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#3348 - ESTÁ QUALQUER COISA A BATER À PORTA

Poema de Charles Bukowski

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.02.24

ESTÁ QUALQUER COISA A BATER À PORTA

 

uma grande luz branca amanhece sobre o 

continente

enquanto adulamos as nossas tradições falhadas,

muitas vezes matamos para as preservar

ou às vezes matamos só por matar.

parece não ter importância: as respostas balouçam

fora do alcance,

fora de mão, fora da mente.

 

os líderes do passado eram insuficientes,

os líderes do presente não estão preparados.

enroscamo-nos nas nossas camas à noite e esperamos.

é uma espera sem esperança, uma

oração pedindo graças imerecidas.

 

tudo se parece cada vez mais com o mesmo velho

filme.

os actores são diferentes mas o enredo é o mesmo:

absurdo.

 

devíamos ter aprendido ao observar os nossos pais.

devíamos ter aprendido ao observar as nossas mães.

eles não sabiam, eles próprios não estavam preparados

para ensinar.

éramos demasiado ingénuos para ignorar os seus

conselhos

e agora adoptámos a sua

ignorância como

nossa.

somos eles, multiplicados.

somos as suas dívidas não saldadas.

estamos falidos

de dinheiro e

de espírito.

 

há algumas excepções, claro.

mas estas oscilam

sobre o precipício

e a qualquer momento

caírão para se juntar

a nós,

os delirantes, os derrotados, os cegos e os tristemente

corruptos.

 

uma grande luz branca amanhece sobre o

continente,

as flores abrem-se cegamente no vento fétido,

enquanto o nosso século XXI, 

grotesco e em última instância

inabitável,

se esforça por

nascer.

 

Poema de Charles Bukowski retirado do livro «Os cães ladram facas [Antologia Poética]» edição Alfaguara, Novembro de 2018

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publicado às 13:41


#3347 - ESCREVER

UM POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 12.02.24

buk

CHARLES BUKOWSKI

 

ESCREVER

 

começas a sorrir

todo agitado

por dentro

enquanto as palavras saltam

dos teus dedos

para as teclas

e é como um

sonho de circo;

tu és o palhaço, o domador de leões,

és o tigre,

és tu próprio

enquanto

as palavras saltam

através de arcos em chamas,

e fazem triplos mortais

de trapézio em

trapézio, e

abraçam o 

Homem-Elefante

enquanto

os poemas continuam a surgir,

um a um

escorregando para

o chão,

e tudo vai na esgalha e bem;

as horas passam

e logo 

acabaste,

vai até ao quarto,

atira-te para cima da cama

e dorme o sono dos justos

aqui na terra,

por fim, a vida perfeita.

 

a poesia é o que acontece

quando nada mais pode.

 

Poema de Charles Bukowski, do livro «Os cães ladram facas - Antologia Poética», edição Alfaguara, Novembro de 2018.

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publicado às 11:46


#3274 - PARA ALGUNS AMIGOS

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.02.23

PARA ALGUNS AMIGOS

 

o som da astúcia

o som do céu e do mar.

 

o aperitivo de uma noite amarga.

amigos amargos que

discutem acerca de quem fará o elogio fúnebre no enterro,

meios-homens amargos que tentam roubar-te as mulheres,

meias-mulheres amargas que se deixam roubar.

 

demorei 15 anos a humanizar a poesia

mas vai ser preciso mais do que eu

para se humanizar a humanidade.

 

as boas almas não o farão

a anarquia não o fará

os pretos

os amarelos

os índios

os mexicanos

não o farão.

 

acredito na força da mão sangrenta

acredito nos gelos eternos

exijo que morramos

de lábios azuis e sorrindo contra a impossibilidade

de nós mesmos

estendidos de viés sobre nós mesmos.

 

conhecemo-nos

numa adega escura em Barcelona. mas depois

afastámo-nos. ao fim e ao cabo,

algumas pessoas são capazes de foder um candeeiro de rua

ao luar.

 

o meu elogio fúnebre? quem o lerá? terei sequer uma

sepultura? quem estará feliz no meu

enterro? mais um cabrão genial

que se foi. os idiotas adoram enterrar 

deuses.

 

entretanto, esperam que me falhe a máquina de escrever,

que o meu amor seja menor, que a minha esperança seja menor,

que a minha dor seja maior.

ah, todos os meus amigos me desejam as melhores coisas.

 

idiotas batedores-de-portas a espingardar

venham todos

cuspir o vosso veneno especial sobre mim e sobre

as pequenas coisas que são minhas.

 

pequenas crianças-ratazanas do universo

apreciem o facto de vos ter deixado insultar-me

apreciem o facto de vos ter aberto a porta

apreciem o facto de ter envelhecido

ou desaparecido com o tempo.

 

ah, meus amigos

meus amigos

meus amigos.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI in «OS CÃES LADRAM FACAS» [ANTOLOGIA POÉTICA], EDIÇÃO ALFAGUARA DE NOVEMBRO DE 2018, PÁGS. 191,192, 193.

TRADUÇÃO DE ROSALINA MARSHALL

SELECÇÃO, ORGANIZAÇÃO E PREFÁCIO DE VALÉRIO ROMÃO

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publicado às 18:27


#3231 - LIVROS E LEITURAS ||| Histórias de loucura normal

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.09.22

 

Estas histórias, inspiradas na própria vida do autor, são tão selvagens e inusitadas quanto as histórias dos seus romances. Bukowski foi uma lenda no seu tempo e um visionário para aqueles que se lhe seguiram. Louco, recluso, amante. Afável e mesquinho. Lúcido e insano. Sempre inesperado. As excepcionais Histórias de loucura normal vêm directas do âmago de uma vida, a que ele mesmo viveu, marcada pela violência e pela depravação. Histórias de liberdade, tão profanas quanto sagradas.
Da prostituição à música clássica, Bukowski traça neste livro um retrato irado, apesar de terno, bem-humorado e inquietante, da vida marginal de Los Angeles, uma realidade obscura e perigosa que emoldurou a vida de um dos maiores escritores de culto do século XX.

Histórias, afinal, da loucura que espreita dentro de cada um de nós, que faz do corpo uma marioneta e que não desaparece senão com a morte.

________________________________________________________________

Charles Bukowski nasceu na Alemanha, em 1920, mas cresceu em Los Angeles, onde viveu durante cinquenta anos. Publicou o seu primeiro conto em 1944, quando tinha vinte e quatro anos, e começou a escrever poesia com trinta e cinco anos. Morreu em 1994, aos setenta e três anos, pouco tempo depois de completar o seu último romance, Pulp. Viu publicados mais de quarenta e cinco livros de prosa e poesia, incluindo os romances Post Office (1971), Factotum (1975), Women (1978), Ham on Rye (1982), Hollywood (1989) e Pulp (1994). É um dos autores americanos contemporâneos mais conhecidos a nível mundial e, possivelmente, o poeta americano mais influente e imitado de sempre.

FONTE: WOOK

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publicado às 18:38


#3205 - O MAIS FORTE ENTRE OS ESTRANHOS

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 10.12.21

não os encontrarás com regularidade

pois não se encontram

onde se encontra 

a multidão

 

estes seres ímpares,

não há muitos

mas deles

vêm

os poucos

bons quadros

as poucas

boas sinfonias

os poucos

bons livros

e outras

obras.

 

e dos

melhores

entre os estranhos

talvez

nada.

 

eles são

os seus próprios

quadros

os seus próprios

livros

as suas próprias

obras.

 

às vezes penso

que

os vejo - por exemplo

um determinado

velho

sentado num

determinado banco de jardim

de uma determinada 

forma

 

ou 

uma cara fugaz

num carro

que passa

em direcção

contrária

 

ou

há um certo

gesto de mãos

do rapaz ou

da rapariga

a embalar compras

em sacos

de supermercado.

 

às vezes

até é alguém

com quem se vive

há algum

tempo -

dás conta de

um fugidio

olhar luminoso

que nunca lhes viras

antes.

 

às vezes

apenas notas

a sua existência

subitamente

e de forma vívida

alguns meses

alguns anos

depois de

partirem.

 

lembro-me

de um caso

assim -

ele tinha

cerca de 20 anos

bêbedo

às 10 da manhã

a fitar

um espelho partido

em Nova Orleães

 

cara sonhadora

contra

as paredes

do mundo

 

para

onde

fui eu?

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI, DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS (ANTOLOGIA POÉTICA", EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018

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publicado às 06:49


#3202 - OS TAGARELAS

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 03.12.21

OS TAGARELAS

o rapaz de pés enlameados atravessa-me a 

alma

a falar de recitais, de virtuosos, de maestros,

dos romances menos conhecidos de Dostoiévski;

a falar de como corrigiu uma empregada de mesa,

uma bimba que desconhecia que o molho francês

era feito disto e daquilo;

tagarela sobre as Artes até

eu odiar as Artes,

e não há nada mais limpo

do que voltar para um bar ou

do que ir para o hipódromo

e vê-los correr

ver coisas a passar sem este

clamor e falatório,

falar, falar, falar,

a boquinha a mexer, os olhos a piscar,

um rapaz, uma criança, doente com as Artes,

a agarrar-se a elas como à saia da mãe,

e pergunto-me quantos dezenas de milhares

existem como ele por esta terra

em noites chuvosas

em manhãs soalheiras

em serões que prometiam paz

em salas de concerto

em cafés

em recitais de poesia

a falar, a sujar, a discutir.

é como o porco

que vai para a cama

com uma mulher linda

e por causa disso

deixas de querer aquela mulher.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI in "Os cães ladram facas"[Antologia Poética], edição Alfaguara, Novembro de 2018

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publicado às 06:42


#3079 - um desenhador de peixes ||| poema de Charles Bukowski

por Carlos Pereira \foleirices, em 07.03.20

um desenhador de peixes

 

ele não parava de desenhar peixes

em papéis

e eu disse:

Jack, o que é que se passa?

mas ele não respondia

e a mulher dele disse

não há meio de ele procurar emprego

é isso que se passa

e eu tenho de tomar conta

dos putos; não sei

como é que vamos

fazer esta merda.

 

ele não parava de desenhar peixes

em papéis

e nem bêbedo estava.

 

fui à rua e trouxe 2

garrafas de vinho

e a patroa dele

encheu os copos.

 

e o Jack bebeu o dele

depois praguejou: esta

esferográfica fica sempre

sem tinta

quando estou mesmo no ponto crucial,

no cerne, quando estou

finalmente a arder

na cera imbecil do fogo...

 

atirou a caneta

para uma saco de papel cheio de garrafas vazias,

latas de sardinha e

de feijão vazias, vestiu o casaco

e saiu.

 

para onde é que ele vai?

perguntei.

 

estou-me nas tintas

para onde ele vai,

disse a patroa dele.

depois levantou o vestido

e mostrou-me as pernas;

eram bastante boas, eu

sempre fui um gajo de pernas

mas dirigi-me ao armário

e vesti o casaco.

 

onde é que vais? perguntou ela.

 

vou procurar emprego,

disse-lhe,

há um anúncio no Times,

precisam de porteiros

no novo edifício Fleischman.

 

desci os degraus

e andei meio quarteirão para norte

até ao bar mais próximo.

 

O jack estava lá sentado.

 

Não sei, disse ele,

acho que me vou

matar.

 

não faz mal, disse eu,

isso vai acontecer

de qualquer modo.

 

ficámos ali sentados o resto da tarde

a beber

e por volta das 7 da tarde saímos,

ele com uma tipa de cabelo flamejante

e eu com uma manca

leitora de Henry James

que se ria de boca

à banda.

 

estavam 17 graus

e pouco restava

do mundo.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI RETIRADO DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS", EDIÇÃO  ALFAGUARA DE NOVEMBRO DE 2018. ROSALINA MARSHALL TRADUZIU E VALÉRIO ROMÃO FEZ A SELECÇÃO, A ORGANIZAÇÃO E O PREFÁCIO

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publicado às 18:22


#2944 - O MAIS FORTE ENTRE OS ESTRANHOS

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.01.19

charles-bukowski-hulton-getty-e1497218267723.jpg

CHARLES BUKOWSKI

 

O MAIS FORTE ENTRE OS ESTRANHOS

 

não os encontrarás com regularidade

pois não se encontram

onde se encontra 

a multidão

 

estes seres ímpares,

não há muitos

mas deles

vêm

os poucos

bons quadros

as poucas

boas sinfonias

os poucos

bons livros

e outras

obras.

 

e dos

melhores

entre os estranhos

talvez

nada.

 

eles são

os seus próprios

quadros

os seus próprios

livros

a sua própria música

as suas próprias

obras.

 

às vezes penso

que

os vejo - por exemplo

um determinado

velho

sentado num

determinado banco de jardim

de uma determinada 

forma

 

ou

uma cara fugaz

num carro

que passa

em direcção

contrária

 

ou

há um certo

gesto de mãos

do rapaz ou

da rapariga

a embalar compras

em sacos

de supermercado.

 

às vezes

até é alguém

com quem se vive

há algum

tempo - 

dás conta de

um fugidio

olhar luminoso

que nunca lhes viras

antes.

 

às vezes

apenas notas

a sua existência

subitamente

e de forma vívida

alguns meses

alguns anos

depois de

partirem.

 

lembro-me 

de um caso

assim -

ele tinha

cerca de 20 anos

bêbedo

às 10 da manhã

a fitar

um espelho partido

em Nova Orleães

 

cara sonhadora

contra

as paredes 

do mundo

 

para

onde

fui eu?

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI IN "OS CÃES LADRAM FACAS" - EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018

 

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publicado às 17:21


#2928 - LIVROS E LEITURAS

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.12.18

charles bukovski os  caes ladram facas023 (2).jpg

CONSELHO

 

tal como o vento corta, outra vez, desde o mar

e a terra é assolada por tumultos e desordem

tem cuidado com o sabre da escolha,

lembra-te

o que talvez fosse nobre

há 5 séculos

ou até mesmo 20 anos

é agora

a maior parte das vezes

um acto desperdiçado

a tua vida passa uma única vez

já a história tem oportunidade atrás de oportunidade

para provar a imbecilidade dos homens.

 

Tem cuidado, portanto, diria eu,

com qualquer 

acto

ideal

ou acção

aparentemente nobre,

seja por este país ou por amor ou pela Arte,

não te deixes possuir pela proximidade do minuto

nem pela beleza ou pela política

que murcharão como flores cortadas;

amor, sim, mas não enquanto ardil do casamento,

e cuidado com comida má e trabalho excessivo;

terás de viver num país,

mas amar não é uma ordem

seja mulher seja nação;

leva o teu tempo; e bebe tanto quanto seja necessário

por forma a manter a continuidade,

porque a bebida é um modo de vida

através do qual o participante reclama

uma nova oportunidade na vida;

mais ainda, direi,

vive sozinho o máximo possível;

cria filhos se por acaso acontecer

mas tenta não ter de aguentar

criá-los; não te envolvas em questiúnculas

de mão ou voz

a não ser que o teu adversário atente contra a tua vida

ou contra a vida da tua alma; então,

mata, se necessário; e quando chegar a hora da morte

não sejas egoísta:

pensa como é económica a morte

e no lugar paraonde vais:

sem qualquer marca de vergonha ou de fracasso

ou necessidade de compaixão

como o vento corta desde o mar

e o tempo passa

erodindo os teus ossos numa paz suave.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI EXTRAÍDO DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS", EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018

 

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publicado às 17:28


#2713 - Então queres ser um escritor?

por Carlos Pereira \foleirices, em 11.12.17

CHARLES BUKOWSKI

 

ENTÃO QUERES SER UM ESCRITOR?

se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração, da tua cabeça, da tua boca
das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas chato nem aborrecido e
pedante, não te consumas com auto-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra alternativa.
e nunca houve.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

 

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publicado às 17:12


#2700 - Quatro e Meia da Manhã

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.11.17

 CHARLES BUKOWSKI

 

os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre

quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro e dirão:
“ele tá bêbado de novo”,
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo e
como algo esfaqueado
e cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

 

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publicado às 18:16


#2698 - O PÁSSARO AZUL

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.11.17

 CHARLES BUKOWSKI

Nascimento16 de agosto de 1920, Andernach, Alemanha
 
 

há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você?

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

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publicado às 23:16


#2310 - A LOVE POEM BY CHARLES BUKOWSKI

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.04.17

 

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publicado às 23:25


#2309 - Charles Bukowski

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.04.17

 

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publicado às 23:18


#1549 - O Pássaro Azul

por Carlos Pereira \foleirices, em 08.12.11

Inspirada pelo popular poema de Charles Bukowski a animação da artista plástica e designer Monika Umba basta por si. Se quiser conferir o texto original, clique aqui.

 

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publicado às 19:01


#1221 - Poema de Charles Bukowski

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.02.10

há um pássaro azul no meu coração

que quer sair

mas eu sou demasiado duro para ele,

e digo, fica aí dentro,

não vou deixar

ninguém ver-te.

há um pássaro azul no meu coração

que quer sair

mas eu despejo whisky para cima dele

e inalo fumo de cigarros

e as putas e os empregados de bar

e os funcionários da mercearia

nunca saberão

que ele se encontra

lá dentro.

há um pássaro azul no meu coração

que quer sair

mas eu sou demasiado duro para ele,

e digo, fica escondido,

queres arruinar-me?

queres foder-me o

meu trabalho?

queres arruinar

as minhas vendas de livros

na Europa?

há um pássaro azul no meu coração

que quer sair

mas eu sou demasiado esperto,

só o deixo sair à noite

por vezes

quando todos estão a dormir.

digo-lhe, eu sei que estás aí,

por isso

não estejas triste.

depois,

coloco-o de volta,

mas ele canta um pouco lá dentro,

não o deixei morrer de todo

e dormimos juntos

assim

com o nosso

pacto secreto

e é bom o suficiente

para fazer um homem chorar,

mas eu não choro,

e tu?

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publicado às 00:04


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