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#2933 - "MENSAGENS TROCADAS" DE ALEXANDRA DE PINHO

por Carlos Pereira \foleirices, em 15.12.18

alexandrade pinho024.jpg

Alexandra de Pinho, pintora, expõe na Sala de Exposições da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira o seu mais recente trabalho denominado "Mensagens Trocadas".

A exposição está patente ao público de 15 de Dezembro de 2018 a 26 de Janeiro de 2019.

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publicado às 18:44


#2816 - Grita...o mais alto que puderes

por Carlos Pereira \foleirices, em 03.04.18

 ALEXANDRA DE PINHO  EXPRESSÕES

 

Sobe

sobe até ao ponto mais alto do monte

e grita

Grita o teu nome

o nome dos teus pais

o nome dos teus filhos

se os tens

 

Grita

grita o mais alto que puderes

até sentires o peito a arder

mas grita

não te importes com a dor

muitas vezes alivia

 

Sobe

sobe ao sítio mais alto do monte 

e berra

berra as provocações que sofreste

as humilhações cravadas na cabeça para que não esquecesses

os maus e feios nomes tatuados na face da tua pele

 

Não gemas

grita

berra

o mais alto que a dor conseguir suportar

até as nuvens sumirem e

o céu ficar todo azul

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publicado às 18:53


#2779 - Miragens

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.02.18

 PINTURA  DE  ALEXANDRA  DE  PINHO

 

O corpo desliza no delírio, enquanto

um fruto amadurece no ventre.

O deserto sob os pés,

a cabeça deitada sobre o seio da duna descansa

da dor e da viagem.

Uma boca de areia, o milagre da água é uma miragem.

lâminas ondulantes brotam do solo quente e

formam cortinas transparentes enganando

o desejo. Obsessivo. Louco.

 

E o corpo continua a deslizar no delírio.

Apesar da noite, apesar do frio e

do brilho metálico  sonoro das estrelas,

a certeza que dos olhos brotarão tamareiras

quando o milagre acontecer.

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publicado às 22:43


#2731 - Pânico

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.12.17

 ALEXANDRA DE PINHO  TRANSFRAGMENTOS

 
PÂNICO
 
É Inverno
o pássaro foge,
não gosta da noite.
o pinheiro enrola as raízes mais fundo.
o cristal parte-se.
a porta abre-se.
o dia afoga-se entre coxas e mamas e
perde a memória.
o vento uiva por entre espinhos e espelhos.
a chuva que tudo limpa e o
carrossel onde os cães se escarrancham.
almas frígidas montadas em cavalos com cio.
espadas, superstições, cânticos.
a noite que engole o dia, sôfrega, num
espasmo de
dor e prazer.

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publicado às 14:03


#2592 - Sem título

por Carlos Pereira \foleirices, em 18.09.17

 

ALEXANDRA DE PINHO (SECRETOS REGISTOS) - TECIDOS, DESENHOS E RESINA DE POLIÉSTER

QUADRO COM 20x20 cm - 2005

 

O mundo escurece

para quem nunca sonha, 

não vê,

não se interroga:

como se o pavio de velas terminasse,

um a seguir ao outro,

até ao último milímetro de luz.

 

Por isso, o  medo

ganhará vontade e

tomará conta de nós,

aprisionará o dia

e será sempre noite,

e reduzirá as estações a um inverno eterno.

 

E os nossos olhos cegarão

E as nossas bocas se fecharão

pois o tempo de ver, de falar, de protestar

já esgotou.

 

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publicado às 21:45


#2557 - SOLIDÃO

por Carlos Pereira \foleirices, em 17.08.17

 ALEXANDRA DE PINHO (CONTRA-CORPO)

 

SOLIDÃO

 

No meio da multidão  somos apenas mais um.

Anónimos.

Quase todos se devem sentir assim.

Anónimos,

sem rosto,

iguais a tantos outros,

indistintos,

como se nós fossemos todos e não nós.

Mas subitamente

sentimos que estamos sós

às escuras,

encerrados dentro de um círculo de sombras

em confronto directo connosco

e com os nossos desejos

impulsos

fantasmas

fantasias

frustraçoes.

E vemos

gente que se atropela, que se toca, que se roça.

E vemos

gente perplexa suspensa nos gestos de outrem,

as bocas que se abrem e tomam  a forma do espanto.

E os olhos que não pestanejam

hipnotizados  pelas luzes vermelhas

das palavras  penduradas nas portas

que são um sinal,

um código

que anunciam para iminências urgentes

de corpos ardentes

que buscam o ventre da noite para se tocarem

nos sítios do desejo, e do desespero.

E das janelas dos quartos escorre uma luz coada

que ilumina as silhuetas difusas de corpos nus

que se abraçam

antes que a melancolia da noite chegue

e o prazer dê lugar ao cansaço

ou à desilusão.

E continamos sós.

Apenas nós e a solidão.

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publicado às 19:46


#2493 - QUANDO A ALMA DÁ LUGAR À SOMBRA

por Carlos Pereira \foleirices, em 06.07.17

 

 

 

 SECRETOS REGISTOS - ALEXANDRA DE PINHO

 

QUANDO A ALMA DÁ LUGAR À SOMBRA

 

Um homem parado.

Um homem deitado sobre as sombras

gasosas de um néon decadente

 

E a  sombra do homem que se alonga pela intermitência

da luz do reclamo que anuncia empréstimos

a quem tiver dificuldades e der garantias

 

E a sua sombra que se esconde dentro

da luz que se apaga

para se tornar invisível e anónimo

 

E a  alma que foge

do homem parado

sem forças para voar

 

Os seus olhos

duas gemas de sal

de tanto chorar

 

Na extremidade dos braços as mãos em forma de concha

por tanto esmolar mas depois de o insultar

ainda tem que agradecer

 

Um novo dia começa

parido das entranhas

de uma insónia grávida de dor e desespero

 

E o homem

magoado

e

envergonhado

continua parado à porta do agiota

com ar de derrotado.

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publicado às 21:46

 GRAPHIDIS SCIENTIA 5

Linhas de algodão cosidas em papiro

35cm x 35cm   -   2010

AUTORA: ALEXANDRA DE PINHO

 

 

Sente-se.

Está sentado?

Encoste-se tranquilamente na cadeira.

Deve sentir-se bem instalado e descontraído.

Pode fumar.

É importante que me escute com muita atenção.

Ouve-me bem?

Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo.

 

Você é um idiota.

Está realmente a escutar-me?

Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção?

Então

Repito: você é um idiota.

Um idiota.

I como Isabel, D como Dinis, outro I como Irene, O como Orlando, T como Teodoro, A como Ana.

Idiota.

 

Por favor não me interrompa.

Não deve interromper-me.

Você é um idiota.

Não diga nada. Não venha com evasivas.

Você é um idiota.

Ponto final.

 

Aliás não sou o único  a dizê-lo.

A senhora sua mãe já  o diz há muito tempo.

Você é um idiota.

Pergunte pois aos seus parentes

Se você não é um I.

Claro, a você não lho dirão

Porque você se tornaria vingativo como  todos os idiotas.

Mas

Os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota.

 

É típico que você o negue.

Isso mesmo: é típico que o I negue o que é.

Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um I.

É francamente fatigante.

 

Como vê, preciso de dizer mais uma vez

Que você é um I.

E no entanto não é desinteressante para você saber o que você é

E no entanto é uma desvantagem para você não saber o  que toda a gente sabe.

Ah, sim, acha você que tem exactamente as mesmas ideias do seu parceiro.

 

Mas também ele é um idiota.

Faça favor, não se console a dizer

Que há outros I.

Você é um I.

 

De resto isso não é grave.

É assim que você poderá chegar aos 80 anos.

Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem.

E então na política!

Não há dinheiro que o pague.

Na qualidade de I você não precisa de se preocupar com mais nada.

 

E você é I.

(Formidável, não  acha?)

 

Você ainda não está ao corrente?

Quem há-de então dizer-lho?

O próprio Brecht acha que você é um I.

Por favor, Brecht, você que é um perito na matéria, dê a sua opinião.

 

Este homem é um I.

Nada mais

 

Não basta tocar o disco uma só vez.

 

Poema de Bertolt Brecht, in Colecção Forma da Editorial Presença, selecção e estudo de Arnaldo Saraiva.

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publicado às 15:06


#2491 - AS MARÉS DO CORPO

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.07.17

 TRÍPTICO - QUADRO DA AUTORIA  DE ALEXANDRA DE PINHO

 

AS MARÉS DO CORPO

 

O corpo

que se vai inclinando

na exacta medida

do tempo que o dia

demora a encontrar

a noite e

que ganha sombras e asas

até ficar 

na horizontal

em

linha paralela 

com a luminosa vertigem do

sonho.

 

 

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publicado às 22:51


#1716 - O Amor

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.07.12

Tecidos e resina de poliéster sobre gesso
15x30x10cm
ALEXANDRA DE PINHO

 

 

O AMOR

 

De repente soube

que estava na solidão como numa casa

conhecida e opaca.

Durava o meu silêncio, poderia durar

qualquer momento: amor, entrega

ao infinito lume de cada ser.

Pouco importava.

 

Nem era a solidão que importava.

Nem o amor.

Podia eu respirar? Sim, podia.

Os ruídos da casa acentuavam-se no escuro.

Longe, um vidro refractava uma luz insidiosa,

terna e obsessiva.

Mas isso era longe. Noutro quarto alguém dormia.

 

Eu, excluído

de todos os encontros. Mas isso, agora,

tornava-se igualmente irrelevante.

 

A luz modificava proporções e relevos.

Os quartos abriam-se à claridade

e o teu corpo que dormia era apenas mais uma peça

de uma misteriosa mecânica.

 

Eu, excluído.

O silêncio por dentro da casa habitava

o começo da luz.

 

Os ruídos eram soltos,

aparentemente incongruentes.

Como os quartos, que abriam para outros quartos

ou para o vazio,

como os corredores, sem saída

aparente,

como as escadas

abertas para o céu

frio.

 

Do mesmo modo, amar pode muitas vezes

passar por esse despido desamor

que o teu corpo deitado no quarto, aberto apenas

à luz desconhecida,

me pedia e continha.

Este silêncio é da casa e é de fora da casa.

A mecânica do amor não conhece

pausas.

 

Desola tanta frieza,

tanta aridez consentida,

tanta angústia antiga afugentada como um erro.

É o amor. O teu corpo dorme,

o quarto arde já de tanta luz.

Vem, tudo se perdeu.

Vem, rasga, ou abre com indiferença as cortinas,

a luz há muito já que entrou

para dentro do quarto, alastrou pelos móveis,

infectou madeiras, corroeu os corredores e as passagens,

anulou os segredos.

 

Olha: é o amor, por fim.

Desolação e queda.

 

Poema de Luís Filipe Castro Mendes

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publicado às 19:03

 

De 22 de Maio a 27 de Junho na sala de exposições da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira

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publicado às 23:46


#1145 - 2009 | Eruptio

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.01.10

2009 | Eruptio

Eruptio técnica mista sobre tela, 160x160 cm
 
Autora: Alexandra de Pinho

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publicado às 22:52

 

Santa Maria da Feira

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publicado às 13:23


Há palavras que nos beijam

por Carlos Pereira \foleirices, em 13.05.09

 

 

 Alexandra de Pinho

 

Alexandre o'Neill

 

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

 

In No Reino da Dinamarca

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publicado às 11:35


Exposição de pintura - Áxis Mundi

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.03.09

Para ver até 2 de Maio exposição de pintura de Alexandra de Pinho na Galeria Ao-Quadrado - Galeria de Arte Contemporânea, em Santa Maria da Feira.


"... o confronto entre as linhas do corpo e as dúvidas da humanidade inerentes ao mesmo..."

 

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publicado às 17:48


Teoria sentada

por Carlos Pereira \foleirices, em 11.02.09

alexandra de pinho

 

A minha idade é assim - verde, sentada.

Tocando para baixo as raízes da eternidade.

Um grande número de meses sem muitas saídas,

soando

estreitos sinos, mudando em cores mergulhadas.

A minha idade espera, enquanto abre

os seus candeeiros. Idade

de uma voracidade masculina.

Cega.

Parada.

Algumas fixam-se à sua volta.


Idade que ainda canta com a boca

dobrada. As semanas caminham para diante

com um espírito dentro.

Mergulham na sua solidão, e aparecem

batendo contra a luz.

É uma idade com sangue prendendo

as folhas. Terrível. Mexendo

no lugar do silêncio.

Idade sem amor bloqueada pelo êxtase

do tempo. Fria.

Com a cor imensa de um símbolo.


Eu trabalho nas luzes antigas, em frente

das ondas da noite. Bato a pedra

dentro do meu coração. Penso, ameaçado pela morte.

É uma raíz séca, canta-se

no calor. É uma idade cor da salsa.

Amarga. Imagino

dentro de mim. Trabalho de encontro à noite.

Procuro uma imagem dura.


Estou sentado, e falo da ironia de onde

uma rosa se levanta pelo ar.

A idade é uma vileza espalhada

no léxico. Em sua densidade quebram-se

os dedos. Está sentada.

Os poentes ciclistas passam sem barulho.

Passam animais de púrpura.

Passam pedregulhos de treva.

É para a frente que as águas escorregam.


Idade que a candura da vida sufoca,

idade agachada, atenta

à sua ciencia. Que imita por um lado

as nações celestes. Que imita

por um lado a terra

quente.

Trabalhando, nua, diante da noite.

 

Herberto Helder - Ofício Cantante, Assírio & Alvim, edição 1297, Janeiro de 2009

 

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publicado às 12:12


Secretos Registos

por Carlos Pereira \foleirices, em 23.10.08

Alexandra de Pinho

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publicado às 18:21


Elogio da Máscara

por Carlos Pereira \foleirices, em 23.10.08
Tecidos e resina de poliéster sobre gesso
15x30x10cm
Alexandra de Pinho

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publicado às 18:16


Umbigos

por Carlos Pereira \foleirices, em 23.10.08

Alexandra de Pinho

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publicado às 18:12


Luminis

por Carlos Pereira \foleirices, em 13.10.08

Alexandra de Pinho

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publicado às 13:20


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