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O mundo da cultura portuguesa arrasta há quatro séculos uma existência crepuscular.
Passando à margem dos três decisivos acontecimentos espirituais da idade moderna - a cisão religiosa das reformas, a criação da físico-matemática e a filosofia cartesiana -, a nossa cultura dos séculos XV e XVI perdeu o que tinha de vivo e prometedor, para conservar apenas o comentarismo ruminante e estéril, do qual aliás jamais se libertara completamente, mesmo nas suas horas mais felizes.
De então para cá, têm-na salvo da morte absoluta os raros que teimaram em acreditar ser possível ascender de novo ao espírito da Europa. Mas sempre que isso aconteceu, a minoria responsável pelo nosso destino cultural não hesitou em submergir os seus autores no silêncio, antepondo-lhes uma inércia premeditada ou um veto concertado e decidido.
Excerto de um texto de Eduardo Lourenço retirado do livro Heterodoxia I, edição Gradiva 2005