidentemente, à posição de poder que ocupa. "Entre os burocratas, os generais, os políticos e os chefes de Estado, é fácil encontrar exemplos impressionantes de indivíduos fundamentalmente estúpidos, cuja capacidade de prejudicar é ou se tornou muito mais temível devido à posição de poder que ocupam ou ocupavam. E também se não deve esquecer os altos dignitários da Igreja."

 

É assim o mundo.


Artigo de opinião escrito por Anselmo Borges in "DN online"

 

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publicado às 13:59


#1809 - O Estado social

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.01.13

VIRIATO SORMENHO-MARQUES



Encerra hoje, em Lisboa, uma conferência sobre a reforma do Estado. Já se sabe o que em português corrente isso significa: trata-se de perguntar onde é que o nosso débil "Estado social" pode ser (ainda mais) sangrado para se atingir o desiderato de reduzir quatro mil milhões de euros na despesa.

 

A hostilidade deste Governo contra as políticas públicas de proteção social assenta em duas premissas ideológicas, totalmente erradas.

A primeira consiste em acreditar que o Estado social nasceu de uma posição política de esquerda. A segunda assenta na ideia de que só em períodos de crescimento se poderá consentir no "luxo" de políticas sociais.

 

A história - essa dimensão do conhecimento esquecida por quem hoje manda na Europa - ensina-nos o contrário.

 

O Estado social moderno nasceu com o chanceler Bismarck, numa Alemanha recentemente unificada. Bismarck era profundamente hostil a tudo o que cheirasse a "socialismo", mas integrou a classe operária alemã no contrato social através da Lei dos Seguros de Saúde (1883), da Lei do Seguro de Acidentes de Trabalho (1884), da Lei do Seguro de Velhice e Invalidez (1889).

 

A segunda premissa também está errada. O impulso para o Estado social foi dado no meio das ruínas da Grande Depressão dos anos 30, com altos níveis de desemprego e a queda brutal do PIB. Foi em 1933 que Salazar lançou o Estatuto do Trabalho Nacional. Foi em 1935 que Roosevelt fez aprovar o Social Security Act. Foi em 1936 que, na França governada por Léon Blum, os trabalhadores tiveram férias pagas e na Suécia se efetuou o grande acordo entre patronato e sindicatos que ainda hoje explica como esse país se tornou um farol de civilização. Mas numa conferência inaugurada por Carlos Moedas seria demasiado pedir que os factos contassem para alguma coisa.




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publicado às 19:06


#1660 - Sentir o perigo

por Carlos Pereira \foleirices, em 17.04.12

por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

 

Max Weber considerava serem três as qualidades que permitem a um ator político tornar-se num estadista. São elas: a paixão; o sentido da responsabilidade; e a capacidade de avaliação. Quem tenha escutado Passos Coelho e Paulo Portas no "debate" parlamentar sobre a ratificação dos Tratados da chanceler Merkel facilmente perceberá que Portugal, nem remotamente, é governado por estadistas. Os Tratados de Merkel não valem nada por si próprios. Nunca serão cumpridos. A Espanha do socialista Zapatero apressou-se a inserir a regra de ouro (do défice orçamental) na Constituição, e o resultado foi um explosivo valor de 8,5% em 2011! A Grécia, que está em estado comatoso, foi o primeiro país a votar o Tratado Orçamental. A falta de capacidade de avaliação de Passos e Portas é tal que nem percebem o ridículo de nos juntarmos aos gregos na pressa de ratificar tratados que nunca iremos cumprir! O sentido da ratificação destes tratados por Portugal não pertence à política, mas à etologia, à ciência do comportamento animal. A UE, agora que o Tratado de Lisboa está enterrado, pode ser comparada a um bando de gorilas, trocando entre si gestos de domínio e submissão. A irresponsabilidade de Passos e Portas apenas diz: "A chanceler manda, e nós obedecemos!" Berlim está a conduzir a Europa de uma situação de crise para a catástrofe geral. Os danos materiais e morais causados pela rigidez germânica na periferia europeia são já de um valor incalculável. A Passos e Portas falta, ainda, uma qualidade mais básica para o bom governo: ser capaz de pressentir o perigo iminente. O País está exangue, face a um abismo onde a sombra da morte do projeto europeu se insinua, avassaladora. Passos e Portas apenas têm paixão para sussurrar ao ouvido de Merkel: "Vamos em frente!"

 

In 

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publicado às 18:53


#1651 - A servidão e a dignidade

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.03.12

por BAPTISTA-BASTOS

 

Vivemos no interior do medo. O medo deixou de ser um sentimento comum à condição para se transformar numa ideologia e numa arma política. A Inquisição e Salazar deixaram discípulos. Não conseguimos libertar-nos desta fatalidade histórica porque há quem limite as nossas forças e liquide as nossas esperanças. Por outro lado, aceitamos este fardo como um anátema. Reagimos escassamente mas não continuamos as acções contra a afronta. Ver os noticiários das televisões, ler a Imprensa tornou-se um exercício penoso, que conduz à depressão. Parece que o mundo desabou sobre os pobres portugueses. Tudo se enleia para favorecer o nosso infortúnio. Em nada acreditamos: a falsidade, a omissão, a desvergonha atingiram níveis desusados, e ninguém descortina onde está a mentira, e onde se oculta a verdade do que nos dizem. 

 

As informações são um caudal contraditório; e há declarações tão surpreendentes quanto imponderáveis. Mohamed El-Erian, um desses senhores do mundo, que poucos saberiam quem é, assevera que Portugal vai pedir mais dinheiro e segue, cabisbaixo, o caminho da Grécia. Erian, leio no Diário de Notícias, é o presidente do maior fundo de investimento mundial e não costuma utilizar a metáfora nem o epigrama para falar das coisas. Papandreu, grego, socialista, primeiro-ministro até há bem pouco tempo, também não faz reserva em dizer que está aberta a vereda para seguirmos a passada do seu país.

 

O papão, o medo viscoso, ondulante, assustador é a Grécia. A Grécia, tal Asmodeu, rei dos demónios, é o crepúsculo como alegoria de todas as tragédias. Afastamo-nos, repugnados e receosos do contágio. Temos tudo a ver com a Grécia, mas nada queremos ter a ver com a Grécia. Os gregos são a doença infecciosa, larvar, perigosíssima. Passos Coelho, quando regressa de viagens, proclama logo, pensativo, austero e formal: com a Grécia, nem tomar café. Julgando, talvez, que esta frase corresponde a um optimismo criador.

 

Vivemos num confuso e absurdo almofariz de dubiedades. Agora, para rematar estes clássicos do assombro, surge Vítor Gaspar, campeão do humorismo involuntário, e assegura, arfante: "No dia 23 de Setembro de 2013 regressaremos aos mercados." Vinha dos Estados Unidos. E tudo indicava que lhe tinham segredado a extraordinária novidade. Ninguém sabe, nem Gaspar esclarece o mistério de tão prodigioso milagre.

O português comum, que sobrevive asfixiado entre o desemprego, o fisco, a multa, a humilhação, o vexame, a fome, a doença, a miséria, os impostos, as taxas moderadoras, a demolição do amor, o divórcio, a emigração, e outra vez a fome, a doença, a miséria, os impostos, esse português desorientado, desgraçado e triste sem remissão - que pode fazer ele?, que pode? Em cada um de nós reside a resposta sobre o compromisso com a honra e a recusa da servidão e da indignidade.


In Diário de Notícias

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publicado às 16:15


#1621 - Novo romance de Roberto Bolaño

por Carlos Pereira \foleirices, em 17.02.12
Novo romance de Roberto Bolaño

Chama-se Pista de Gelo. É a mais recente tradução portuguesa de um livro do escritor chileno Roberto Bolaño e chega às livrarias no dia 6 de Março, pela mão da editora Quetzal.

 

O romance, escrito em 1993, narra a história da morte da bela patinadora Nuria Marti. É contado pela voz de três narradores, três homens e constrói-se sobre as linhas características do projeto narrativo de Roberto Bolaño: um espaço de reflexão sobre a corruptibilidade dos políticos, sobre a ação perturbadora do amor, sobre o desenraizamento, amizade e a dissolução dos sonhos.

 

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publicado às 12:07


#1455 - Fogo grego

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.10.11

por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES


 

Nenhuma cultura europeia amou tanto a herança da Grécia clássica como a cultura germânica no período do seu apogeu, que vai de Hölderlin e Hegel até Nietzsche. Este último, ao lado do nosso Andrade Corvo, foi um dos primeiros intelectuais europeus a antecipar a grande guerra civil europeia de 1914-1945, que deixaria o mundo, por duas vezes, em escombros.

 

Nietzsche, que como enfermeiro tinha visitado os campos de batalha da guerra franco-prussiana de 1870, teve uma clara visão da hecatombe que aí vinha. Em 1878, numa época de felicidade quase hipnótica - para evocar as memórias do grande escritor judeu, de língua alemã, Stefan Zweig -, Nietzsche recorreu à Grécia Antiga para representar o trágico futuro da Europa. Escreveu ele que os europeus iriam imitar os gregos, no seu pior. No auge do seu poderio, em vez de transformarem a sua profunda unidade cultural e civilizacional numa comunidade política ao serviço do espírito, fazendo de cada Estado um cantão numa grande Confederação Europeia, Nietzsche temia que a Europa replicasse, em escala ciclópica, a Guerra do Peloponeso. A Europa, tal como a Grécia clássica o fizera, caminharia para um suicídio sangrento.

 

No deserto de cultura humanista que hoje habita as chancelarias europeias, estas palavras soam aos ouvidos como se fossem proferidas em mandarim. Daria tudo para estar enganado, mas, quando em 2012, as ruas das cidades europeias, de Lisboa a Paris, passando por Berlim e Roma, forem ocupadas por multidões que vão exigir aos seus governos a devolução de um futuro que lhes foi roubado, então até as bisonhas criaturas que nos governam vão perceber que a Grécia, afinal, não habita a periferia, mas sim o coração da Europa.

 

In

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publicado às 19:01


#1425 - As 'sopas' do Espírito Santo

por Carlos Pereira \foleirices, em 25.06.11

 

ANSELMO BORGES

 

Várias vezes Natália Correia me desafiou para as festas do Divino Espírito Santo, nos Açores - ela era espírito-santista. Então, não foi possível. Mas este ano aconteceu.

 

É capaz de ser a festa mais humanista do mundo. Ah!, aquela coisa dos "impérios"! Chegue quem chegar, senta-se e come e bebe fartamente, sem que alguém lhe pergunte quem é, donde é, o que faz. De graça. No "império" a que me acolhi, lá estava o espírito: "A hora de repartir/Que a gente tanto gosta./Pão, carne, massa e vinho/Temos sempre a mesa posta." Ali, foram servidas mais de 600 "sopas" (um ensopado de carne excelente).

 

Se formos à procura da origem destas festas, encontraremos um monge célebre do século XII, Joaquim de Fiore, que deu o joaquimismo. Segundo ele, a História do mundo está dividida em três Idades: a Idade do Pai ou da Lei, que é a idade da servidão e do medo; a Idade do Filho, que é a idade da submissão filial; a Idade do Espírito Santo, na qual se ia entrar, e que é a idade do Amor, da Liberdade e da Fraternidade.

 

Houve sempre, ao longo da história da Igreja, um conflito entre os que acentuam o lado visível, institucional, hierárquico, e os que sobrepõem à Igreja visível uma Igreja espiritual, carismática, fraterna. O joaquimismo constituía uma mensagem revolucionária de contestação de uma Igreja pecaminosamente mundana; os franciscanos "espirituais" - fraticelli (irmãozinhos) -, desgostados com os Papas que abafavam o Espírito, aderiram à inspiração carismática, espírito-santista do joaquimismo.

 

Em 1282, D. Dinis casa com D. Isabel de Aragão, a futura Rainha Santa. O casamento realizou-se em Trancoso, que, significativamente, havia de ser a terra do sapateiro Bandarra, profeta do Quinto Império, tão querido do Padre António Vieira e Fernando Pessoa. Toda a família da nova rainha de Portugal era partidária dos frades espirituais, e a própria rainha possuía um conceito franciscano da vida: simplicidade, desapego dos bens terrenos, amor aos pobres e fracos. Santa Isabel protegia os franciscanos, e foi por seu intermédio que entrou um culto especial ao Espírito Santo. Fundaram-se confrarias do Espírito Santo, irmandades de socorro mútuo, e instauraram-se as Festas do Império do Espírito Santo, nas quais se celebrava o Pentecostes, comemorando a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos.

 

A principal cerimónia desse culto, durante a semana do Pentecostes, realizada por um franciscano, constava da coroação com três coroas, uma imperial e duas reais, do Imperador e dois Reis, geralmente na pessoa de uma criança e dois homens do povo pertencentes à Confraria do Espírito Santo. O Imperador, um menino, símbolo da humanidade renovada, religada às verdades básicas da pobreza evangélica e do amor ao próximo, empunhava o ceptro com que, tocando na fronte, se significava a bênção do Espírito Santo, e, depois de ter recebido as homenagens da população e das autoridades civis, militares e religiosas "fora" da igreja, procedia à libertação dos presos e à distribuição do pão, não como esmola, mas como preâmbulo da instauração na Terra da era da fraternidade profetizada.

 

Esta Festa dos Imperadores generalizou-se e encontramo-la em muitos pontos do País, mas de modo especial em Tomar e a sua Festa dos Tabuleiros ou do Divino Espírito Santo. Aqui, no fim da procissão, há a distribuição do bodo aos pobres.

 

Mas as festas do Divino Espírito Santo enraizaram sobretudo nos Açores e, por causa da emigração, em vários núcleos portugueses dos Estados Unidos e do Canadá. Nos Açores, temos as chamadas Igrejas "paralelas", de que ainda hoje é possível encontrar vestígios. No quadro das celebrações religiosas, continuam com lugar destacado as Festas do Divino Espírito Santo e do "Império", procedendo-se à coroação de uma criança, que segue na procissão com o ceptro, sendo igualmente de destacar as referidas "sopas". A soçobrar na crise, é bom lembrar estas Festas da Fraternidade universal. A utopia tem duas funções essenciais: criticar o presente e obrigar a transformá-lo. Outro mundo é possível.

 

In "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

 

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publicado às 20:41


#1229 - O diabo do poder, de Anselmo Borges

por Carlos Pereira \foleirices, em 27.02.10

Professor Anselmo Borges, padre, filósofo, teólogo e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Quando se reflecte sobre o mal, o que mais impressiona é o mal moral: porque é que a liberdade não é sempre boa? Porque não fazemos sempre o bem?

 

Estas perguntas são de tal modo dramáticas que, para explicar o bem e o mal no mundo, muitas vezes se recorreu a um duplo Princípio: um Princípio do Bem e um Princípio do mal. No contexto do cristianismo, que, por sua vez, bebeu noutras fontes religiosas mais antigas, o diabo apareceu como "solução" para o enigma. Ele seria o Tentador e o ser humano nem sempre resiste à tentação.

 

Neste contexto, é preciso dizer, em primeiro lugar, que o Credo cristão não fala do diabo. O cristão não acredita no diabo, mas em Deus. Quanto ao diabo tentador, seria necessário perguntar quem tentou o diabo para, de anjo bom, se tornar anjo mau, precipitado no inferno e tentador dos homens. Lembro que já Kant fez notar que um catequizando iroquês perguntou ao missionário: porque é que Deus não acabou com o diabo? Quanto às tentações, não é preciso diabo nenhum. Bastamos nós. O Homem, entre a finitude e o Infinito, está inevitavelmente sujeito à falibilidade e à queda.

Tentação vem do latim temptare, que, para lá de ensaiar, experimentar, tentar, também quer dizer atacar, procurar seduzir e corromper, pôr à prova.

Neste quadro, a tentação maior é a do poder, não enquanto serviço, mas enquanto domínio, vanglória e exaltação do eu. Pela sua própria dinâmica, o poder tende a ser total. E porquê? Porque a ilusão da omnipotência dá a ilusão da imortalidade, de dominar, vencer e matar a morte. Omnipotentes, seríamos imortais.

Quem quiser uma prova de que a tentação maior é a do poder - financeiro, económico, político... - olhe para o palco da presente situação nacional.

A Igreja, na liturgia, muda os textos, segundo os anos. Mas, no primeiro Domingo da Quaresma, a seguir ao Carnaval, lê-se sempre o Evangelho que refere as tentações de Cristo. São três e, contra a impressão que a Igreja acabou por dar - as tentações seriam sobretudo as do sexo -, são todas relativas ao poder.

O diabo não existe, não se justificando, portanto, os exorcismos. Ali, nas tentações de Cristo, também não há diabo nenhum. O diabo não apareceu a Jesus. Todo aquele excepcional passo do Evangelho é uma encenação dramática que personifica na figura do diabo a vivência da luta de Jesus em ordem à sua decisão: há-de ser um messias do poder ou o messias do serviço? O que ali se determina é se a sua mensagem é a divinização do Homem ou a humanização de Deus. Afinal, a boa nova do Evangelho é que Deus não está interessado nele mesmo nem no culto que lhe possamos prestar, mas exclusivamente no bem-estar e realização dos seres humanos, na plena humanização de todos.

Nenhum exegeta viu tão fundo neste passo como Dostoievski em Os Irmãos Karamazov. Ivan conta a Lenda do Grande Inquisidor. Jesus aparece em Sevilha, no dia a seguir à queima de quase uma centena de hereges. A multidão reconhece-o e segue-o, mas o cardeal inquisidor manda prendê-lo. Na prisão, diz-lhe que ele não entendeu os homens, ao querer a liberdade para eles. Foi por isso que não cedeu às tentações do milagre: transformar as pedras em pães, deitar-se abaixo do pináculo do Templo. Mas os homens não suportam o fardo da liberdade. Assim, a Igreja corrigiu a sua façanha, baseando-a em milagre e poder. "E as pessoas ficaram contentes por serem de novo guiadas como um rebanho e por ter sido tirada dos seus corações a dádiva mais terrível que tanto sofrimento lhes causava: a liberdade." "Vai-te embora e não voltes mais... não voltes... nunca, nunca!"

A tentação maior da Igreja é a do poder: poder social e político, controlo das consciências, imposição das suas normas aos não crentes, aceitação de uma religiosidade mágica e milagreira...

"A última tentação de Cristo", na cruz, não foi, como sugeriu M. Scorsese, casar com Maria Madalena, mas descer da cruz. Não cedeu. Deus não livra da finitude nem, consequentemente, da morte.


In "Diário de Notícias"

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publicado às 13:57


#829 - Frases

por Carlos Pereira \foleirices, em 25.06.09

"Não aumentarei os impostos"

Promessa de Manuela Ferreira Leite se ganhar as eleições


"Se Moniz sair da TVI será escandaloso"

Manuela Ferreira Leite em entrevista ao Diário de Notícias

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publicado às 12:04


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