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CARLOS NEJAR
A GENEALOGIA DA PALAVRA
Minha morte começa a amadurecer e depois
vou comê-la como uma pera, largando o caroço
fora e depois vai vir uma semente com o mesmo
nome que vai crescer e amadurecer. Mas já não
é minha morte - é surpresa da terra apenas -
descendência de uma morte futura. Depois as
gerações perdem de vista a própria morte que
aparece como fio de água no meio das pedras,
visível a um e outro profeta. Mas nada abalará a
espécie: a vida também foi vista como um fio de
água no meio das pedras. Só que não se podia
distinguir os fios e as águas que conversavam
entre si, sem preconceito. E até moravam juntos,
vez e outra. Depois minha morte vai amadurecer
de novo, mas não será da mesma natureza. E
aprenderei a falar com o mundo. E o mundo vai
amadurecer como uma pera e depois vai vir uma
semente com o mesmo nome. Porém, já serei
eterno.
POEMA DO POETA BRASILEIRO CARLOS NEJAR, RETIRADO DO LIVRO «OS VIVENTES» - EDIÇAO DA TEXTO EDITORES LTDA - BRASIL PARA A LEYA BRASIL, 2011