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JÁ NINGUÉM ESCREVE CARTAS DE AMOR
Já é noite, meu amor!
As palavras nocturnas têm mais força
são mais audíveis, mais serenas, mais amáveis,
mais inteligentes.
Não é preciso gritar,
basta sussurrar ou deixar
escorrer o sorriso sobre a pele para não perturbar
a noite e o pássaro solitário adormecido no
galho triste da árvore nua.
Já é Outono.
As noites mais longas adormecem mais cedo e
já ninguém recebe cartas de amor,
despedida, agradecimento...
"Nós por cá estamos bem... e por aí?"...
que entretinham o leitor e os ouvintes
iluminados
pelo crepitar da fogueira.
É Outono, meu amor,
e já ninguém escreve cartas de amor
em papel com cheiro de alfazema
que, expectantes, abriamos com mãos trementes
e a alma em alvoroço.
"Amo-te"...
palavra mil vezes repetida,
corações esculpidos com caneta de tinta permanente.
Oh! amável ingenuidade.
Já é Outono, o calendário assim o diz
e as marcas gravadas na nossa pele
assim o testemunham e o nosso inverno
está aí ao virar da esquina.