Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Para melhor explicar a crise económica portuguesa, a ATTAC Portugal redigiu a segunda versão do documento 'A Crise Portuguesa em 10 minutos', inicialmente lançado em Maio de 2011. A sua elaboração contou com a colaboração de inúmeros economistas, aos quais estamos muito agradecidos. ATTAC Portugal..
BAPTISTA-BASTOS
Que Europa se espera da Europa, depois da reverente entronização de Angela Merkel feita por essas sobras menores de "estadistas", reunidas numa cimeira tão desacreditante quanto insensata? Os que nela participaram, de regresso a seus países, proferiram declarações graciosamente imbecis e desprovidas de qualquer centelha de dignidade. A alemã foi a vencedora do conclave e parece que nenhum dos presentes deu conta rigorosa dos perigos que representa. Como lucidamente Viriato Soromenho-Marques escreveu no DN (segunda-feira, 12, pág., 8), "a senhora Merkel, mãe do monstro de pobreza e proteccionismo que quer oferecer como rosto da Europa futura, tem um problema fundamental, que é a arma apontada à cabeça de 500 milhões de europeus. A sua tacanhez mental é ainda maior do que a sua influência letal sobre os primeiros-ministros que actualmente governam a Europa. Uma medrosa selecção, que parece ter saído dos lesionados das divisões de honra dos campeonatos distritais de futebol (...)."
O projecto imperial está à vista. E tanto Helmut Kohl (CDU, o partido dela) quanto Helmut Schmidt (SPD), horrorizados com o caminho que as coisas estão a tomar, vieram a público exigir que se questionasse a verdadeira dimensão do empreendimento. Não se serviram de metáforas para esclarecer os seus pontos de vista: usaram analogias históricas a fim de agitar as cabeças quadradas dos dirigentes políticos.
Aceitando-se o facto de que a senhora Merkel ser tida e havida como tonta, quem está por detrás dela?, quais os ideólogos que a impulsionam?, quais os poderes que nos querem condenar a uma espécie de desconstrução identitária? Porque é disso que se trata, quando se desarma o princípio de equilíbrio social e se o substitui por um jogo de hegemonia do mais forte, com a decorrente submissão total do mais fraco.
A Europa, nas mãos de Angela Merkel (o pobre Sarkozy faz papel de compère resignado e cortês), favorece o aparecimento dos nacionalismos e da proeminência aguerrida do económico sobre o político. O hiato criado por estas circunstâncias faz- -nos viver na ilusão de que as previsíveis derrotas da alemã e do francês, nas próximas eleições, nos permitirão respirar melhor.
Mas a questão não reside em eleições: está nas deformidades de um sistema que conduz a tudo, até a ressurreições dos fascismos. Em causa emerge não apenas a ameaça de eliminação dos padrões, sob os quais nos habituámos a viver, como a benevolência com que estes dirigentes europeus admitem a servidão. A mediocridade circundante conduz a tudo: até à imprudente aceitação do económico, não como utensílio mas como valor absoluto. Para não irmos mais longe, basta olhar Portugal e atentar na pobreza intelectual e nas debilidades éticas e políticas dos que nos dirigem.
por VIRIATO SOROMENHO MARQUES
Na cimeira de Paris, no passado dia 5, Sarkozy e Merkel reconheceram que foi um erro exigir aos bancos que aceitassem uma reestruturação "voluntária" de metade da dívida pública grega. Imposta, contra a opinião do BCE e de 99% dos especialistas económicos mundiais. O caso da violação dos contratos com os bancos, obrigando-os até a renunciarem aos caros mecanismos de redução de risco (CDS), retrata o triste estilo de liderança do Directório germano-gaulês. Na verdade, o seu projecto de transformar a Zona Euro numa masmorra de disciplina fiscal, sem respeito pelas instituições comunitárias, e tratando os povos submetidos à austeridade como gado, é não só uma má ideia política. Pior do que um crime, é um erro, como diria Talleyrand. Na verdade, desde Janeiro de 2010 que o Directório assumiu a condução da crise da Zona Euro. A pobre Grécia, com apenas 2% do PIB, foi acusada de estar a incorrer num "risco moral" (moral hazard), o que significa querer que sejam os outros a pagar os danos dos seus erros ou vícios. Chegados ao ponto em que nos encontramos, com toda a Zona Euro a ser abandonada pelo investimento estrangeiro, com o fracasso de todos os instrumentos e receitas do Directório, com a possibilidade de implosão da Zona Euro, é caso para perguntar se não estão Merkel e Sarkozy a incorrer num gigantesco risco moral que todos corremos o risco de ter de pagar de forma brutal? O grande problema que paira sobre o decisivo Conselho Europeu, que hoje começa, não é a ausência de bondade das propostas do par dirigente. O problema é a sua total falta de inteligência. O Directório pensa mal. Tem ideias tontas. Nada de mais mortífero do que a mediocridade atrevida ao volante da política.
Hoje quase ninguém tem dúvidas sobre o desastre iminente do Euro e da União Europeia. Nem sequer aqueles que, no último ano meio, Cimeira após Cimeira, se congratulavam com as «decisões históricas» aí tomadas. Independentemente das decisões e dos rumos que forem tomados na próxima Cimeira de 8 e 9 de Dezembro, já desenhados no discurso da chanceler alemã, no Bundestag, onde os destinos dos povos europeus passaram a ser tratados, uma coisa é certa: mesmo que seja travada a implosão do Euro – o que ainda não é um dado adquirido –, a UE deixará de ser um espaço de solidariedade e do bem-estar social. No mínimo, durante a próxima década, a Europa será governada por Berlim; viverá em empobrecimento profundo e acelerado, com a destruição massiva de direitos, nomeadamente na área do Trabalho, na Saúde e na Educação, e com uma forte tentação para soluções governativas anti-democráticas. A Europa que conhecemos até aqui está a ser engolida pelas suas contradições e incapacidades políticas e, sobretudo, pelo poder do sistema financeiro.
(Ler mais )
Por Tomás Vasques às 09:08 - Hoje há conquilhas amanhã não sabemos
A Europa corre para o abismo.
Mas onde pára o dinheiro?
Os bancos não teem dinheiro, dizem os banqueiros. As empresas não teem dinheiro, dizem os patrões. Os estados não teem dinheiro, explicam os burocratas e os ministros. A esmagadora maioria das pessoas não tem dinheiro porque os seus rendimentos diminuiram por força do desemprego, aumento de impostos, aumento dos transportes, energia, combustíveis, etc..
O dinheiro não desapareceu, ninguém o queimou ou lançou pela sanita abaixo. Afinal, onde pára o dinheiro?
VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
Os próximos cinco dias vão, muito provavelmente, ficar na história. Destaco três notas de agenda:
1. A Zona Euro enfrenta uma inédita míngua de crédito em duas grandes economias: a Itália e a Espanha. A tese que até agora tem prevalecido da epidemia e do contágio, ilustrada pela queda em sucessão de três pequenas economias (Grécia, Irlanda e Portugal) vai ser submetida ao teste definitivo da realidade. Tudo indica que a explicação sistémica (que temos defendido desde sempre nestas crónicas) é a única que se adequa à realidade. A Zona Euro não poderá sobreviver indefinidamente ao ataque simultâneo e em pinça sobre Roma e Madrid. A taxa de 7% para a dívida pública a 10 anos mostra que toda a resiliência tem limites.
2. O silêncio do Directório terá de ser quebrado esta semana. Suspeito que a clivagem, até agora quase silenciosa, entre Paris e Berlim vai tornar-se visível e vocal. Prova clara disso é a entrevista do ministro francês, François Baroin, reclamando para o FEEF uma licença bancária, que lhe permitiria, por via indirecta e sem molestar os Tratados, fazer do BCE o instrumento de combate eficaz na guerra que a Zona Euro trava contra as paixões mistas dos mercados (o pânico da maioria, e a gula dos especuladores). Suspeito que Berlim tirará da cartola mais uma ideia esdrúxula (o financiamento do FMI pelo BCE?), que corre o risco de adensar a fuga de capitais de tudo o que cheire a Europa.
3. Para Portugal, apenas um conselho. O primeiro-ministro deve concentrar-se em impedir que a opinião pública acabe mesmo por acreditar que é Miguel Relvas quem chefia o governo. Seria útil que o PM deixe o Presidente da República trabalhar. Depois de muitos erros e ambiguidades, Cavaco Silva é hoje a mais sensata voz de Portugal em matéria de crise europeia. Não será isso "cooperação estratégica"?
In
As medidas anunciadas ontem pelo governo para o auto-proclamado “reforço da execução orçamental” e para o OE suscitam-me vários comentários e dúvidas por esclarecer.
Acabou, hoje, a era dos dias difíceis. Uma nova era vai começar: a dos dias horrivelmente difíceis
Nas avenidas, ruas e becos mora gente nervosa que remói as notícias que anunciam o fim do mundo. E olham por cima do ombro, com tiques de pavor e desconfiança, com receio de serem mortalmente atropelados pela crise que rola em grande velocidade.
Os sistemas mecânicos e electrónicos já não funcionam e a crise desliza desgovernada sem hipótese de controlo.
A crise é um topo de gama de uma marca de luxo comprada a prestações através de um sistema financeiro credível, sólido - responsável pela sua manutenção (está escrito no contrato assinado entre o prestamista e o utilizador do serviço) - e gerido por gente experiente e sábia. E o utilizador do serviço nem desconfiava que a crise, de rosto humano e afável, que dizia respeitar o programa das revisões, era uma vigarista que utilizava produtos e peças tóxicas e defeituosas recomendadas por engenheiros e mecânicos classificados como "os gurus XPTO".