OBRA BREVE
Eduardo Lourenço, no prefácio a esta edição.
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Três escritores portugueses integram a lista dos dez finalistas do Prémio Oceanos 2018.
Bruno Vieira Amaral com o livro "Hoje estarás no paraíso", o segundo romance do escritor, distinguido com os Prémios Pen Clube Narrativa e José Saramago com o romance de estreia "As primeiras coisas".
HG Cancela com o romance "As pessoas do drama", vencedor do Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores atribuído no passado mês de Julho.
Luís Quintais com o livro "A noite imóvel" obra que sucede a "Arrancar penas a um canto do cisne", Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, edição de 2017.
Integram também a lista cinco escritores brasileiros e dois moçambicanos.
LISTA DOS FINALISTAS
A noite da espera - Milton Hatoum - Companhia das Letras - Romance - Brasileira
A noite imóvel - Luís Quintais - Assírio & Alvim - Poesia - Portuguesa
Anjo noturno - Sérgio Sant'Anna - Companhia das Letra - Conto - Brasileira
Antiboi - Ricardo Aleixo - Crisálida - Poesia - Brasileira
As pessoas do drama - H. G. Cancela - Relógio D'Água - Romance - Portuguesa
Câmera lenta - Marília Garcia - Companhia das Letras - Poesia - Brasileira
Hoje estarás comigo no paraíso - Bruno Vieira Amaral -- Quetzal - Romance - Portuguesa
O Deus restante - Luis Carlos Patraquim - Cavalo do Mar - Poesia - Moçambicana
Pai, pai - João Silvério Trevisan - Alfaguara - Romance - Brasileira
Vácuos - Mbate Pedro - Cavalo do Mar - Poesia - Moçambicana
Bruno Vieira Amaral
H G Cancela
Luís Quintais
Apenas sei que não sabia. Se me contaram, já esquecera.
Mais tarde ouvi rumores que narravam o acontecido. O homem morrera com flores cravadas no peito.
Ninguém morre com flores espetadas no peito, cogitei. Estava enganado. O boletim médico o confirmava. Sim senhor, o homem morrera com flores cravadas no peito.
Não consigo imaginar uma morte assim, florida, alegremente florida. Rectifico, tristemente florida. Afinal, as flores servem para celebrar quase tudo, inclusivé a morte. Mas morrer com flores cravadas no peito...?
Então uma inquietação me assaltou: Será que era sua vontade obsequiar alguém, com flores, de maneira elegante, cavalheiresca e respeitosa, e esse alguém, com desdém as recusou e o acusou de assédio? E perante a humilhante negação e acusação, num gesto dramático, abraçou com tamanha raiva e força o ramo (suponho que era um ramo) de flores que lhe rasgaram o peito e lá ficaram gravadas como se fosse uma tatuagem ?
Gostava que o homem estivesse vivo para contar a sua versão dos factos.
O pântano sopra um cheiro triste, amargo e podre.
E os mortos estão calados.
Os vivos estão mortos.
As raízes secaram de medo.
Todas as águas apodreceram no veneno de pequenos anões de cabeças quadradas,
risos fúnebres estampados nos olhos oblíquos e delirantes
que pisam com arrogância a Terra.
Apesar da inteligência rarefeita,
impõem-se pela enorme capacidade de se multiplicarem
e criarem réplicas
cegas e obedientes
que espalham o boato e a mentira
aprisionando a verdade num imenso algoritmo.
A lua, envergonhada, escondeu-se numa perpétua nuvem.
As estrelas explodiram por já não poderem ver tanta vergonha e tamanha demência.
O mundo ao contrário
o homem rasteja
já não caminha
disseram-lhe:
tu és lagarto.
O orgulho,as glórias e misérias de um improvável pequeno país, pobre e encurralado entre o mar e um vizinho gigante, embarcado numa pequena casca de noz, flâmulas eriçadas sacudidas pelo sopro do mar, o capitão aprumado e grave ordenando a partida, com as velas inchadas prontas a parir o desconhecido que nem a mais delirante imaginação consegue conceber, cavalgam um mar cujo fundo reclama quem nele ousa navegar.
É preciso dobrar cabos e tormentas, vencer o medo e o desconhecido, tarefa para homens rudes, corajosos, ambiciosos. Mas também para os condenados ao degredo, ou aventureiros em busca de suas fortunas, ou simplesmente da liberdade; terra à vista é o que todos desejam ouvir gritar do homem empoleirado nas gáveas, a mão sobre os olhos a servir de pala que o sol queima os olhos e teima derreter-lhe as vísceras e o alento. Mas com estes homens o medo nada consegue, nem os mastodontes.
Terra à vista grita o homem equilibrado no topo do mastro. Todos se debruçam sobre o deserto salgado e o oásis espreita lá ao fundo. Não é miragem. É a terra firme e virgem que eles pisarão como sendo os primeiros. Ficarão para a história que alguém há-de narrar, como anónimos sem rosto e nome, apenas lembrarão os nomes dos líderes que ousaram sonhar a aventura da descoberta das novas terras e mares, assinaladas pelos padrões que afirmavam a soberania desse local como pertencente de um pequeno, pobre e improvável país aprisionado pelo mar e por um gigante vizinho.
CANTO DAS IMAGENS
Ao princípio era só uma em cada olhar
após a grande divisão das águas
e mesmo, segundo disse Baudelaire, a imagem
até ao seu século do real múltiplo
era una, única e própria. Dementes
chamou este cantor aos fotogramas
que roubavam à alma a unicidade
e deram aos olhos frívolos as figuras
plurais, idênticas, dispersivas.
Era somente uma a imagem mística,
dos entes naturais aos transcendentes.
Só uma esta vermelha afelandra
embora as suas irmãs se lhe assemelhem
e desassemelhem, cada uma, sempre.
O concreto pulsava neste ritmo
das coisas parcas, poucas, singulares.
E de repente, nos olhos do poeta
cada coisa reproduziu a imagem
inumeradamente, e a ideia
decaíra no banal prolixo.
Antes, podia hesitar-se entre o modelo
e as sombras de Platão, agora as flores
malignas podem reproduzir-se no mundo
nítidas, iguais, supérfluas.
Eu ainda vejo o olhar antigo de Baudelaire
e cada coisa vibra no seu mito,
e cada imagem cria o seu espírito,
e cada cópia fotográfica muda
na liminarmente máxima diferença.
Ao crítico e amante da Pintura
as dúbias imagens decerto deram
a cada rosto um só outro rosto,
a cada paisagem uma só tela.
Já os vidros, a água, a prata traziam
a incerteza aos traçoa, como se os olhos
que nos deu a Natureza nos fossem
infiéis. E o poeta pôde resistie
a esta perda das formas consagradas
e consubstanciais das coisas que ainda
ecoam a Criação como o eco cósmico.
30 de Outubro de 1993
POEMA DE FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO
Uma nova antologia de Fernando Pessoa composta por 87 poemas escritos pelo ortónimo e por nove heterónimos, com o título "POESIA - ANTOLOGIA MÍNIMA" publicada pela Tinta-da-China, já está disponível nas livrarias.
A MAIS SINTÉTICA ANTOLOGIA DO MAIS VASTO DOS POETAS
Este livro é um convite a «desaprender Pessoa», segundo a expressão do mestre Alberto Caeiro, e a lê-lo como se tivéssemos acabado de o descobrir. Ao arrepio de uma tendência recente que colocou o poeta num novo cenário, menos literário e cultural, e mais urbano e utilitário, o que esta Antologia Mínima propõe é a descoberta ou redescoberta de Fernando Pessoa através de alguns dos mais espantosos versos do século XX: da «Ode marítima» à «Tabacaria», passando por «Chuva oblíqua», «O mostrengo», «O guardador de rebanhos», «Opiário», «Autopsicografia» e muitos poemas menos conhecidos, sempre reveladores de um génio que continua a inspirar espanto, enlevo e admiração.
O essencial da poesia de Fernando Pessoa e seus principais heterónimos, numa edição de Jerónimo Pizarro.
A paisagem é uma imensa mancha branca,
não tem cheiro, não transpira.
A paisagem é uma imensa nódoa branca
sem ar,
árvores, água, ruídos, silêncios,
perdida num buraco da memória.
A paisagem é branca.
Não respira, não tem gente.
Nada.
Apenas as letras brancas
que gritam o teu nome.
Mas não as ouves:
a paisagem é branca, vazia, despovoada de gente,
por isso não existes.
És uma invenção minha
para adormecer o sonho.
Este artigo foi escrito por Paulo Pena e foi retirado do jornal on-line Diário de Notícias
Vários sites sediados no Canadá alojam fake news sobre a política portuguesa. Depois, vários grupos no Facebook, com milhares de membros, divulgam-nas. O criador desta operação explica-nos porquê.
Há uma série de imagens a circular rapidamente nas redes sociais. Numa delas, Catarina Martins tem um círculo desenhado à volta do pulso e uma caixa no lado esquerdo que explica uma parte da imagem que não se vê - um suposto relógio. Diz a mesma imagem que é um relógio de luxo suíço com o valor de 20,9 milhões de euros. A acusação vem em letras garrafais: "A maior fraude da política portuguesa depois de António Costa." O relógio não se vê, o preço é absurdo. A informação, propriamente dita, é "absolutamente falsa", contrapõe o BE. Mas a imagem teve 875 partilhas só da primeira vez que foi publicada no Facebook.
Somos estúpidos ou estamos desesperados?
Quando temos a liberdade de escolher os líderes, a quem damos o nosso aval, para governar "as coisas públicas", e essa escolha recai em indivíduos cuja vaidade atrapalha a sua pouca inteligência, e exibem, sem pudor, a sua ignorância como se fosse uma virtude, revelando a falta de sentido de Estado, de ideias, de princípios e de ideologia, explorando os medos mais básicos de homens e de mulheres, somos estúpidos ou estamos desesperados?
Está a ser o tempo dos novos rufias da política e dos homens grotescos que prometem resolver as difíceis questões que o mundo atravessa através da violência, da intimidação e da pancada como remédio para resolução dos problemas
O mundo atravessa tempos conturbados. E o bom senso recomenda prudência e inteligência para ler os sinais e compreender o passado. A ignorância, a vaidade e a arrogância de um líder é a caixa de fósforos na mão de um pirómano e pode matar muita gente.
Apesar de estarmos desesperados, não sejamos estúpidos.
MÁRIO DE CARVALHO
Mário de Carvalho escreveu para o JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, edição n.º 1253, ano XXXVIII, Outubro de 2018, o seguinte texto a propósito das praxes académicas:
- "Se em 1960 ou 70 alguém em Lisboa se atrevesse a sugerir a qualquer jovem estudante de Engenharia, Direito, Letras, ou Medicina que andasse trajado de preto numa fardola de vestes eclesiais e se embrenhasse em rituais uivados mais ou menos coprófilos, seria tratado com altivo desdém.
Capa e batina eram coisa de Coimbra, reminiscência de longe, e de in illo tempore. Seria mesmo desprestigiante usá-la na capital. Não existia de todo praxe em Lisboa. Ninguém pensava vexar alguém. Os jovens que ingressavam nas universidades eram convidados para semanas de recepção, com espectáculos de cinema, teatro, colóquios, poesia e bailes. Os novos alunos (a própria designação de «caloiro» caíra em desuso) eram tratados com urbanidade e apreço, ao nível do que se considerava ser a instituição em que se encontravam e a associação de estudantes que os convocava.
Nesses tempos, a juventude estudantil ansiava por grandes transformações sociais, prezava os ideais de liberdade e batia-se por um País moderno, aberto, democrático. Mas a democracia é uma construção. Nunca está garantida de vez.
Nos refegos escondia-se o velho portugalório, agachadino e mendigo, servil e reles, pingue de misérias morais, coio de fascismos. Temporariamente escorraçado, veio a encontrar numa mocidade diversa, mais alargada, sem hábitos de leitura e reflexão, campo estrumado para as suas desforras e decorrências.
Impõe-se uma política de valorização da arte e da cultura, traçada com firmeza pelas instituições universitárias (no fundo, é o seu bom nome que é posto na lama e achincalhado). Urge a intervenção do Estado, encontrando formas democráticas de «desapimbalhar» a grande comunicação social, porque esta pardalada infantilóide, de penico na cabeça,, não é capaz de ler um jornal, sequer um tablóide."
ANTÓNIO LOBO ANTUNES
"A ÚLTIMA PORTA ANTES DA NOITE", o novo romance de António Lobo Antunes, edição D. Quixote, estará disponível nas livrarias no dia 18 deste mês.
Fiama Hasse Pais Brandão
CANTO DOS INSECTOS
Podia cantar as aves, mas os insectos
são um misto de aves, de astros e de átomos
que giram em órbita como as imagens de atlas
do Universo ou esquissos de átomos.
As aves são as almas regressadas
ou que vêm da matéria para nós.
Este besouro zumbe junto ao tímpano
a voz com a qual o Amado me bafeja,
afasta-se e aproxima-se entre as tílias
que plantei em nome de Wolfgang Goethe
e hão-de dar a flor fonte do sono.
Por baixo delas o gato semovente
mostra a harmonia da garra que lambeu
para lavar o filho, e reconhece-o
como se fossem gatos num só ser.
Rente ao solo pisam a matéria viva
que é a erva, a terra e os mil milhares
dos ovos que movem a Terra astro.
São esses os insectos que são pó,
que nos roçam os pés e nos transportam
entre o nascimento e a primeira morte.
Quando o besouro passa ou poisa aqui,
o seu contexto move-se, e não pode
deixar mudar sozinho aquele insecto
sem o real concreto que o envolve.
A flosa canta a sua identidade
sem saber que é única neste espaço
em que as aves, os animais e o poeta
enquadram os insectos, em fase larvar.
Canto os que vão procriar na terra
fermentada e os já pairam aqui
desde que me senti tão similar.
O tempo é demarcado pela medida
do olhar que segue o sulco do insecto.
Tudo aquilo que está a ser olhado
aruma-se no verso com a ordem
que coloca os seres em relação recíproca
provável mas de evidência falsa
Ao poente o silêncio é o leito e o fundo
onde vibram os sons dde várias graças,
entre as agora espúrias aves canoras
o zum-zum estelar das moscas da tarde
anuncia a noite em que zumbe o Mundo.
A luz do Amado aconchega a noite,
acolhe o solitário na barca iluminada
e eis que o Rio tão próximo dá a imagem
da barca redentora que nos chama.
Ao cair da noite as tílias ficam
com as suas folhas secas de Outubro
à espera da manhã que as vai reter
presas um pouco mais na luz espalhada.
Sentada no jardim vejo o crepúsculo
juntar o insecto, o gato e a tília,
e o que a Natureza une ante os meus olhos
nada o pode desunir naminha vida.
Canto o bater das asas mínimo no ar
como um sopro de aragem num rebento
ou o escaravelho que dobra o fio da erva
e nele dança na oscilação.
Estou aqui a amar e a contemplar
o esforço e a força de cada ser.
O escaravelho cai na mão do Amado
e à sua direita tem o seu lugar
quando for esmagado pelo algoz
que não esteja possuído de fascínio.
Não desisto de cantar os animais
e as plantas que no berço me embalaram
e me ditaram a voz própria dos poemas.
O coração palpita-me como o abdómen
da borboleta que vem beber o néctar
da tília, que eu esperarei ainda.
Estou a vê-la, ela sacia-se e afasta-se
na fuga que eu atribuo ao seu voar.
Também o ventre do gafanhoto lateja
e o do grilo, suspensos pelos ângulos
das patas que lhes prendo. Tudo
está aqui disperso e ordenado
entre a manhã aberta que inicia
e a outra noite que hora depois de hora
emudece os sons até á morte.
E o pânico e a paz nocturnos
juntam-se como todos os contrários.
Dia e noite os insectos percorrem
em redor de nós a sua elipse.
O moscardo negro veio cintilar
na futura manhã que se repete.
Cada voo entre o poente e o futuro
está imóvel como nós no Tempo.
Subitamente a borboleta defronta
o pequeno gato ágil não onírico.
Move sádico devagar o dorso,
rasteja e salta, ora prendendo-o
ora soltando o breve corpo alado
que facilmente a imagem assemelha
a um ciclâmen que se solta e adeja.
Verei se o fôlego do insecto não sufoca
no duro jogo da cria de felino
a quem o instinto tão cedo movimenta.
Ficarão longo tempo nesta luta
fortuita e repentina em pleno cosmos
como entre si combatem os iões.
A borboleta oscila entontecida
indignamente prostrada sob garras,
ela que é o símbolo visível
da metamorfose galáctica.
Também o gato é belo, mas fatal
no destino circular da borboleta,
inato caçador de sons alados
néscio e voraz ele desconhece
o ciclo em que se gera a sua vítima.
E mesmo sem metamorfoses, o real
muda, repete e imagina sempre,
e cada estádio não é um só estádio.
O Amado volta cada noite inteiro
assinalando o espírito e a carne.
Na manhã que decorre, o seu sinal
é a perene borboleta que resiste
e só há-de morrer na morte absoluta
em que a matéria se perderá.
Está viva sobre a relva, embora as asas
pareçam pétalas pisadas. Não voa,
e estremece a recordar o voo.
E a Mão direita que nos abençoa
marca no seu corpo a sombra do Sol.
29 de Outubro de 1993
POEMA DE FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO - In "Cantos do Canto", retirado do Livro "Obra Breve", edição 0976, de Maio de 2006, editado pela editora Assírio & Alvim
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BIOGRAFIA DA RESPONSABILIDADE DA EDITORA "ASSÍRIO & ALVIM"
NA VERTICALIDADE LUMINOSA DAS COISAS SIMPLES
A árvore estende a sua sombra sobre a relva e
sobre o pássaro azul pintado no barco de pesca que navega
num oceano de nuvens,
e os pescadores são pirilampos que iluminam o caminho
e os peixes são gaivotas que carregam
as nossas almas e a nossa história terrena.
E Deus é o timoneiro,
dono absoluto do leme,
e com o poder absoluto de julgar
e decidir que lugar vamos ocupar na
geografia cósmica tão infinitamente infinita,
onde cabe toda a humanidade,
desde o princípio da matéria até à sua extinção.
E seremos todos iguais, puros, como na primeira
respiração e sopro terrenos,
mas trilharemos caminhos diferentes
ditados pelos nossos comportamentos terráqueos.
2 de Outubro. É o teu dia e tem um nome: "LÚ".
Muitos dias felizes, serenos e descontraídos se passaram; dias tristes e sombrios também. Mas não olhes para trás. Não vale a pena, pois cansas a vista e é tempo perdido.
Os dias passados já estão marcados no coração e na alma, basta olhar para ambos. Está lá tudo gravado desde a primeira fala - que é o choro, que não sei se é de dor ou de espanto - até ao presente instante.
Nasceste buganvília, planta trepadeira, que protege, ampara, e é o porto seguro em momentos de desalento e desmoronamento e que podes transportar contigo - tu és a buganvília - e plantá-la onde quiseres, por exemplo, no canal em frente da tua casa e quando o sol procurar a água do mar para descansar, serenamente olhas a buganvília e ela um sorriso te dará.
Tranquilamente acolherás o dia de amanhã e os dias seguintes até acontecer de novo "o teu dia".
Um bom dia, Buganvília!
Hoje é segunda-feira porque ontem foi domingo e amanhã será terça.feira.