Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
A melancolia rasgava-lhe os ouvidos como bisturis que procurassem o vento que soprava da sua alma e imprimissem nos plátanos as palavras que, por pudor e vergonha, ficaram aprisionadas na garganta e por lá ficaram esquecidas. Apenas pequenos tremores denunciavam essa angústia como se fosse ervas altas bailando, quando sopradas pelas brisas mornas da primavera.
Esquecera que as palavras são para ser ditas, gritadas e não afogadas por sentimentos de culpa e medo.
Dizes que apenas sentes o vento quando este quer falar contigo e trazer-te notícias de um mundo que quiseste esquecer; e choras a raiva dos pássaros perdidos, gaguejas palavras novas que nunca ouviste ou leste e enterras os pés na terra molhada com receio de não resistires aos apelos e aos afagos dos mundos por onde o vento andou.
E olhas os plátanos e descobres nas suas folhas as palavras, os rostos e os afectos e percebes que o teu corpo se anima e voa para cumprires o teu destino.