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BERNARD NOËL
LISBOA
sete colinas e nenhum papa um tremor
quando o grande sol mastiga o mar da palha
as casas alinhadas como espectadores
de pé diante de outras que vêem
envelhecer por cima delas as roupas estendidas do tempo
a cidade está tão cumeada de vermelhos
que vista de cima parece menchada de sangue
o olhar procura em todo o lado o branco de uma lenda
mas o presente pequenino tudo tapou
só o corpo do poeta ficou intacto
o álcool conserva muito melhor do que a memória
assim se esconde debaixo de uma pedra pesada
a prova de que o ser é menos que o não ser
quem saberá jogar com o desassossego
para que a duração empalhe enfim a pele
e mude a aparência em carne imortal
de um momento para o outro um novo morto morreu
tanto como o mais antigo de todos os mortos
estranha igualdade que desafia o tempo
POEMA DO POETA FRANCÊS BERNARD NOËL