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O vazio está sentado no centro de uma estrela
com a cabeça apoiada num pensamento incolor, transparente, inodoro,
inclinando-se para o lado que o vento soprar
provocando o tédio
bocejando até a boca não poder abrir-se mais
criando um sopro de ar
que circula entre a garganta e o exterior do corpo
situado no limite da vertigem, da tolerância, do vómito
e que devora a vontade de se opôr ao ruído opaco das palavras
sentado ao lado do vazio que deixa de ser, por isso,
o centro da estrela.
Credit: Getty Images/Keystone
A STANISLAW WYSPIANSKY
Do outro lado do mundo,
De uma pequena ilha embalada no grande regaço do mar,
De uma pequena ilha sem história,
(Fazendo a sua própria história, lenta e desajeitadamente,
Juntando isto e aquilo, encontrando o padrão, resolvendo o problema,
Como uma criança com uma caixa de tabuinhas),
Eu, uma mulher, com a marca do pioneiro no meu sangue,
Cheio de uma força juvenil que consigo guerreia e ignora leis,
Canto em teu louvor, guerreiro magnífico; Eu proclamo a tua batalha triunfante.
O meu povo não teve nada contra o que lutar;
Trabalharam à luz clara do dia e manipularam o barro com dedos rudes;
A Vida - uma coisa de sangue e músculo; a Morte - um enterro de desperdícios.
Que poderiam saber de fantasmas e presenças invisíveis,
De sombras que obscurecem a realidade, da escuridão que nega a manhã?
Límpida e suave é a água que escorre das suas montanhas;
Como poderiam conhecer ervas venenosas, gavinhas podres que estorvam?
A tapeçaria tecida com os sonhos da tua infância trágica
Eles rasgariam com as suas mãos inábeis,
A luz triste e pálida da tuua alma apagariam com o seu riso infantil.
Mas os mortos - os velhos - Oh Mestre, aí te pertencemos;
Oh Mestre, somos crianças e aterrados pela força de um gigante;
Como saltaste vivo para o túmulo e lutaste com a Morte
E encontrste nas veias da Morte o sangue vermelho florindo
E ergueste a Morte nos teus braços e a mostraste a todo o povo.
A tua foi uma tarefa mais pessoal que os milagres do Nazareno,
O teu um encontro mais estrénuo que as ordens mais amáveis do Nazareno.
Stanislaw Wyspiansky - oh homem com o nome de um combatente,
Através destes milhares de quilómetros estilhaçados de mar, em alta voz te proclamam;
Dizemos «Ele jaz na Polónia, e a Polónia pensa que ele morreu;
Mas ele disse não à Morte - ele jaz ali, acordado;
O sangue do seu grande coração pulsa vermelho nas suas veias».
Poema de Katherine Mansfield, escritora neozelandesa, (1888-1923) traduzido por José Alberto Oliveira