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Simulo uma fábula
para acariciar as folhas
que ainda não brotaram
Simulo um estábulo de odores espessos
para o conforto do fundo do ventre
para me situar entre as raízes e os astros
Como um insecto na palma do gérmen
e numa torre profunda
vou talhar o arco de um sorriso de água
entre duas vespas agudas do verão
Volto a esta página de argila
e à luz destas paredes fulvas
Subo à garganta cálida do tempo
como um abrigo onde pulsa o sol verde
Estou entre a penumbra e as veias das janelas
entre os astros domésticos
e no movimento de uma calma massa de água
o teu corpo impele a pedra frágil
do meu canto entre a fábula e o real
Poema de António Ramos Rosa, do livro "O Teu Rosto", edição Pedra Formosa, Março 1994