Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
JOSÉ LUIZ TAVARES
CIDADE VELHA REVISITADA
Darling, agora que mareio
ao descompasso desta chuva,
num maxixe bem swingado,
é vida esse eco que escoa
ao rasgão do frio na pele?
No sossego delatado
pela voz de um búzio,
dói, darling, essa distância
em que tudo se faz cerração
e o pensamento declina
ao gosto da época,
mesmo se a safra é agora
o pólen que fica nos dedos
e evoca longínquas serranias.
Ó, darling, o mundo
é esta derme que escurece
enquanto a boca mastiga
a heteronímica dúvida
se o homem é apesar
da sua pele ou da faca
que lhe fincam ao invés.
Sangra-me essa dúvida, darling,
num derrame prolongado,
e é sem respostas que me enrolo
à poeira que desumidifica
o rufar de domingo,
enquanto, ao débito da calema,
subo, darling, humílimo transeunte,
até onde o deus se acocora
e entre gritos selvagens
vinco-lhe na boca
a limpidez que supusera
as primícias do teu nome.
POEMA DE JOSÉ LUIZ TAVARES