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ANJO MORTO
O corpo passa entre fendas na madeira.
Graficamente a representação é igual
aos veios claros e escuros. Podes
ser um corpo e no entanto também uma
linha cor de sépia. Tu foste
asfixiado pela Poética. A liberdade que
Te era possível na estrutura do Poe-
ma levou-te até à agonia. Mas a voz
em estertor é minha. E as linhas frágeis
no papel comovem-me. Tu és o Único
nesta gravura baça a água-forte.
És um resíduo incandescente. Quan-
do Te invoco recupero-Te poe-
ticamente. Nada de Ti me falta. Apenas
não Te conheço mais completo do que
ver-Te entre fendas. Ou sem lucidez.
A possibilidade que tens de me seres
alheio torna-Te incisivo como o corte
da goiva. A tua presença morta é a úl-
tima confirmação da natureza íntima
da imagem. Sulco morto na matéria.
Poema de Fiama Hasse Pais Brandão extraído do livro "Obra Breve - Poesia Reunida", edição Assírio & Alvim n.º 0976, Maio de 2006