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RODRIGO GUEDES DE CARVALHO
ANTES DO INÍCIO
Abriu o livro e procurou a primeira frase.
Sempre ouviu dizer que o arranque de um livro é muito importante, porque se percebe logo o que podemos esperar.
Ficou surpreendido quando viu que a primeira frase dizia:
«Abriu o livro e procurou a primeira frase.»
Além da surpresa, sentiu-se observado, apanhado na inesperada e impossível ideia de que alguém lhe lia o pensamento, na livraria quase deserta.
Rodou a cabeça, espreitou por cima do ombro. Perto dele, com o mesmo livro na mão, outro leitor espreitava também, e os seus olhares encontraram-se.
Perceberam de imediato que a ambos acontecera a mesma coisa.
Abriram ambos um livro e, julgando lê-lo, estavam a ser lidos. (...)
Início do novo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho "O Pianista de Hotel", pág. 11 - Edição Publicações Dom Quixote - Maio 2017
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Rodrigo Guedes de Carvalho nasceu em 1963, no Porto.
Recebeu o Prémio Especial do Júri do Festival Internacional FIGRA, em França, com uma Grande Reportagem sobre urgências hospitalares (1997).
Estreou-se na ficção com o romance Daqui a nada (1992) vencedor do Prémio Jovens Talentos da ONU.
Seguiram-se-lhe A Casa Quieta (2005), Mulher em Branco (2006) e Canário (2007).
Elogiado pela crítica, foi considerado uma das vozes mais importantes da nova literatura portuguesa.
É ainda autor dos argumentos cinematográficos de Coisa Ruim (2006) e Entre os Dedos (2009), e da peça de teatro Os pés no arame (estreada em 2002, com nova encenação em 2016).
Regressa ao romance com O Pianista de Hotel (2017).