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TERESA RITA LOPES
CONVERSANDO COM OS ASTROS
1
Confesso que me desiludiste um pouco
Quando ouvi dizer que estavas para chegar
pus-me ansiosa à tua espera
Foste o primeiro
cometa da minha vida
Antes de te conhecer pensava
que serias maior mais vistoso mais em fogo
Depois
aceitei o teu recato a tua timidez
e tentámos
acertar o passo e o olhar
Encontrámo-nos no céu
da Cacela e depois puseste-te a caminhar comigo
até Lisboa
Aqui perdemo-nos de vista
Há luz eléctrica
a mais Nesta cidade até do céu somos despossuídos:
o buruburinho das luzes obscurece os astros
que fogem
a esconder-se atrás dos montes mais próximos
Dizem
os cientistas que voltas daqui a três mil anos
Que é isso para o deus de quem és brinquedo
e eu também?
Em breve regressarás ao teu abismo
e um dia destes também eu mergulharei no meu
Marquemos já encontro para o dia 11 de Abril
de 4997
à esquina do crepúsculo
2
Eis-te de repente Espreitas e devagar
levantas-te do leito do rio afogueada
sacudindo a saia
Que fazias aí deitada com ele
minha magana?
ah lua! maluca lua que não tomas
juízo!
Aqui estamos de novo cara a cara
sorriso no sorriso
Quantas vezes já nos olhámos
assim nos olhos tão enamoradas?
Saboreio
daqui deste meu décimo andar jardim suspenso
todos os momentos da tua caminhada céu acima
Agora já estás perfeitamente senhora de ti
redonda e rutilante
e olhas de alto o rio
que se aquieta para te receber e espelhar
tua inevitável retirada
Ninguém te dá a idade
que tens
Quem havia de dizer que ficaríamos
grisalhas um dia!
Mas a ti fica-te bem esse
cabelo de neve luminosa O meu pediu ao Outono
o ruivo fulgor de suas folhas
Ah lua amiga minha
da longínqua infância da perdida juventude
cúmplice de tanto fervor adulto sozinho e
comungado confidente de tanto pranto em fogo
transformado à tua alquímica maneira em fina
prata
aonde vais buscar esse sorriso manso
teu sereno aceitar de tudo o que acontece
tua ironia doce?
Quem me dera libertar-me assim
da canseira do dia!
Minha amiga minha Mãe meu amor
porque és tudo isso ao mesmo tempo
afaga o áspero
dorso da minha irrequieta mágoa
e afoga-me no teu
mar de luar
que é água e ar e fogo ao mesmo tempo
CONVERSANDO COM OS ASTROS - POEMA DE TERESA RITA LOPES