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Jeremias estava só
perante a verdade e a inocência
encerradas no fundo de uma gaveta
ou noutro sítio qualquer
na forma de papéis escritos com letra maiúscula e levemente inclinada para o lado oposto do coração,
e com flores desenhadas no intervalo dos espaços em branco
por falta das palavras certas ou momentâneo esquecimento,
talvez para descobrir nas pétalas o perfume para incensar a memória. É o que recorda.
Era apenas um rapaz no início da adolescência
quando os seus olhos e ouvidos testemunharam
de maneira fortuita,
escondidos atrás do pesado reposteiro,
a poucos passos do sítio onde
sentados
com os cotovelos apoiados na pesada e enorme mesa de carvalho
as pessoas que vagamente conhecia
discutiam a leitura do manifesto que o seu avô escrevera e
titulara de "Construir a Esperança".
Mais tarde decobriu que se sentia prisioneiro
no sonho de
ele também
e em memória do seu avô
construir a esperança - para alguns uma palavra grotesca e subverssiva,
outros acusavam-no de terrorista do pensamento e da palavra.
Jeremias sentia-se só
precisava de descobrir o paradeiro dos papéis -
deviam ser os únicos com flores no lugar das palavras -
para provar que outras pessoas
muito mais antigas que ele
já falavam e escreviam sobre a
construção da esperança.
O seu único medo era que
as flores tivessem crescido tanto
que sufocariam as letras das palavras do
texto que defenderia a sua verdade
e sua inocência
para jamais se sentir só
tinha a esperança
a alma
e o tempo
necessários para a sua redenção.