Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A HIPÓTESE DO CINZENTO
Num país a preto e branco
recomendaram-me o cinzento. Um recurso
extraordinário. Com a hipótese do cinzento poderia
ensaiar
soluções inusitadas -
experimentar o morno (que não é frio nem
quente)
explorar o lusco-fusco (que
não é noite nem dia) praticar a omissão
(que não é mentira
nem verdade). Preto e branco misturados permitiam
finalmente
viver em conformidade
desocupar os extremos (tão alheios à virtude)
liquefazer-me na turba
no centro na
média
dourada. Com a paleta de cinzentos poderia
aprimorara arte da sobrevivência que
(como os mansos bem sabem) é
não estar vivo
nem morto.
POEMA DE JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES, DO LIVRO "O TEMPO AVANÇA POR SÍLABAS", PÁG.136, EDIÇÃO QUETZAL, 2019