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ANNITA COSTA MALUFE
ANOTAR FORTUITAMENTE O BRANCO
anotar fortuitamente o branco o
contorno do vidro modulando o
branco do céu anotar como quem
anota rapidamente um recado as
letras dando a entender um nome
o vidro embaçado pela maresia
a planta fina que cresce entre as telhas
úmidas anote o que digo mas rápido
a voz tem um sotaque rápido ou
lento não sei bem o nome
de onde? um sotaque não me lembro
não faz sentido os nomes são
sempre os mesmos fortuitamente
anoto o contorno que modula veja
o tom de branco esgarçando
aqui rapidamente anote o que
digo entre as telhas na primavera
costuma ser nesta época não sei
de onde este sotaque este modo
de esticar o «r» eu acho que é
nesta época esta planta fina os ramos
costumo anotar mas rapidamente
o contorno se desfaz em seguida e
é entre as telhas na infiltração dos dias
um reflexo automático nisto
de falar da morte e em seguida
olhar o relógio
«Há uma espécie de reflexo automático nisso de falar da morte e, em seguida, olhar o relógio.»
M. Benedetti, A trégua
Poema de Annita Costa Malufe, poeta brasileira