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ESTÁ QUALQUER COISA A BATER À PORTA
uma grande luz branca amanhece sobre o
continente
enquanto adulamos as nossas tradições falhadas,
muitas vezes matamos para as preservar
ou às vezes matamos só por matar.
parece não ter importância: as respostas balouçam
fora do alcance,
fora de mão, fora da mente.
os líderes do passado eram insuficientes,
os líderes do presente não estão preparados.
enroscamo-nos nas nossas camas à noite e esperamos.
é uma espera sem esperança, uma
oração pedindo graças imerecidas.
tudo se parece cada vez mais com o mesmo velho
filme.
os actores são diferentes mas o enredo é o mesmo:
absurdo.
devíamos ter aprendido ao observar os nossos pais.
devíamos ter aprendido ao observar as nossas mães.
eles não sabiam, eles próprios não estavam preparados
para ensinar.
éramos demasiado ingénuos para ignorar os seus
conselhos
e agora adoptámos a sua
ignorância como
nossa.
somos eles, multiplicados.
somos as suas dívidas não saldadas.
estamos falidos
de dinheiro e
de espírito.
há algumas excepções, claro.
mas estas oscilam
sobre o precipício
e a qualquer momento
caírão para se juntar
a nós,
os delirantes, os derrotados, os cegos e os tristemente
corruptos.
uma grande luz branca amanhece sobre o
continente,
as flores abrem-se cegamente no vento fétido,
enquanto o nosso século XXI,
grotesco e em última instância
inabitável,
se esforça por
nascer.
Poema de Charles Bukowski retirado do livro «Os cães ladram facas [Antologia Poética]» edição Alfaguara, Novembro de 2018
CHARLES BUKOWSKI
ESCREVER
começas a sorrir
todo agitado
por dentro
enquanto as palavras saltam
dos teus dedos
para as teclas
e é como um
sonho de circo;
tu és o palhaço, o domador de leões,
és o tigre,
és tu próprio
enquanto
as palavras saltam
através de arcos em chamas,
e fazem triplos mortais
de trapézio em
trapézio, e
abraçam o
Homem-Elefante
enquanto
os poemas continuam a surgir,
um a um
escorregando para
o chão,
e tudo vai na esgalha e bem;
as horas passam
e logo
acabaste,
vai até ao quarto,
atira-te para cima da cama
e dorme o sono dos justos
aqui na terra,
por fim, a vida perfeita.
a poesia é o que acontece
quando nada mais pode.
Poema de Charles Bukowski, do livro «Os cães ladram facas - Antologia Poética», edição Alfaguara, Novembro de 2018.
PARA ALGUNS AMIGOS
o som da astúcia
o som do céu e do mar.
o aperitivo de uma noite amarga.
amigos amargos que
discutem acerca de quem fará o elogio fúnebre no enterro,
meios-homens amargos que tentam roubar-te as mulheres,
meias-mulheres amargas que se deixam roubar.
demorei 15 anos a humanizar a poesia
mas vai ser preciso mais do que eu
para se humanizar a humanidade.
as boas almas não o farão
a anarquia não o fará
os pretos
os amarelos
os índios
os mexicanos
não o farão.
acredito na força da mão sangrenta
acredito nos gelos eternos
exijo que morramos
de lábios azuis e sorrindo contra a impossibilidade
de nós mesmos
estendidos de viés sobre nós mesmos.
conhecemo-nos
numa adega escura em Barcelona. mas depois
afastámo-nos. ao fim e ao cabo,
algumas pessoas são capazes de foder um candeeiro de rua
ao luar.
o meu elogio fúnebre? quem o lerá? terei sequer uma
sepultura? quem estará feliz no meu
enterro? mais um cabrão genial
que se foi. os idiotas adoram enterrar
deuses.
entretanto, esperam que me falhe a máquina de escrever,
que o meu amor seja menor, que a minha esperança seja menor,
que a minha dor seja maior.
ah, todos os meus amigos me desejam as melhores coisas.
idiotas batedores-de-portas a espingardar
venham todos
cuspir o vosso veneno especial sobre mim e sobre
as pequenas coisas que são minhas.
pequenas crianças-ratazanas do universo
apreciem o facto de vos ter deixado insultar-me
apreciem o facto de vos ter aberto a porta
apreciem o facto de ter envelhecido
ou desaparecido com o tempo.
ah, meus amigos
meus amigos
meus amigos.
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI in «OS CÃES LADRAM FACAS» [ANTOLOGIA POÉTICA], EDIÇÃO ALFAGUARA DE NOVEMBRO DE 2018, PÁGS. 191,192, 193.
TRADUÇÃO DE ROSALINA MARSHALL
SELECÇÃO, ORGANIZAÇÃO E PREFÁCIO DE VALÉRIO ROMÃO
Estas histórias, inspiradas na própria vida do autor, são tão selvagens e inusitadas quanto as histórias dos seus romances. Bukowski foi uma lenda no seu tempo e um visionário para aqueles que se lhe seguiram. Louco, recluso, amante. Afável e mesquinho. Lúcido e insano. Sempre inesperado. As excepcionais Histórias de loucura normal vêm directas do âmago de uma vida, a que ele mesmo viveu, marcada pela violência e pela depravação. Histórias de liberdade, tão profanas quanto sagradas.
Da prostituição à música clássica, Bukowski traça neste livro um retrato irado, apesar de terno, bem-humorado e inquietante, da vida marginal de Los Angeles, uma realidade obscura e perigosa que emoldurou a vida de um dos maiores escritores de culto do século XX.
Histórias, afinal, da loucura que espreita dentro de cada um de nós, que faz do corpo uma marioneta e que não desaparece senão com a morte.
________________________________________________________________
Charles Bukowski nasceu na Alemanha, em 1920, mas cresceu em Los Angeles, onde viveu durante cinquenta anos. Publicou o seu primeiro conto em 1944, quando tinha vinte e quatro anos, e começou a escrever poesia com trinta e cinco anos. Morreu em 1994, aos setenta e três anos, pouco tempo depois de completar o seu último romance, Pulp. Viu publicados mais de quarenta e cinco livros de prosa e poesia, incluindo os romances Post Office (1971), Factotum (1975), Women (1978), Ham on Rye (1982), Hollywood (1989) e Pulp (1994). É um dos autores americanos contemporâneos mais conhecidos a nível mundial e, possivelmente, o poeta americano mais influente e imitado de sempre.
FONTE: WOOK
não os encontrarás com regularidade
pois não se encontram
onde se encontra
a multidão
estes seres ímpares,
não há muitos
mas deles
vêm
os poucos
bons quadros
as poucas
boas sinfonias
os poucos
bons livros
e outras
obras.
e dos
melhores
entre os estranhos
talvez
nada.
eles são
os seus próprios
quadros
os seus próprios
livros
as suas próprias
obras.
às vezes penso
que
os vejo - por exemplo
um determinado
velho
sentado num
determinado banco de jardim
de uma determinada
forma
ou
uma cara fugaz
num carro
que passa
em direcção
contrária
ou
há um certo
gesto de mãos
do rapaz ou
da rapariga
a embalar compras
em sacos
de supermercado.
às vezes
até é alguém
com quem se vive
há algum
tempo -
dás conta de
um fugidio
olhar luminoso
que nunca lhes viras
antes.
às vezes
apenas notas
a sua existência
subitamente
e de forma vívida
alguns meses
alguns anos
depois de
partirem.
lembro-me
de um caso
assim -
ele tinha
cerca de 20 anos
bêbedo
às 10 da manhã
a fitar
um espelho partido
em Nova Orleães
cara sonhadora
contra
as paredes
do mundo
para
onde
fui eu?
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI, DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS (ANTOLOGIA POÉTICA", EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018
OS TAGARELAS
o rapaz de pés enlameados atravessa-me a
alma
a falar de recitais, de virtuosos, de maestros,
dos romances menos conhecidos de Dostoiévski;
a falar de como corrigiu uma empregada de mesa,
uma bimba que desconhecia que o molho francês
era feito disto e daquilo;
tagarela sobre as Artes até
eu odiar as Artes,
e não há nada mais limpo
do que voltar para um bar ou
do que ir para o hipódromo
e vê-los correr
ver coisas a passar sem este
clamor e falatório,
falar, falar, falar,
a boquinha a mexer, os olhos a piscar,
um rapaz, uma criança, doente com as Artes,
a agarrar-se a elas como à saia da mãe,
e pergunto-me quantos dezenas de milhares
existem como ele por esta terra
em noites chuvosas
em manhãs soalheiras
em serões que prometiam paz
em salas de concerto
em cafés
em recitais de poesia
a falar, a sujar, a discutir.
é como o porco
que vai para a cama
com uma mulher linda
e por causa disso
deixas de querer aquela mulher.
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI in "Os cães ladram facas"[Antologia Poética], edição Alfaguara, Novembro de 2018
um desenhador de peixes
ele não parava de desenhar peixes
em papéis
e eu disse:
Jack, o que é que se passa?
mas ele não respondia
e a mulher dele disse
não há meio de ele procurar emprego
é isso que se passa
e eu tenho de tomar conta
dos putos; não sei
como é que vamos
fazer esta merda.
ele não parava de desenhar peixes
em papéis
e nem bêbedo estava.
fui à rua e trouxe 2
garrafas de vinho
e a patroa dele
encheu os copos.
e o Jack bebeu o dele
depois praguejou: esta
esferográfica fica sempre
sem tinta
quando estou mesmo no ponto crucial,
no cerne, quando estou
finalmente a arder
na cera imbecil do fogo...
atirou a caneta
para uma saco de papel cheio de garrafas vazias,
latas de sardinha e
de feijão vazias, vestiu o casaco
e saiu.
para onde é que ele vai?
perguntei.
estou-me nas tintas
para onde ele vai,
disse a patroa dele.
depois levantou o vestido
e mostrou-me as pernas;
eram bastante boas, eu
sempre fui um gajo de pernas
mas dirigi-me ao armário
e vesti o casaco.
onde é que vais? perguntou ela.
vou procurar emprego,
disse-lhe,
há um anúncio no Times,
precisam de porteiros
no novo edifício Fleischman.
desci os degraus
e andei meio quarteirão para norte
até ao bar mais próximo.
O jack estava lá sentado.
Não sei, disse ele,
acho que me vou
matar.
não faz mal, disse eu,
isso vai acontecer
de qualquer modo.
ficámos ali sentados o resto da tarde
a beber
e por volta das 7 da tarde saímos,
ele com uma tipa de cabelo flamejante
e eu com uma manca
leitora de Henry James
que se ria de boca
à banda.
estavam 17 graus
e pouco restava
do mundo.
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI RETIRADO DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS", EDIÇÃO ALFAGUARA DE NOVEMBRO DE 2018. ROSALINA MARSHALL TRADUZIU E VALÉRIO ROMÃO FEZ A SELECÇÃO, A ORGANIZAÇÃO E O PREFÁCIO
CHARLES BUKOWSKI
O MAIS FORTE ENTRE OS ESTRANHOS
não os encontrarás com regularidade
pois não se encontram
onde se encontra
a multidão
estes seres ímpares,
não há muitos
mas deles
vêm
os poucos
bons quadros
as poucas
boas sinfonias
os poucos
bons livros
e outras
obras.
e dos
melhores
entre os estranhos
talvez
nada.
eles são
os seus próprios
quadros
os seus próprios
livros
a sua própria música
as suas próprias
obras.
às vezes penso
que
os vejo - por exemplo
um determinado
velho
sentado num
determinado banco de jardim
de uma determinada
forma
ou
uma cara fugaz
num carro
que passa
em direcção
contrária
ou
há um certo
gesto de mãos
do rapaz ou
da rapariga
a embalar compras
em sacos
de supermercado.
às vezes
até é alguém
com quem se vive
há algum
tempo -
dás conta de
um fugidio
olhar luminoso
que nunca lhes viras
antes.
às vezes
apenas notas
a sua existência
subitamente
e de forma vívida
alguns meses
alguns anos
depois de
partirem.
lembro-me
de um caso
assim -
ele tinha
cerca de 20 anos
bêbedo
às 10 da manhã
a fitar
um espelho partido
em Nova Orleães
cara sonhadora
contra
as paredes
do mundo
para
onde
fui eu?
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI IN "OS CÃES LADRAM FACAS" - EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018
CONSELHO
tal como o vento corta, outra vez, desde o mar
e a terra é assolada por tumultos e desordem
tem cuidado com o sabre da escolha,
lembra-te
o que talvez fosse nobre
há 5 séculos
ou até mesmo 20 anos
é agora
a maior parte das vezes
um acto desperdiçado
a tua vida passa uma única vez
já a história tem oportunidade atrás de oportunidade
para provar a imbecilidade dos homens.
Tem cuidado, portanto, diria eu,
com qualquer
acto
ideal
ou acção
aparentemente nobre,
seja por este país ou por amor ou pela Arte,
não te deixes possuir pela proximidade do minuto
nem pela beleza ou pela política
que murcharão como flores cortadas;
amor, sim, mas não enquanto ardil do casamento,
e cuidado com comida má e trabalho excessivo;
terás de viver num país,
mas amar não é uma ordem
seja mulher seja nação;
leva o teu tempo; e bebe tanto quanto seja necessário
por forma a manter a continuidade,
porque a bebida é um modo de vida
através do qual o participante reclama
uma nova oportunidade na vida;
mais ainda, direi,
vive sozinho o máximo possível;
cria filhos se por acaso acontecer
mas tenta não ter de aguentar
criá-los; não te envolvas em questiúnculas
de mão ou voz
a não ser que o teu adversário atente contra a tua vida
ou contra a vida da tua alma; então,
mata, se necessário; e quando chegar a hora da morte
não sejas egoísta:
pensa como é económica a morte
e no lugar paraonde vais:
sem qualquer marca de vergonha ou de fracasso
ou necessidade de compaixão
como o vento corta desde o mar
e o tempo passa
erodindo os teus ossos numa paz suave.
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI EXTRAÍDO DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS", EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018
CHARLES BUKOWSKI
ENTÃO QUERES SER UM ESCRITOR?
se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.
se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.
se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.
não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.
quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.
não há outra alternativa.
e nunca houve.
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI
CHARLES BUKOWSKI
os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro e dirão:
“ele tá bêbado de novo”,
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo e
como algo esfaqueado
e cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI
CHARLES BUKOWSKI
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você?
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI
Inspirada pelo popular poema de Charles Bukowski a animação da artista plástica e designer Monika Umba basta por si. Se quiser conferir o texto original, clique aqui.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?