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O pastor, de atalaia ao redil, descansa o cansado corpo apoiado no bordão e com uma ligeira vénea, ironiza
- Que encontre o que procura...
Disse numa fala antiga, assobiando refrões desconhecidos.
Percorro caminhos incógnitos tão antigos que o mapa já os esqueceu. São rotas invisíveis desenhadas sobre a alma das pedras e a pele do tronco dos carvalhos e sobreiros que limitam os carreiros milenares.
Sigo o perfume das urzes e das giestas. Sigo o vento salgado que vem do oeste; busco os rolos de filamentos de luz coados pelas folhas acobreadas das copas densas. Busco o espírito da matéria. Tenho a ambição de econtrar as coisas primitivas de que somos feitos.
Olhar, entender, imaginar sem restrições, sem preconceitos. Nem que as imagine a essas coisas. Nem que as construe, porque temos a inteligência que se tornou mais densa e poderosa com a acumulação de memórias, gestos, experiências, lembranças e, sobretudo as muitas vidas que os nossos antepassados viveram e que vivem connosco e serão transmitidas aos que vierem a seguir.
Jogos de sombras encenam um teatro de marionetes projectadas nas paredes das encostas graníticas: representam o mundo das vivências, dos sentidos, das alegorias, das metáforas. O riso e lágrima. E sobretudo a dor - por ser a nossa primeira experiência. Somos os actores e as personagens.
Calco os rastos, já gastos pela erosão, dos passos de homens e cavalos e sinto o cheiro de um mundo que já não existe.
Somos feitos de milhares de camadas de memórias; e temos a fantástica capacidade de ter estado em lugares, momentos e eras que nunca vivemos e onde nunca estivemos.
Às vezes só basta imaginar... Às vezes é preciso sonhar para que o mundo pule e avance, como diz o poeta.