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ANTÓNIO RAMOS ROSA
O livro está aberto e há demasiada luz.
Tudo o que escreves está contido nesse livro de letras
brancas como a tua morte.
Será possível ler o sol e o silêncio desse livro branco
eternamente branco e silencioso?
Como conter a àvida necessidade de devorá-lo como se o
livro pudesse matar-nos a irredutível fome de uma
linguagem legível e luminosa?
Estamos perante a impossibilidade de ler por um excesso
de luz que é a um tempo a nossa morte e a improvável
possibilidade de escrever o que não vemos, de ler o que não
lemos.
Devoramos o livro e com os olhos cegos de brancura
transformamos a impossível leitura na escrita de uns signos
imediatos que nos devolvem a linguagem da luz apagada
pela luz.
Poema de António Ramos Rosa in "Antologia Poética", Publicações Dom Quixote, edição de Fevereiro de 2001