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Jeferson Tenório, escritor brasileiro, venceu com o livro "Avesso da Pele" o Prémio Jabuti na categoria de "Romance Literário".
Pode ver aqui a lista completa dos vencedores das outras categorias
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Jeferson Tenório nasceu no Rio de Janeiro, em 1977. Radicado em Porto Alegre, é doutorando em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estreou-se na literatura com o romance O beijo na parede (2013), eleito livro do ano pela Associação Gaúcha de Escritores. É autor também de Estela sem Deus (2018). O avesso da pele é o seu terceiro romance e está a ser adaptado ao cinema.
A AGONIA NO JARDIM
A solidão avança como onda,
ausente
toda a luz
Saísse eu deste quadro,
poderia tocar o tronco amargo,
os ramos mais esguios dessa oliveira,
libertar-me das mãos
Podia ainda, se quisesse,
inventar vento
aproveitando a chama que ele
ostenta
Devo ceder a quê?
À história que contaram
sobre mim?
Eles não sabem da história mais de dentro,
a que me fez chegar até aqui,
sabendo finalmente:
que dizer sim
era morrer por dentro
que dizer não
era afogar-me nessa longa chama,
numa Palavra -
em mim
POEMA DE ANA LUÍSA AMARAL, do livro Ágora, edição Assírio & Alvim, Fevereiro de 2020
A CASA ILUMINADA
Olhai honestamente para o vosso passado
escondido da rua pelos arbustos
oferecendo-se aos pedaços
naquilo que o rasurado quis extirpar
nos trechos sem relação que vos assaltam no sono
no desabamento, na estranheza
outro nome possível se transcreve
a face molhada por uma chuva repentina
e o seu invencível sentido
Somos ainda os nativos, os mais remotos
Assim que chegarmos ao mar alto
e perguntarmos por que razão
seremos baixados por cordas
à casa demolida ainda iluminada
POEMA DE JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA in «Introdução à Pintura Rupestre», edição Assírio & Alvim
ENTRE OS ATOS
Espantamo-nos por encontrar o mundo na nossa memória
o mundo que se começa a ouvir no fundo da casa
o mundo que circula em nós entre os corpos deitados
no meio do terreiro da dança
nas cabanas indígenas
no assobio que os indígenas trazem amarrado ao pescoço
com uma atenção fascinada
o mundo que é um dos raros animais
que sabe descer as árvores de cabeça para baixo
Espantamo-nos por uma conivência
atestada desde há muito
nos ser entregue de chofre
cheirosa como uma floresta inteira
uma agitação de enxame
uma oficina celeste
a entrelaçar-se no sopro
fosse o que fosse
a zumbir em volta do rosto
O mundo é às um toldo que desdobramos às apalpadelas
durante o dilúvio
espantamo-nos que reproduza
na nossa cabeça o grito de uma pintura rupestre
os trilhos que ninguém me diz terem mudado de sítio
as recitações entre duas tormentas
que permitirão às fibras dessa árvore interna sobreviver
o resgate e as cores das casas
onde voltados de lado
repetidamente morremos
O mundo desencadeia-se em plena noite
organiza a vida errante
escolhe itinerários, fixa as paragensele
transforma a língua daquele que o mastiga
em corpo estranho
em fabrico inédito da sua matéria anónima
e assim nos dá a contemplar
a imagem irreconhecível
POEMA DE JOSÉ TOLENTINO DE MENDONÇA in "Introdução à Pintura Rupestre"
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Mohamed Mbougar Sarr, escritor senegalês, foi o vencedor do Prémio Goncourt de 2021 com o romance "La Plus Secrèt Mémoire des Hommes".
É o primeiro autor da África subsaariana a receber o mais importante galardão literário francês.
Damon Galgut, escritor sul-africano, venceu com o livro "The Promise" o Prémio Booker Prize
João Tordo venceu o Prémio Literário Fernando Namora 2021 com o livro "Felicidade".
Este prémio é atribuído pela Estoril Sol há 24 anos.
Lisboa, 1973
Nas vésperas da revolução, um rapaz de dezassete anos, filho de um pai conservador e de uma mãe liberal, cai de amores por Felicidade, colega de escola e uma de três gémeas idênticas.
As irmãs Kopejka são a grande atracção do liceu: bonitas, seguras, determinadas, são fonte de desejos e fantasias inalcançáveis.
Respira-se mudança - a Europa a libertar-se das suas ditaduras e Portugal a despedir-se da velha ordem - e vive-se a promessa da liberdade, com todos os seus riscos e encantos. É neste tempo e neste mundo, indeciso entre tradição e modernidade, que o nosso narrador cai num abismo pessoal.
A primeira noite de amor com Felicidade acaba de forma trágica, e o jovem vê-se enredado na malha inescapável das trigémeas Kopejka, três Fúrias que não tem poderes para controlar. À semelhança de uma tragédia grega, o herói encontra-se subjugado por forças indomáveis, preso entre dois mundos.
Felicidade é uma história de amor e assombração nas décadas que transformaram Portugal. Um romance enfeitiçante, repleto de ironia e humor, de remorso e melancolia, em que João Tordo aborda os temas do amor e da morte, e das pulsões humanas que os unem.