Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Ruy Cinatti
A grande ilusão de ter-te
nas mãos húmidas,
de beijar-te
e querer-te,
homem enlaçado em ti perdido.
És mais forte do que eu
quando apenas,
mãos húmidas ou não,
tacteio o teu corpo
e, sexo oposto
ao teu,
pedes que te coma
e te empreste os dentes.
E assim prossigo
entre o aroma do cio
e o caixote do lixo
por onde passeio vazio.
Palavras!...
Árvore de jardim e pés ligeiros,
calçados. De bico
ródro.
Rosto fino ao longe assim trigueiro.
Olhos de amêndoa.
Cabelos de onda preta e um berloque.
Olhos de amêndoa.
Esponja.
Ó fox-trot
de ostras e hotéis
provinciais.
Popocatepétl!
Zagreus!
Mas é isto vida,
manter pregação no nada?
Montar selim
com debaixo nada
e cavalgar a noite?!
Meretrizes suadas
queb eu não conheci.
Popocatepétl!
Zagreus!
Senhor, deita-te na cama.
Possui-me como um toiro,
minotauro sagrado.
Dá-me o horror do pecado
enganchado nos teus braços!
Tenho sede!
Fome, fome do teu corpo!
O que como
pela boca
vai e volta
defecado.
O que como
sai pela boca
defecado.
Palavras defecadas.
E eu, e eu, e eu...
Beijar-te-ei os cornos siderais!
Meus irmãos!
Aqui me tendes unido.
Aerograma de amor, rosto fendido
pela graça!
Ilhas de prudência, escala por fazer.
Momentos do sim, do não.
Meretrizes, secundum
scripturas,
entram primeiro no Céu.
O resto
"é a vida e o seu ofício".
Nesta vida
morrer não é difícil.
O difícil
é a vida e o seo ofício."
Vamos, Maiakowsky-Jesus Cristo,
com pés ligeiros,
aprender a vida,
seguir a vida,
viver a vida
com Jesus Cristo.
O suicídio
é nada
Poema escrito por Ruy Cinatti em 1984