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Meu Be«be»zinho lindo:
Não imaginas a graça que te achei hoje à janella da casa de tua irmã! Ainda bem que estavas alegre e que mostraste prazer em me ver (Álvaro de Campos).
Tenho estado muito triste, e além d’isso muito cansado – triste não só por te não poder ver, como também pelas complicações que outras pessoas teem interposto no nosso caminho. Chego a crer que a influência constante, insistente, hábil d’essas pessoas; não ralhando contigo, não se oppondo de modo evidente, mas trabalhando lentamente sobre o teu espírito, venha a levar-te finalmente a não gostar de mim. Sinto-me já differente; já não és a mesma que eras no escriptorio. Não digo que tu própria tenhas dado por isso; mas dei eu, ou, pelo menos, julguei dar por isso. Oxalá me tenha enganado…
Olha, filhinha: não vejo nada claro no futuro. Quero dizer: não vejo o que vãe haver, ou o que vãe ser de nós, dado, de mais a mais, o teu feitio de cederes a todas as influencias de familia, e de em tudo seres de uma opinião contraria à minha. No escriptorio eras mais dócil, mais meiga, mais amorável.
Enfim…
Amanhã passo à mesma hora no Largo de Camões. Poderás tu apparecer à janella?
Sempre e muito teu
In: PESSOA, Fernando. Cartas de Amor. Organização, posfácio e notas de David Mourão Ferreira. Preâmbulo e estabelecimento do texto de Maria da Graça Queiroz.3ª ed. Lisboa: Ática, 1994.