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LUIS MAFFEI
1976
A palavra formiga é muito longa para ser formiga
O boi não cabe em suas letrinhas
Armário escrito num papel colado ao puxador não
cria um outro armário sobre o armário nem
desmata o que foi mata e já se desmatou há muito
nem desmata o armário morto pelo texto que o inventa só
na morte Isso
tudo é educação pelas perdas que bem se têm
que mal se veem
que só se notam quando é noite a gente sua
e chora como quem responde ao mundo uma resposta muito
boi pouco formiga
e entende
aos poucos
que é por pouco que não fomos concluídos bem no instante de
nascermos que é
um pouco
ir para a vida ir para a morte
ir a palavras como boi como fer
mento muito curta para ser de au
mento muito longa para ser um
boi Isso era educação caso não
fosse noite mal dormida como nunca uma vigília a imitará quando
palavras forem vozes de uma vida que
sem jeito
se encontra a si em poça de suor e urina e cabelos ensebados
pelo medo pelo armário sem
amante nem vestido sem
infância com
infância demais quando não falo
e mais quando só falo e falo dessa infância onde tudo fica ainda e quando boi
era formiga e um mendicante amor de tudo era o
futuro em que
(é agora?)
mendigo ainda e sei que tu mendigas pelo avesso o mesmo
extremo encontro a mesma aberta
cárie a mesma morte que me abraça como
um urso e consegue a criação da vida inteira e o suadouro das palavras
que usam boca e ressuscitam
Poema do poeta brasileiro Luis Maffei