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Concebida como parte de um conjunto de dez casas, cada uma destinada a um canto de Os Lusíadas, de Luís de Camões, a casa Machina Mundi é dedicada ao Canto X. Neste trecho, o poeta descreve a explicação dada pelas ninfas aos argonautas Portugueses sobre o funcionamento do universo de acordo com a ideia de Machina Mundi.
Bernardo Rodrigues interpretou esta encomenda, inicialmente destinada aos jardins de um solar do século XV no Ribatejo, como uma casa que está de acordo com as leis de que o universo é uma "máquina etérea e elementar", "sem princípio nem fim". E projectou um espaço simultaneamente do passado, do presente e do futuro, com reminiscências tanto às novas tecnologias, como os sistemas de energias renováveis, como ao pensamento clássico renascentista, evocando arquitectos deste período como Bruneleschi.
E conferiu um valor cénico à casa, cuja forma se assemelha tanto a uma ave como a uma nave espacial. Esta solução permitiu extravasar os limites de tempo e espaço geralmente associados a uma habitação: por um lado dá- -lhe uma conotação de algo fora do espaço tradicionalmente conhecido para habitar e acentua o seu carácter etéreo. Por outro, evoca a "intemporalidade" por sugerir tanto o futuro (nave espacial) como o passado ou e o eterno (a ave).
Por outro lado, a forma esférica da cúpula, que domina a volumetria da casa, remete para as definições de universo contemporâneas a Camões, como a baseada em Ptolomeu, que sugeriam que o universo era constituído por uma esfera, cujo centro era a Terra e a partir da qual giravam planetas e estrelas.
A casa é organizada a partir desta grande cúpula, de cerca de quinze metros de diâmetro, para onde os espaços sociais e "públicos" da casa convergem no piso da entrada, esta forma aloja salas e cozinha, e em particular a mesa de refeições, colocada no centro geométrico da projecção circular da esfera. Duas piscinas, uma interior e outra exterior, completam este nível. No piso imediatamente superior localizam-se dois quartos, numa plataforma que sustenta a cúpula, e a biblioteca/sala de leitura, estes últimos em forma circular e já dentro da cúpula. O último piso é ocupado por um quarto, na plataforma de base, e por uma grande espiral, que vai fechando a cúpula.
Os interiores destes espaços são pontuados de acontecimentos, ora subtis ora dramáticos, mais uma vez com forte carácter cénico e simbólico: a título de exemplo, a sala de leitura tem uma frincha no sentido norte-sul que deixa entrar um raio de luz que aponta para a piscina exterior. Noutras ocasiões, este feixe vai inundar a cúpula de luz, criando um efeito cintilante, semelhante ao céu inebriado de estrelas.
A cúpula é totalmente revestida a painéis solares, extremamente finos, que recebem a luz e a transformam em energia eléctrica para alimentar a casa. Estas superfícies, que aludem a asas de uma ave pela forma e agrupamento, têm a particularidade de se adaptarem ao movimento do Sol optimizando esta fonte de energia natural e inesgotável. É uma opção que reflecte as escolhas de Bernardo Rodrigues em enfatizar a casa enquanto sistema ou máquina, mas também de a tornar o mais sustentável possível do ponto de vista de consumo energético.