Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Aos crentes. Aos não crentes. Aos cerca de 7,8 bilhões de pessoas que habitam esta planeta,
desejo-vos um Bom Natal.
Dois homens - um deles na ficção, o outro na vida real - tiveram oportunidade de assassinar Hitler antes que ele desencadeasse a Segunda Guerra Mundial. Um mal menor teria impedido um mal maior. Se é legítimo pensar que aqueles dois homens deveriam ter disparado sobre o Führer para evitar a morte de milhões, até que ponto podemos decidir quem merece viver ou morrer?
Tomás Nevinson, marido de Berta Isla, cai na tentação de regressar aos Serviços Secretos após uma temporada de ausência. Estamos no ano de 1997. Tomás é incumbido de se deslocar a uma cidade do Noroeste de Espanha para identificar uma pessoa que, dez anos antes, participara em atentados do IRA e da ETA.
A missão é-lhe atribuída pelo seu ex-chefe, Bertram Tupra, figura ambígua que já anteriormente lhe atrapalhara a vida. Ambos são anjos desagradáveis que devem velar pela tranquilidade dos demais. Feito espião que sonda a verdade, Javier Marías constrói uma intriga inquietante, uma reflexão profunda acerca do alcance e das consequências das nossas acções.
Quão longe podemos ir para evitar o triunfo do mal? E, num mundo de claro-escuro, como podemos estar certos do que é o mal?
Tomás Nevinson é o retrato do que acontece a alguém a quem já tudo aconteceu, o retrato de um homem que tenta intervir na História e acaba desterrado do mundo.
HELENA BUESCU, professora universitária da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde leciona Literatura Comparada, foi galardoada com o Prémio Literário Vergílio Ferreira atribuído pela Universidade de Évora.
Considerada uma autoridade incontestável dos estudos comparatistas, publicou 12 livros de ensaio, tendo a sua última obra "O Poeta na Cidade: A Literatura Portuguesa na História" vencido o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, da Associação Portuguesa de Escritores.
________________________________________________________
Prémio Vergílio Ferreira
A Universidade de Évora atribui desde 1997 o Prémio Vergílio Ferreira ao conjunto da obra literária de um autor de língua portuguesa destacado no âmbito da narrativo e/ou do ensaio.
Foi em 1959 que Vergílio Ferreira (1916-1996) publicou o livro que lhe rendeu o Prémio Camilo Castelo Branco da Sociedade Portuguesa e também aquele que o ligará para sempre a Évora. A obra “Aparição” retrata a cidade, na qual o autor ainda viveu, durante a época do salazarismo, fazendo referência a algumas marcas ainda presentes nos dias de hoje e levando o leitor a conhecer alguns dos locais mais emblemáticos de Évora, como é o caso do próprio Colégio do Espírito Santo. A cerimónia de entrega do Prémio Vergílio Ferreira realiza-se anualmente a 1 de março, o dia em que se assinala também o aniversário da morte do seu patrono.
não os encontrarás com regularidade
pois não se encontram
onde se encontra
a multidão
estes seres ímpares,
não há muitos
mas deles
vêm
os poucos
bons quadros
as poucas
boas sinfonias
os poucos
bons livros
e outras
obras.
e dos
melhores
entre os estranhos
talvez
nada.
eles são
os seus próprios
quadros
os seus próprios
livros
as suas próprias
obras.
às vezes penso
que
os vejo - por exemplo
um determinado
velho
sentado num
determinado banco de jardim
de uma determinada
forma
ou
uma cara fugaz
num carro
que passa
em direcção
contrária
ou
há um certo
gesto de mãos
do rapaz ou
da rapariga
a embalar compras
em sacos
de supermercado.
às vezes
até é alguém
com quem se vive
há algum
tempo -
dás conta de
um fugidio
olhar luminoso
que nunca lhes viras
antes.
às vezes
apenas notas
a sua existência
subitamente
e de forma vívida
alguns meses
alguns anos
depois de
partirem.
lembro-me
de um caso
assim -
ele tinha
cerca de 20 anos
bêbedo
às 10 da manhã
a fitar
um espelho partido
em Nova Orleães
cara sonhadora
contra
as paredes
do mundo
para
onde
fui eu?
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI, DO LIVRO "OS CÃES LADRAM FACAS (ANTOLOGIA POÉTICA", EDIÇÃO ALFAGUARA, NOVEMBRO DE 2018
"As Pessoas Invisíveis", romance escrito por José Carlos Barros, foi a escolha, por unanimidade, do Júri do Prémio Leya 2021.
O Prémio Leya foi criado em 2008 com o objectivo de distinguir um romance inédito escrito em português.
______________________________________________________________________________________________
José Carlos Barros nasceu em Boticas em 1963. Licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade de Évora, foi diretor do Parque Natural da Ria Formosa. É autor de dois romances e de nove livros de poesia, tendo sido distinguido com vários prémios literários. Vive no Algarve, em Vila Nova de Cacela, desde finais dos anos oitenta.
OS TAGARELAS
o rapaz de pés enlameados atravessa-me a
alma
a falar de recitais, de virtuosos, de maestros,
dos romances menos conhecidos de Dostoiévski;
a falar de como corrigiu uma empregada de mesa,
uma bimba que desconhecia que o molho francês
era feito disto e daquilo;
tagarela sobre as Artes até
eu odiar as Artes,
e não há nada mais limpo
do que voltar para um bar ou
do que ir para o hipódromo
e vê-los correr
ver coisas a passar sem este
clamor e falatório,
falar, falar, falar,
a boquinha a mexer, os olhos a piscar,
um rapaz, uma criança, doente com as Artes,
a agarrar-se a elas como à saia da mãe,
e pergunto-me quantos dezenas de milhares
existem como ele por esta terra
em noites chuvosas
em manhãs soalheiras
em serões que prometiam paz
em salas de concerto
em cafés
em recitais de poesia
a falar, a sujar, a discutir.
é como o porco
que vai para a cama
com uma mulher linda
e por causa disso
deixas de querer aquela mulher.
POEMA DE CHARLES BUKOWSKI in "Os cães ladram facas"[Antologia Poética], edição Alfaguara, Novembro de 2018