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ALICE SANT'ANA
DEITADO COM O DEDO NA BOCA
deitado com o dedo na boca
o sorriso invertido
curvado como uma montanha
a pele da perna uma cédula
gasta e seca
todos os dias rigorosamente iguais
banheiro, visitas, ampolas de sangue
às vezes tem mordomias como
um pedaço de pão ou uma fruta
doces nem pensar
da janela passa uma nuvem de carros
um táxi amarelo convida
a ir a qualquer lugar
sem previsão de alta o táxi é mais
uma miragem um filme
na televisão aquele programa da tv5
sobres casas em paris sem saneamento
pessoas que moram hoje, você acredita?, em quartos
sem janelas, apartamentos no sexto andar
sem elevador, como será que fazem para subir
com a água? não tomam banho, naturalmente
depois se cansa da conversa
a nuvem se torna mais espessa
na hora do rush o táxi não tem serventia
se não puder tomar o caminho que leva
ao ponto mais alto
de onde se vê a curvatura da terra
Poema da poeta brasileira Alice Sant'Ana