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MÁRIO DIONÍSIO
eis-te de novo minha pátria inquietante
de esquinas fugidias nua aos perigos
de novo o fosso aberto o passo instável
as porteiras olhando os vizinhos olhando
e o riso frio das ilusões denunciadas
nas clareiras do espanto abertas pelo escuro
de novo tu minha pátria invisível
dos pontos cardeais em chama lenta
de novo tu minha pátria forçosa
do silêncio gritante e desolado
de novo as portas se nos fecham e os olhos
passam de largo e fingem não nos ver
de novo sós nas ruas alvejadas e de novo
os tijolos primeiros nos degraus hesitantes
cada um em seu posto a estrada vive entre folhas que voam
cada um em seu posto ergue-se a vida ao alto
vem coração aqui está a tua pátria
vem coração operário de outras horas
vem ledo e forte pelos bairros tristes
nas macieiras rompem as maçãs
desponta loiro o trigo no chão negro
é entre mortos que o futuro floresce
POEMA DE MÁRIO DIONÍSIO IN "POESIA COMPLETA", EDIÇÃO IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA, 2016