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BORRAS DE IMPÉRIO
I
Os impérios sempre se fizeram
com os que são forçados a fazê-los
e com os que ficam para ser mandados
e cuspidos pelos que querem fazê-los.
Por isso, há nos povos imperiais
algo de um visgo de alma: que ou é cuspo,
ou um prazer dolente como de escarra e cospe.
II
Há impérios que deixam no deserto ruínas de capitais pomposas.
E há os outros que se desculpam com tremores de terra
de terem passado sobre si mesmos como gafanhotos.
III
Pergunto-me a mim mesmo como foi possível:
ou os impérios o seu povo até que ele seja
uma raça agachada, mesquinha e traiçoeira,
ou é com gente dessa que os imnpérios se fazem,
já que nada glorioso se constrói humanamente
sem 10% de heróis e 90% de assassinos.
Que coisa fedorenta a glória, sobretudo
enquanto não passam séculos e só ruínas
fiquem - onde nem o pó dos mortos
ainda cheire mal.
IV
Portugal é feito dos que partem
e dos que ficam. Mas estes
numa inveja danada por aqueles terem
sido capazes de partir, imaginam-lhes a vida
a série de triunfos sonhados que eles mesmos
nas horas de descrerem da mesquinhez em que triunfam
todos os dias. E raivosamente
escondem a frustração nos clamores
da injustiça por os outros lá não estarem
(como eles estão), do mesmo passo
que se ocupam afanosamente em suprimi-los
(não vão eles ser tão tolos-
- a ponto de voltarem).
8 de Junho de 1971
(EXORCISMOS, 1972)
BORRAS DE IMPÉRIO
I
Os impérios sempre se fizeram
com os que são forçados a fazê-los
e com os que ficam para ser mandados
e cuspidos pelos que querem fazê-los
Por isso, há nos povos imperiais
algo de um visgo de alma: que ou é cuspo,
ou um prazer dolente como de escarra e cospe.
II
Há impérios que deixam no deserto ruínas de capitais pomposas.
E há os outros que se desculpam com tremores de terra
de terem passado sobre si mesmos como gafanhotos.
III
Pergunto-me a mim mesmo como foi possível:
ou os impérios gastam o seu povo até que ele seja
uma raça agachada, mesquinha e traiçoeira,
ou é com gente dessa que os impérios se fazem,
já que nada glorioso se constrói humanamente
sem 10% de heróis e 90% de assassinos.
Que coisa fedorenta a glória, sobretudo
enquanto não passam séculos e só ruínas
fiquem - onde nem o pó dos mortos
ainda cheire mal.
IV
Portugal é feito dos que partem
e dos que ficam. Mas estes
numa inveja danada por aqueles terem
sido capazes de partir, imaginam-lhes a vida
a série de triunfos sonhados por eles mesmos
nas horas de descrerem da mesquinhez em que triunfam
todos os dias. E raivosamente
escondem a frustração nos clamores
da injustiça por os outros lá não estarem
(como eles estão), do mesmo passo
que se ocupam afanosamente em suprimi-los
(não vão eles ser tão tolos -
- a ponto de voltarem).
POEMA DE JORGE DE SENA ESCRITO EM 8 DE JUNHO DE 1971
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