Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
ACORDAR NA RUA DO MUNDO
Madrugada, passos soltos de gente que saiu
com destino certo e sem destino aos tombos
no meu quarto cai o som depois
a luz, ninguém sabe o que vai
por esse mundo, que dia é hoje?
soa o sino sólido as horas, os pombos
alisam as penas, no meu quarto cai o pó.
um cano rebentou junto ao passeio.
um pombo morto foi na enxurrada
junto com as folhas dum jornal já lido.
impera o declive
um carro foi-se abaixo
portas duplas fecham
no ovo do sono a nossa gema.
sirenes e buzinas. ainda ninguém via satélite
sabe ao certo o que aconteceu. estragou-se o alarme
da joalharia. os lençóis na corda
abanam os prédios. pombos debicam
o azul dos azulejos. assoma à janela
quem acordou. o alarme não pára o sangue
desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o
vídeo não gravou
e duma varanda um pingo cai
de um vaso salpicando o fato do bancário
POEMA DE LUIZA NETO JORGE