Manuel António Pina - Crónicas
Uma história portuguesa
Por outras palavras, de Manuel António Pina
"A novela "Casino de Lisboa" deveria ser incluída no Plano Nacional de Leitura de modo a instruir, desde pequeninos, os portugueses em ética política. O argumento é simples e exemplar uma empresa obtém a concessão de um casino e pretende ficar com o edifício para si e não que ele, como a lei determina, reverta para o Estado. É preciso, pois, mudar a lei. O problema é que as empresas não fazem (supostamente) leis. Quem faz as leis são os políticos que os portugueses elegem para, também supostamente, defender os interesses do Estado. A empresa faz então uns telefonemas e mete no assunto o líder e o director financeiro de um partido do Governo. Ao mesmo tempo escreve ao ministro encarregado da coisa sugerindo-lhe uma "alteração cirúrgica" da lei, "insusceptível" de ser relacionada com o caso. O ministro altera a lei, a empresa mete o edifício ao bolso e todos são felizes para sempre. Às vezes, quando a história tem um "happy end" à altura, o ministro acaba no Conselho de Administração da empresa. Antes disso, se for preciso, o chefe (ou ex-chefe) do Governo vai à televisão explicar que foi tudo para "bem de Portugal" e perguntar: "Acham que eu ia dar um casino?". Obviamente (a história passa-se em Portugal, isto é, em sítio nenhum), ninguém lhe responde."
Texto de Manuel António Pina publicado no "Jornal de Notícias", 19 de Fevereiro de 2008
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carlos pereira at
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