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#3104 - Os 15 livros mais vendidos de todos os tempos

por Carlos Pereira \foleirices, em 12.04.20
Os 15 livros mais vendidos de todos os tempos

Os 15 livros mais vendidos de todos os tempos - Artigo de Carlos Willian Leite publicado na REVISTA BULA

Para se chegar ao resultado, foram consultadas reportagens, entidades editoriais, empresas de pesquisas de mercado e publicações especializadas. Livros religiosos, políticos, educacionais e de curiosidades como: “Bíblia Sagrada”, “Iluminatti: Sociedade Secreta”, “Corão”, “Dicionário Xinhua Zidian”, “A Arte da Guerra” e “Livro Guiness dos Recordes” não foram contabilizados, apenas livros literários.

Participaram do levantamento as publicações: “The Paris Review”, “Business Insider”, “Washington Post”, “The Guardian”, “Telegraph”, “Toronto Star”, “New York Times”, “New Yorker” “Reader’s Digest”, “Global Times”, “Financial Times”; as entidades editoriais International Publishers Association (IPA), European and International Booksellers Federation (EIBF) e International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA); e as empresas de auditagem e pesquisas de mercado Nielsen e a GfK.

Os livros, “Cinquenta Tons de Cinza” e “O Senhor dos Anéis”, apesar de terem sido publicados em mais de um volume — foram considerados como um livro único — porque, originalmente, seus autores os conceberam como obra única, diferentemente da série Harry Potter.

Embora não exista concordância sobre os números exatos do mercado de livros ao longo dos séculos, os levantamentos das publicações, instituições e empresas mencionadas, parecem ser o que mais se aproximam do consenso editorial.

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publicado às 12:33


#3103 - CONFINADOS

por Carlos Pereira \foleirices, em 11.04.20

 

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publicado às 11:25


#3102 - CONFINAMENTO

por Carlos Pereira \foleirices, em 11.04.20

CONFINAMENTO

 

Alguém bate na porta com gentileza

O cão ladra

O papagaio com voz de porteiro

"Neste momento ninguém está disponível para abrir a porta"

Silêncio

"Volte mais tarde, muito mais tarde"

Silêncio

"Se possível no fim do ano"

 

Era Fevereiro

Alguém praguejou

Pontapeou a porta

O cão rosnou

E o papagaio um ameaçador

"Filho da puta"

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publicado às 10:38


#3101 - FOLHAS TRAÍDAS [1] ||| POEMA DE ARMANDO SILVA CARVALHO

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.04.20

 

FOLHAS TRAÍDAS [1]

 

Eis o Teatro da Casa.

Choro diante da topografia dos sentidos,

o coração da Mãe cresce na cabeça.

As cenas mais cruéis quase flutuam,

não tenho posição,

não posso preservar mais tempo

as águas do instinto.

Destroem-me o umbigo as vozes invocadas

em torno da rosácea, matriz,

metamorfose.

Este palco, este corpo.

Se corro para o mundo afogam-me as palavras.

Ajoelho a alma até sentir na boca

os teus lábios em sangue,

esse surdo rumor cuja fome

não cabe nos recitativos.

Ó tu, mãe teatral, simulacro do berço

em que pariste este inferno de folhas já traídas,

minha coroa de glória, mãos que mexem no sexo,

em que parte da casa  habitas estas noites?

Cada sentido meu - disseste - será

um dos teus filhos.

Choram na minha boca as mínimas crianças

que  puseste no mundo..

Mãe infeliz que caminhas nas lágrimas

e vestes devagar o medo e o sepulcro.

Ao olhar o meu corpo crescem-me os teus seios,

os meus ouvidos são o som da tua voz

e a minha língua treme nos teus dentes cerrados.

Posso mudar de sexo em cada instante

porque gritas sem dó e sem idade

dentro dos meus sonhos.

Hoje posso louvar-te, amar-te

ou devorar-te:

a memória é um espelho

que a morte arrastta atrás de si

pela garganta.

 

POEMA DE ARMANDO SILVA CARVALHO RETIRADO DO LIVRO "OBRA POÉTICA (1965 - 1995) - EDIÇÕES AFRONTAMENTO - JULHO DE 1998. PREFÁCIO DE JOSÉ MANUEL DE VASCONCELOS

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Armando Silva Carvalho [1938-2017]

2017-06-02 / Um poeta ácido, lúcido, erótico, político [Público]

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publicado às 19:01

CHARLES BUKOWSKI |||  1920-1994

 

OS DIAS CORREM COMO CAVALOS SELVAGENS NAS COLINA

 

o telefone toca e normalmente é a mulher com

voz sexy da companhia dos telefones a pedir-me

que por favor pague a conta,

mas desta vez é uma voz, baixinho,

«meu filho da puta»,

e é o editor de uma dúzia de revistas

acerca de tudo, desde panfletos religiosos

a abortos faça-você-mesmo,

e pergunta:

«porque é que não ligaste?»

ao que respondo: «nós não nos damos bem.»

«catálise», diz ele,

«topas?»

«topo», digo eu,

e então conta que me viu

no n.º 5 da revista Crablegs and Muletears

e que estou a escrever melhor,

e eu digo-lhe que sou um principiante lento

e tendo apenas 42 anos

ainda tenho hipótese de espalhar areia

no jardim de Abdulah,

e ele diz vem até cá

quero que conheças um amigo meu

e eu digo-lhe que depois da corrida 

lhe ligo...

 

é sábado está calor

e as caras gananciosas que passam apressadas

chupadas e secas e impossíveis

querem que me ajoelhe entre os lírios e reze

mas em vez disso vou a um bar

onde posso beber vodca com laranja do bom a 70 cêntimos

e as pessoas não param de falar comigo,

é um grande clube de corações solitários,

pessoas desertas por uma voz e por um milhão de dólares

e sem receber uma coisa nem outra,

e à nona corrida já estou a perder cem dólares

e um negro grandalhão vem ter comigo

e espalha sobre a mão os recibos de apostas do último vencedor

como música de violinos,

e eu digo

«está bem, está bem»,

e ele respondeu «estou com um par de canastronas

e agora elas andam à minha procura,

mas eu vou dar de frosques, vou trancar as portas

e embebedar-me.»

«está bem», digo-lhe, e ele vai-se embora

e eu pergunto-me porque é que tantos negros

falam comigo, e lembro-me de que

uma vez num bar um negro enorme me iniciou

numa coisa qualquer chamada Muçulmanos;

tive de repetir uma série de palavras complicadas e

bebemos toda a noite,

mas achei que ele estava a gozar:

não estou numa de destruir a totalidade da raça branca -

apenas uma pequena parte:

eu.

«de qual gostas?» pergunta-me um tipo

e eu digo «do 3.º cavalo», e ele diz

«o 3 está fora» e vai-se embora

e isso era tudo o que queria ouvir

e aposto 20 no 3,

peço um vodca-laranja

e vou até à última curva

onde, caso andes aqui há tempo suficiente,

consegues perceber qual será o vencedor

antes da recta final.

e eu estou ali quando o 3 passa por mim

distância e meia atrás do 6,

os outros estão fora, 

e está renhido, os dois dão tudo por tudo

sem sinais de cansaço

mas eu tenho de reduzir a distância

e olho para o quadro e vejo que

o 6 está a 25 para 1 e eu estou só a 7 para 1

e com um bocadinho de sorte talvez consiga,

e consegui por três quartos de distância

e os sapos da minha cabeça alinharam-se

e saltaram por cima da morte (por pouco tempo)

e fui até lá buscar os meus 166 dólares.

 

estava na banheira com uma cerveja quando tocou o telefone,

«cabrão, onde é que estás?»

era o editor.

«apareço daqui a meia hora», disse-lhe.

«se quisesse alguma coisa de ti arrancava-to

à porrada», diz ele.

«está bem», digo eu «meia hora, então.»

dá para beber mais um par de cervejas.

é um sítio nas traseiras de South Hollywood,

uma pequena divisão com um esquentador 

na casa de banho e metade do quarto ocupado

por uma estante de livros: bastante Huxley (Aldous), Lawrence

(não o da Arábia), e montes de tomos e volumes

de pessoas a meio do recreio

entre a poesia e o romance

sem a motivação ou disciplina

para escrever filosofia escorreita,

e ele tinha lá uma mulher

no último fio da juventude,

laranja-pálida, um bocadinho sem ânimo,

mas calada, o que era bomm,

e ele disse: «querida, dá uma cerveja ao homem»,

e eu atirei-lhe o meu último livro

onde inscrevi «para um connoisseur

de vagina e verso...»

e ele disse: «estás a ficar gordo, cabrão,

mas ainda ssim estás com melhor ar

do que da última vez

que te vi.»

«foi em Paris?», perguntei.

«Passadena, Calif.», respondeu.

«o Faulkner também morreu», disse eu.

«gostas da gaja?», perguntou,

«olha para ela.»

olhei para ela e agradeci-lhe a cerveja.

«formosos são os campos de França»,

disse eu.

«preciso de cento e cinquenta», disse-me.

«Jesus», respondi,

«ia pedir-te exactamente o mesmo.»

«ouvi dizer que o Harry voltou para a patroa.»

«sim. à procura de emprego. a pintar mobília. a fazer baby-sitting.

ele até foi bartender uma noite.»

«o Harry? bartender?»

«só por 3 horas. depois disse que ficou farto.»

«farto?»

«"farto" foi a palavra que ele usou.»

«preciso de cento e cinquenta.»

«quem não precisa?»

«o Faulkner não precisa», disse ele.

«o que é que será que ele mistura nas bebidas? tenho de desacelerar...»

 

a gaja mostrou-me uns poemas que tinha escrito e eu li-os

e não eram nada maus tendo em conta

que ela tinha sido concebida para

outras coisas e o resto da noite foi bastante chata,

sem porrada, too old to tango, tigre a dormir à sombra,

e prometi escrever um ensaio acerca do SIGNIFICADO DA

POESIA MODERNA que ele prometeu publicar sem ler

sabendo eu à partida que jamais o escreveria.

foi uma noite cheia de promessas, um tigre velho

e uma miúda. fui de carro para casa por ruas secundárias,

evitando a esquadra da polícia,

a fumar king-size e a entoar partes da Carmen

porque estava muito escuro e o Bizet guiava melhor do que

o Ludwig que estava preocupado com coisas mais importantes

 

estacionei e assim que abri a porta

o bebedolas do andar de baixo disse:

«ei, chefe, que tal uma fresquinha?»

tirei uma cerveja do saco e passei-a pela janela.

«preciso de um dólar», disse ele.

«isso é uma merda, não é? eu ia pedir-te exactamente a mesma coisa.»

«estás de mau humor», disse ele.

«claro», disse eu, «ouviste a última? o Faulkner morreu.»

«Faulkner? não era aquele jóquei daquela pista de corridas? Pomona Fairgrounds?

Rudioso? Caliente? conhecias o puto?»

«conhecia o puto», respondi

e subi as escadas.

 

não se passou nada o resto da noite, como dizem os Arkies(1),

e tinha alguns contactos a quem podia ligar,

4 ou 5 números, uns negros, outros brancos,

ums velhos, outros novos,

mas não parava de pensar em hospitais brancos

e em palmeiras à sombra,

e estava tudo sossegado, por fim havia sossego

e há momentos em que tens de voltar atrás

e olhar à volta, há um tempo para o Ludwig,

um tempo para as paredes,

um tempo para pensar no Ernest

e naquela caçadeira apontada à cabeça dele;

um tempo para pensar

sobre amores mortos, flores mortas,

todos os mortos, pessoas mortas que te dão um nome,

de Florida a Del Mar, Calif.,

toda a tristeza como um desfile

de doces imbecis desaparecidos,

água a correr em lavatórios,

meias lavadas,

roupões usados, deitados fora,

o mundo patinho feio

discretamente a escorregar para longe de mim

e eu próprio a escorregar,

um tigre velho,

cansado da batalha.

 

na manhã seguinte acordei com alguém a bater-me àporta,

ignorei, nunca vou à porta,

não quero ver ninguém,

mas continuaram com uma persistência delicada

então levantei-me e vesti o meu velho roupão amarelo

vozes abafadas vindas dos quartos

e abri a porta.

«estou aqui para ajudar as pessoas deficientes», disse ela.

«entre, entre», disse eu.

era uma rapariga nova 19, 20, 21,

olhos inocentes como o mapa do Texas

aberto de par em par sobre nuvens,

atravessou a sala e sentou-se

e eu fui à cozinha e tirei a carica

a 2 cervejas. os meus peixes-dourados nadavam como loucos.

entrei com as cervejas e disse

«o amor existirá sempre

porque as pedras alisadas pela inclinação

arrastam navios para o mar

arrastam gatos e cães e

tudo.»

 

ela riu-se e o dia começou sem

engano.

 

(1) Trabalhadores originários da Arcansas. (N. da T.)

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI IN «OS CÃES LADRAM FACAS», COM SELECÇÃO E PREFÁCIO DE VALÉRIO ROMÃO, EDIÇÃO ALFAGUARA DE NOVEMBRO 2018

 

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publicado às 19:05


#3099 - ESCUTA

por Carlos Pereira \foleirices, em 06.04.20

 

As paredes apertam o peito

As flores estão murchas há muito tempo afogadas na água ramelosa de uma velha jarra macilenta

As notícias já são velhas como a alma dos jornais amarrotados

Estás com medo eu sei

Mas escuta... Já acabou...

Abre a janela

Deixa entrar um pouco de luz

Um pouco de esperança

Um pouco de ar fresco para limpar as nódoas nos teus olhos

Um pouco de cada vez para não ficares bêbedo

Banha-te

Deixa escorrer a água quente sobre o corpo

Demora o tempo que quiseres

Observa o  corpo nú no espelho e verás que nenhuma doença tens

Apenas solidão... somente solidão e medo

Debruça os olhos sobre o mundo do teu bairro da tua rua

E verás que as árvores não morreram

Continuam agarradas à terra

Agarradas à vida

E são casa sombra abrigo comida amparo.

 

Escuta.

Escuta o mundo a tua rua

Escuta o teu corpo 

Escuta os suspiros e a respiração suave da árvore

 

Escuta

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publicado às 11:28


#3098 - RAIO X ||| POEMA DE DANNIE ABSE

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.04.20

DANNIE ABSE - (1923-2014)

 

RAIO X

 

Alguns revistam o fundo do mar, alguns lançam-se a uma estrela

e, mãe, alguns obsessivos voltam ao contrário cada pedra

ou abrem sepulturas para que entre aquela luz da estrela.

Há homens capazes de abrir seja o que for.

 

Harvey, a circulação do sangue,

e Freud, a circulação dos nossos sonhos,

espreitaram honradamente e honrados são

como todos os exploradores. Homens capazes de abrir homens.

 

E aqueles outros, mãe,  com doenças

como ruas grandiosas que tomaram o seu nome: Addison,

Parkinson, Hodgkin - médicos capazes de chegar

depressa e primeiro a qualquer cena amarga com um leito de morte.

 

Deles sou o colega lento, meio amedrontado,

incurioso. Em rapaz era assim: sabes como

a minha pequena mão nunca arreliou até destroçar

um despertador ou retalhou um rato morto.

 

E esta mão maior é igual. Estende-se agora

de uma manga branca para erguer, mãe,

o teu raio x até ao ecrã brilhante. Os meus olhos vêem

mas não querem ver; eu ainda não quero saber.

 

POEMA DE DANNIE ABSE, TRADUZIDO POR CECÍLIA REGO PINHEIRO

 

 

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publicado às 19:56


#3097 - AS MÃES ||| POEMA DE EUGÉNIO DE ANDRADE

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.04.20

 EUGÉNIO DE ANDRADE (1923-2005)

 

AS MÃES

 

Quando voltar ao Alentejo as cigarras já terão morrido. Passaram o verão todo a transformar a luz em canto - não sei de destino mais glorioso. Quem lá encontraremos, pela certa, são aquelas mulheres envolvidas na sombra dos seus lutos, como se a terra lhes tivesse morrido e para todo o sempre se quedassem orfãs. Não as veremos apenas em Barrancos ou em Castro Laboreiro, elas estão em toda a parte onde nasça o sol: em Cória ou Catânia, em Mistras ou Santa Clara del Cobre, em Varchats ou Beni Mellal, porque elas são as Mães. O olhar esperto ou sonolento, o corpo feito um espeto ou mal podendo com as carnes, elas são as Mães. A tua; a minha, se não tivera morrido tão cedo, sem tempo para que o rosto viesse a ser lavrado pelo vento. Provavelmente estão aí desde a primeira estrela. E como duram! Feitas de urze ressequida, parecem imortais. Se o não forem, são pelo menos incorruptíveis, como se participassem da natureza do fogo. Com mãos friáveis teceram a rede dos nossos sonhos, alimentaram-nos com a luz coada pela obscuridade dos seus lenços. Às vezes enconstam-se à cal dos muros a ver passar os dias, roendo uma côdea ou fazendo uns carapins para o último dos netos, as entranhas abertas nas palavras que vão trocando entre si; outras vezes caminham por quelhas e quelhas de pedra solta, batem a um postigo, pedem lume, umas  pedrinhas de sal, agradecem pela alma de quem lá têm, voltam ao calor animal da casa, aquecem um migalho de café, regam as sardinheiras, depois de varrerem o terreiro. Elas são as Mães, essas mulheres que Goethe pensa estarem fora do tempo e do espaço, anteriores ao Céu e ao Inferno, assim velhas, assim terrosas, os olhos perdidos e vazios, ou vivos como brasas assopradas. Solitárias ou inumeráveis, aí as tens na tua frente, graves, caladas, quase solenes na sua imobilidade, esquecidas de que foram o primeiro orvalho do homem, a primeira luz. Mas também as podes ver seguindo por lentas veredas de sombra, as pernas pouco ajudando a vontade, atrás de uma  ou duas cabras, com restos de garbo na cabeça levantada, apesar das , tetas mirradas. Como encontrarão descanso nos caminhos do mundo? Não há ninguém que as não tenha visto com umas contas nas mãos engelhadas rezando pelos seus defuntos, rogando pragas a uma vizinha que plantou à roda do curral mais três pés de couve do que ela,regressando da fonte amaldiçoando os anos que já não podem com o cântaro, ou debaixo de uma oliveira roubando algumas azeitonas para retalhar. E cheiram a migas de alho, a ranço, a aguardente, mas também a poejos colhidos nas represas, a manjerico quando é pelo S. João. E aos domingos lavam a cara, e mudam de roupa, e vão buscar à arca um lenço de seda preta, que também põem nos enterros. E vede como, ao abrir, a arca cheira a alfazema! Algumas ainda cuidam das sécias que levam aos cemitérios ou vendem nas feiras, juntamente com um punhado de maçãs amadurecidas no aroma dos fenos. E conheço uma que passa as horas vigiando as traquinices de um garoto que tem na testa uma estrelinha de cabrito montês - e que só ela, só ele vê.

 

Elas são as Mães, ignorantes da morte mas certas da sua ressureição.

 

Poema de Eugénio de Andrade

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publicado às 13:04


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