Realizador espanhol, Luis Buñuel nasceu a 23 de fevereiro de 1900, em Calanda, e morreu a 29 de julho de 1983, na Cidade do México, vitimado por uma cirrose. Filho de pais abastados, foi expulso dum colégio jesuíta devido à sua irreverência. Frequentou a Universidade de Madrid, onde conheceu o poeta Federico García Lorca e o pintor Salvador Dalí, de quem se tornou grande amigo. Desenvolve um interesse pelas artes cinematográficas, frequentando a Academia de Cinema de Paris. Torna-se assistente do realizador Jean Epstein que reconhecerá nele grandes qualidades, incentivando-o a apostar fortemente numa carreira de realizador. A convite de Dalí, realizou Un Chien Andalou (Um Cão Andaluz, 1929), um título manifestamente surrealista e provocante que chocou multidões pelo seu simbolismo inconformista manifestado em cenas-choque como a de um olho a ser dilacerado por uma lâmina de barbear ou féretros de burros em decomposição em cima de pianos. Seguiu-se L'Âge d'Or (1930), outro filme experimental pejado de ataques metafóricos às normas sociais, cuja distribuição foi proibida pelas autoridades a pedido da Igreja Católica. Depois de ter passado pelos estúdios da Paramount em Paris, regressou a Espanha. Durante a Guerra Civil, mostrou-se um ativo contestatário de Franco, o que o obrigou a exiliar-se primeiro nos Estados Unidos e depois no México. Aqui assinará alguns títulos interessantes e de ótima qualidade, apesar dos orçamentos limitados. Los Olvidados (1950) será uma violenta sátira à Igreja Católica através dos olhos de um casal de jovens que vivem num bairro de lata. Seguiram-se Susana (1951), El Bruto (1953) e Las Aventuras de Robinson Crusoe (Robinson Crusoe, 1954), um filme que conheceu grande popularidade nos Estados Unidos, a ponto de o seu protagonista, o irlandês Dan O'Herlihy, ter sido nomeado para o Óscar de Melhor Ator. Buñuel fez também o impossível ao adaptar a obra surrealista de Rodolfo Usigli Ensayo de un Crimen (Ensaio de um Crime, 1955) sobre uma criança que pensa que a sua caixa de música tem o poder de conceder-lhe todo e qualquer desejo. Franco permitiu-lhe o regresso a Espanha em 1960 e Buñuel voltou a provocar em Viridiana (1961), a história duma noviça que transforma a propriedade do seu tio numa instituição de caridade para mendigos e vagabundos. O filme foi proibido em Espanha, muito devido a uma cena histórica em que se parodia a Última Ceia mas que, em lugar dos discípulos, são colocados ladrões, vagabundos e pedintes que, mais tarde, violarão a jovem noviça. De regresso ao México, Buñuel continuará a usar a sátira como arma: em El Angel Exterminador (O Anjo Exterminador, 1962) lança um ataque à moral burguesa e em Simón del Desierto (Simão do Deserto, 1965) lançou farpas sobre a Igreja Católica. Convidado para trabalhar em França, assinará aqui os melhores trabalhos da sua carreira: Belle de Jour (Bela de Dia, 1967), La Voie Lactée (A Via Láctea, 1969), a coprodução franco-castelhana Tristana (Tristana, Amor Perverso, 1970) e Le Charme Discret de la Bourgeoisie (O Charme Discreto da Burguesia, 1972), uma história sarcástica sobre um embaixador sul-americano em Paris (interpretado por Fernando Rey) que ganha fortunas graças ao contrabando. A beleza decadente do filme impressionou os membros da Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood que lhe conferiram o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro. Após ter filmado Cet Obscur Objet du Désir (Este Obscuro Objeto do Desejo, 1977), retirou-se para o México para escrever as suas memórias, publicando em 1981 Mon Dernier Soupir, onde confessou «sou ateu, graças a Deus».