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ARMANDO SILVA CARVALHO (28 de março de 1938 - 1 de Junho de 2017)
Armando Silva Carvalho nasceu em Olho Marinho, Óbidos, em 1938. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, exerceu advocacia por pouco tempo, optando pelo jornalismo, pelo ensino, pela publicidade e pela tradução.
A sua obra tem vindo a ser reconhecida pela crítica e distinguida com diversos prémios, como o Grande Prémio de Poesia APE, o Prémio PEN Clube, o Prémio Fernando Namora, o Grande Prémio DST Literatura e o Prémio Casino da Póvoa / Correntes d’Escritas, para citar apenas alguns.
Morreu aos 79 anos de idade.
É quando suspeitamos da nossa identidade
que a escrita fecha a vida
em túmulos minúsculos no templo
duma refeição de pé,
num ofício reles, inacabado.
Muitas vezes não passa dum romance ébrio
que a nós próprios narramos
nas noites inquietas e nas crises de angústia
mais precipitadas.
E nesses espaços ínfimos
que são opulentos vasos de cicuta
fingimos que dançamos, ousamos que bebemos
e julgamos que ouvimos a voz feliz
de deus, sujeita a transfusões,
às cargas e descargas
das ternas libações duma mesa de outono.
Assim a natureza nos provoca
sabendo que a distância
entre a mão que escreve e o olhar que lê
é infinita.
Por isso nos seduz o cão da morte.
Como se fosse a vida que conformada insiste
e ataca ao entardecer
depois de um filme russo que era só névoa
só sobre vivência.
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Ninguém é filho do poema universal.
Nem pai
do seu rebanho de versos.
O que eu busco é um lar.
Um lar mais natural nas palavras
da terra
com os lábios invisíveis sobre o livro
dos mortos.
Dois poemas de Armando Silva Carvalho retirados do livro "Obra Poética (1965-1995)", páginas 631 e 634 - Edições Afrontamento, Julho de 1998 e com prefácio de José Manuel de Vasconcelos.