Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Ana Luísa Amaral (1956-2022)
EPOPEIAS DE LUZ
Queria um poema de epopeia
e luz,
escrito às duas da tarde
e num café,
o espelho à minha esquerda,
o café amarelo (que é cor de que não gosto,
mas que brilha
na tarde adolescente)
Se eu não tivesse olhar,
mas só ouivido atento a pequenos ruídos,
como uma voz e coisas indistintas:
o café a sair para lá do balcão,
uma cadeira de ferro
pintado
a arrastar-se de súbito...
Incongruências de quem tem olhar:
que no poema de epopeia
e luz
eu fale do que é táctil, mas se vê
(Ah! linha que seduz,
mas que contenho!)
Atirar a palavra pelo chão
com o abandono todo
da adolescência em tarde,
tantas horas de sol à minha frente
Deixá-la navegar como se fosse gente
quinhentista:
ao longo do desejo
e para lá
À minha esquerda, o espelho
que a reflicta,
a multiplique em sons e em sentidos,,
lhe evite idade adulta
e a guarde finalmente:
adolescente e nua
como a tarde
Até que dela nasça,
navegando,
poema de epopeia sem o ser,
mas corpo todo em luz e boa esperança:
como um Adamastor,
uma criança,
uma sereia abandonada
e livre
Poema de Ana Luísa Amaral
Estas histórias, inspiradas na própria vida do autor, são tão selvagens e inusitadas quanto as histórias dos seus romances. Bukowski foi uma lenda no seu tempo e um visionário para aqueles que se lhe seguiram. Louco, recluso, amante. Afável e mesquinho. Lúcido e insano. Sempre inesperado. As excepcionais Histórias de loucura normal vêm directas do âmago de uma vida, a que ele mesmo viveu, marcada pela violência e pela depravação. Histórias de liberdade, tão profanas quanto sagradas.
Da prostituição à música clássica, Bukowski traça neste livro um retrato irado, apesar de terno, bem-humorado e inquietante, da vida marginal de Los Angeles, uma realidade obscura e perigosa que emoldurou a vida de um dos maiores escritores de culto do século XX.
Histórias, afinal, da loucura que espreita dentro de cada um de nós, que faz do corpo uma marioneta e que não desaparece senão com a morte.
________________________________________________________________
Charles Bukowski nasceu na Alemanha, em 1920, mas cresceu em Los Angeles, onde viveu durante cinquenta anos. Publicou o seu primeiro conto em 1944, quando tinha vinte e quatro anos, e começou a escrever poesia com trinta e cinco anos. Morreu em 1994, aos setenta e três anos, pouco tempo depois de completar o seu último romance, Pulp. Viu publicados mais de quarenta e cinco livros de prosa e poesia, incluindo os romances Post Office (1971), Factotum (1975), Women (1978), Ham on Rye (1982), Hollywood (1989) e Pulp (1994). É um dos autores americanos contemporâneos mais conhecidos a nível mundial e, possivelmente, o poeta americano mais influente e imitado de sempre.
FONTE: WOOK