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SONETO
E quando eu era um príncipe e andava entre os rebanhos,
e só havia a pressa do bonde e da guitarra,
eu ia para a escola montado num carneiro,
o pássaro do sonho pousado no meu ombro.
E passavam por mim, a conduzir os jumentos,
aguadeiros descalços, franzinos, remelentos,
e a dor que deles tinha, ensolarada no corpo,
eu a via queimar-se no fogão da cozinha,
nas guelras dos pescados, na rouquidão espessa
do grito das galinhas, no retesar da corda
que prendia os cabritos, os asnos e os soinhos.
Mas não a imaginava nesta adulta tristeza
e que vestiram de amor, como se não bastasse
que a ave no meu ombro me bicasse as orelhas.
Poema de Alberto da Costa e Silva
A Adolescência de Holderlin
Os deuses correm sobre a relva e atam
o sol ao seu redor.
Lançam o efémero
amanhecer no areal.
E, sendo a venda
que levam sobre os olhos pouco espessa,
aprendem nossos rostos,
para a morte.
Nosso fel escondido
só veriam
e o escuro das vísceras,
se, amantes,
não suasse a beleza em nossa pele.
(Por isso, contra os deuses,
há o eterno.)
(Ao lado de Vera)