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1.
Aqui tudo é julgamento.
Todos os atos vividos
tamborilam neste eito
e sou de mim saltimbanco.
E do que vem. Os viventes
se apresemtem. São tão reais
quanto sois. Não me desmentem.
2.
Sabei que esta forma humana
nem se compra nem vende.
Tampouco a força que jaz
sob a alma, renitente.
Ou a renitência
de ver, se desvendo
nas águas do poema
ou no seu olhar latente.
É vosso o que nele vedes.
3.
Viventes, o que sabeis
- que mundo o poema!-?
Em sua terra
nada se queima.
Viventes, o que sabeis
da morte e o resto
se nem sabemos de nós
no anel do vento?
Se nem sabemos de nós
ou donde o ingresso
na condição de estar só
com a alma ao menos
na alma de quem vos ama
dentro do poema.
Viventes, o que sabeis
da morte? O excesso
vinga com sua lei.
Tempo vivente
com estes que somos nós
e os que descendem.
Viventes, o que sabeis
deste poema?
Aqui está vivo quem
vivendo teima.
E cria a sua própria vez.
4.
Vos ponho nomes
- nomes não tendes -,
sois meus parentes
intransponíveis.
Ou apenas tendes
aqueles nomes
que vos pressentem:
sinete ou risca.
Aqueles nomes
de manjedoura
ou julgamento.
Nomes avulsos
e indossolúveis
a quem procura
desnomeá-los.
São criaturas
os nomes, naves.
E se designam
ao navegarem.
5.
Nós, os viventes
e conviventes
de um mundo antigo.
A rima é cântaro
perto da fonte.
Cântaro à noite
cântaro, cântaro
o ritmo um jorro
que se levanta.
6.
Vos ponho nomes
ou nome pondes
em quem vos põe.
Como se o lanço
dalguma escada
fosse alcançado
antes dos pés
ou a digital
de um ser viesse
antes do mal.
Ou nome tendes
antes de mim.
7.
Povo submisso
junto ao meu peito,
contigo fico.
O mais esqueço.
Contigo fico
quando for pátria
o nosso corpo,
esta fuligem.
Povo submisso
junto ao meu peito,
contigo fico.
O mais esqueço.
Contigo fico
quando for pátria
o nosso corpo,
esta fuligem
de sofrimento.
O mais nos foge.
8.
Vientes, jazemos
dsavindos.
Em força obstinada
mundo sempre domingo.
O galo não cantou.
Acordou um juízo.
A aurora sabe dosar
as coisas.
Que outros frequentam
a criação?
Tempos de um só,
sopesados e vivos.
Pode a moléstia mortal
ser entretida?
Apodrece a aurora.
Não nos conformamos
com o que não é luz.
Nossa pobre glória
sujeita ao vento,
à intempérie
da solidão.
9.
Não há pátria
a quem ama.
Porque não posso
separar o amor
do amante
que se faz a pátria dele.
E ser da solidão
é se perder.
10.
Ainda voltarei a estes campos,
a este chão, ao zumbido
das abelhas pelo tempo
querendo voejar e nelas preso.
Ainda voltarei aos meus viventes
para vê-los andar comigo
às faldas da montanha.
Ainda voltarei: os mortos sabem
soluções piedosas
e as mormuram de ouvido.
Poema de Carlos Nejar, do livro Os Viventes, edição Leya Brasil 2011