Henry Louis Mencken, também conhecido como H. L. Mencken, foi um jornalista e crítico social norte-americano. Mencken é conhecido por escrever The American Language, um estudo de como a língua inglesa é falada nos Estados Unidos, descreveu a democracia americana como "a adoração de chacais por idiotas"
O artista com o olhar pousado no vazio da tela, o corpo pensativo sentado no banco, a mão que gesticula com o pincel traçando no ar linhas e formas que pretende transportar para a superfície da tela. De vez em quando, o seu corpo parece ausente e o seu olhar perde-se na folhagem das árvores do jardim, com se procurasse no silêncio exterior, algo que o impessione e comova, e assim estabelecer um diálogo entre o seu corpo e a tela que espera pacientemente o roçar do pincel.
As cores, as formas, o volume, e o tema já estão construídos na sua cabeça. O seu olhar procura o pincel e a cor. De forma resoluta a sua mão imprime ao pincel energia e movimento. A tela vai sendo preenchida. E à medida que a pintura vai ganhando a forma que imaginou, o olhar torna-se febril. O corpo torna-se irrequieto, nervoso. Recua, recua ainda mais, avança com passo enérgico, rectifica um detalhe, acrescenta mais cor, o pincel ganha vida. Recua, e demora alguns minutos a observar minuciosamente o quadro. O seu corpo está tenso. Pequenas gotas de suor polvilham o seu rosto. O momento é dramático. Recua uma vez mais, e um longo suspiro liberta toda a tensão que se foi aumulando durante o processo de criação. Avança com passo já descontraído ao encontro do quadro. Pega em novo pincel e desenha, por fim, o seu nome.
"... Trump é uma fraude maciça, a soma maligna das suas deficiências, destituído de tudo excepto a ideologia oca de megalomaníaco."
Afirmação feita por Philip Roth, um dos grandes escritores so século XX e da história da literatura, em entrevista dada a Charles Mcgrath para o "The New York Times" e publicada pela revista "E-A revista do Expresso", edição 2361, de 27 de Janeiro de 2018.
Descubro, fortuitamente, na imensidão branca de um papel, uma palavra extraordinariamente minúscula para ser lida. Uma gota de orvalho escolhe o sítio da palavra e quando a encontra faz "splash", e numa admirável demonstração de magia, a palavra ilumina-se e cresce de tal maneira que ocupa toda a superfície do papel. E o segredo se revela, letra a letra, até a palavra possuir a força, o carácter e a urgência que o seu autor lhe quiz dar.
Ainda hoje me surpreende o formidável poder da palavra minúscula e muito singela capaz de modificar e influenciar atitudes, comportamentos, maneiras de pensar, quebrar barreiras, unir povos e mundos, destruir tabus e preconceitos - apesar dos conflitos de interesses, da ignorância, da ganância. A palavra encerra dentro de si o que é verdadeiramente essencial: A construção do onírico. A riqueza das diferenças. O respeito pela diversidade. No fundo é da única casa que a humanidade tem e que é partilhda por milhões de seres que a palavra trata, revela,alerta, avisa: NATUREZA.
Do outro lado da rua uma sombra esguia tremia do vento metálico e sujo vindo do cais. As rosas na varanda sob cuja pala se detinha murchavam, apesar do sorriso húmido e do olhar ser ternamente muito breve. A esfíngica sombra esborratada na parede branca da casa era de uma mulher: vestia uma pele que cobria a pele nua; um lírio no lugar do sexo; as mãos sobre o regaço; as dores contidas em saltos altos; os cabelos, uma falange de estrelas já sem fulgor; os seios o sítio onde desaguavam lágrimas já estéreis e bocas embriagadas; os ombros levemente descobertos suportavam um rosto pálido, os restos de um beijo, os lábios sujos de batom e na pele do rosto pequenos sulcos marcavam as feridas do coração, a idade da alma e do sofrimento.
Um gato mia - ou a sua sombra mia. E roça-se nas pernas da sombra da mulher. Ela debruça-se. Apoia o seu cansaço nos joelhos pousados na húmida pedra. A sua mão acaricia o pelo sujo do gato. Vadio. Só. Maltratado. Abandonado. O seu reflexo, a história da sua vida, a sua geografia em forma felina. As duas sombras fundem-se numa só gota que se torna brilhante e transparente, e engrossa à medida que as histórias das suas vidas rolam na parede branca da casa. E as rosas ganham vida, o vento, vindo do cais, sopra limpo e perfumado, e do céu caiem luminosas estrelas que pacificam e saram as mazelas do corpo, da alma e do coração.
Um banco. Um jardim. Uma árvore frondosa. Debaixo dela me sento num banco de ripas vermelhas no jardim com ruas ensaibradas, flores com cores e nomes vários, borboletas, namorados, corpos sobre a relva mergulhando o seu olhar no azul celeste, perfumes de origem variada, murmúrios entre a folhagem das árvores e o zumbido dos insectos. Eu e os pássaros.
Não temos segredos, salvo os segredos que são segredos, e todos os temas servem para uma breve e serena conversa: o tempo metereológico, o estado do país, a política caseira, os amores e as pequenas traições - estas ditas com voz muito baixa para que ninguém ouça, a não ser eu, obviamente. Também não temos dias e horas combinadas, pois, por sua vontade, querem que os encontros pareçam casuais. Nunca entendi essa reserva, mas nunca lhe dei importância, ou pus em causa essa vontade, talvez com receio de provocar melindres e perder amigos.
E os dias vão tombando em outros dias e nesse mecanismo irresgatável que nenhuma vontade pode domar, a primavera já foi, e o verão corre rápido ao encontro do outono. Os pássaros tornam-se melancólicos e pouco faladores, exibindo bicos de poucos amigos. As árvores despedem-se das folhas que numa última dança com a brisa fresca caem, num volteio dramático, sobre a relva verde e o ocre do saibrado, formando um espesso tapete por onde passará, com ar triunfal, o Inverno acompanhado dos seus poderosos acólitos que se chamam chuva, trovão, vento forte, geada, neve, frio, nevoeiro e escuridão.
Faço uma pausa, e espero que o latejar dos dias me traga a Primavera, os amigos pássaros, o jardim e o banco habitual de ripas vermelhas sob a árvore de copa densa que peneira o calor do sol.
Quando já não pudermos mais chorar e as palavras forem pequeninos suplícios e olhando para trás virmos apenas homens desmaiados, então alguém saltará para o passeio, com o rosto já belo, já espontâneo e livre, e uma canção nascida de nós ambos, do mais fundo de nós, a exaltar-nos!
Tu sabes se te quero e se fomos os dois abandonados, abandonados para uma bandeira, para um riso que sangre, para um salto no escuro, abandonados pelos lúgubres deuses, pelo filme que corre e desaparece, pela nota de vinte e um pedais, pela mobília de duas cadeiras e uma cama feita para morrer de nojo. Minha criança a quem já só falta cuspir e enviar o corpo e bens para a barricada, meu igual, tu segues-me; tu sabes que o caminho é insuportavelmente puro e nosso, é um duende gritando no telhado às ervas misteriosas, é um rapaz crescendo ao longo dos teus braços, é um lugar para sempre solene, para sempre temido! E o Rossio é uma praça para fazer chorar. Salvé, ò arquitectos! Mas choraremos tanto que será um dilúvio. Automóveis-dilúvio. Sobretudos-dilúvio. Soldadinhos-dilúvio. E quando essa água morna inundar tudo, então, ò arquitectos, trabalhai de novo, mas com igual requinte e igual vontade: vinde trazer-nos rosas e arame, homens e arame, rosas e arame.
Poema de Mário Cesariny, página 193, do livro "POESIA", edição Assírio & Alvim, Novembro de 2017
Espero o vento que há-de trazer as notícias das terras frias do norte.
Espero pacientemente o momento do derrame sobre as palmas das minhas mãos de todas as palavras que ouviu durante a sua longa viagem até às terras quentes do sul. E as guardarei em sítio mais adequado da minha memória. E para não esquecer as gravarei bem fundo em pedra que resista à erosão dos tempos - para memória futura.
Depois, o vento descansará no chão quente da minha casa, e quando for o tempo , fará a viagem mais para sul em direcção a outro continente onde alguém estará à espera.
O site especializado em cultura Open Culture reuniu todas as músicas da banda britânica de rock “Rolling Stones” em uma playlist gratuita, disponível no Spotify. Ao todo são 613 canções em ordem cronológica: de “(I Can’t Get no) Satisfaction” (1965) a “Blue and Lonesome” (2016). Juntas, elas correspondem a mais de 44 horas. Para ouvir a lista de reprodução é necessário possuir registro no serviço, que possui opção de assinatura gratuita.
Considerado um dos grupos musicais mais bem-sucedidos de todos os tempos, o Rolling Stones foi formado em Londres, em 1962, por Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Ian Stewart, Mick Taylor e Tony Chapman. No entanto, Jones se desligou da banda em 1969, quando foi substituído por Mick Taylor. Este, por sua vez, permaneceu no grupo até 1974, quando Ron Wood assumiu o seu lugar. Em 1993, ocorreu a última mudança, com a saída de Wyman. A atual formação é composta por Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts.
A lado dos Beatles, o Rolling Stones é considerado um dos grupos mais importantes do movimento de “invasão britânica”, ocorrido nos anos 1960, no cenário da música mundial. Além, é claro, de uma das bandas de rock mais antigas de todos os tempos. Importância confirmada pela incrível cifra de mais de 240 milhões de discos vendidos em todos os cantos do planeta durante os pouco mais de 50 anos de estrada.
Nós, homens, nunca saberemos o que é uma vida a nascer dentro do nosso corpo, numa intimidade absoluta. De certo modo tento compensar isso com o que escrevo. Vou parindo livros, mas os livros não me abraçam da mesma maneira
Numa entrevista a propósito deste último livro o jornalista perguntou-me
– Matou alguém em África?
respondi
– Passe à questão seguinte
e não percebeu que estava a dizer-lhe, com delicadeza, que isso não era uma questão que se pusesse, que mais não fosse por pudor, que mais não fosse por respeito humano. Eu nunca me atreveria a colocar essa questão a ninguém. Mas uma coisa posso contar, porque aliás foi publicada na Fotobiografia de Tereza Coelho a meu respeito e contada a ela por camaradas meus: Devo ter sido o único militar que, em Angola, torturou um bocado um Pide. Quando li o livro nem me recordava já do episódio, foram outros que o disseram, depois do dito Pide contar algumas histórias horríveis de África, e ao ler o que se passou vieram-me à cabeça os gritos do homem. Está lá escrito
(a Fotobiografia teve mais que uma edição)
na boca de, pelo menos, dois militares, mas claro que não vou falar dessa história. Também não me orgulho mas é verdade, e não foi feito às escondidas. Nunca fiz coisas às escondidas. Ainda hoje não percebo a intenção do jornalista nem quero pensar. Ganhou uma caixa? Ganhou um título? Mostraram--me, no facebook dele, essa pergunta e, por baixo da pergunta uma fotografia minha a tapar a cara, num gesto que faço muitas vezes quando estou cansado, nada tinha a ver com esse assunto, mas é lógico que quem tenha visto o retrato de imediato pensaria numa admissão de culpa da minha parte, o que é feio, muito feio. E aproveita para atacar o livro. Tem todo o direito de o atacar, sobretudo porque ficou furioso por eu ter dado antes da sua, uma entrevista a outra pessoa. Qual o mal? Uma entrevista não é uma notícia. Já dei tantas antes dessa sobre tantos romances e por conseguinte no lugar dele tanto me fazia, o que me ralava isso? Comigo, no lugar em que escrevo, estava o Prof. Gordon Love que assistiu a tudo, ele que vive em Portugal agora, não nos Estados Unidos, a traduzir o romance em apreço e a investigar a minha obra, e que por isso comigo, como assistiu às visitas de vários jornais estrangeiros e continuará a assistir nos próximos meses, trabalha aqui à minha frente e sinto- -me bem na sua companhia. Isto de que me ocupo é tão solitário, tão difícil, que o facto de haver uma pessoa por perto me faz bem. Um livro sempre foi para mim um penar profundo. Termino os dias exausto. E ver outra criatura a penar palavra de honra que ajuda. Quando estava a fazer quimioterapia a sala, bastante grande, encontrava-se cheia de companheiros de infortúnio, o que ajudava a sentir-me acompanhado. Auxiliaram--me tanto como a sua dignidade, a sua coragem, a solidariedade que me manifestaram sempre. Claro que aquilo não era muito agradável: era um horror. Mas fiquei a conhecer melhor os portugueses, sempre cheio de orgulho por ser um deles, sempre cheio de orgulho de estar rodeado de príncipes. Lembro-me de um homem numa situação terminal me dizer:
– Abrace-me que é o último abraço que me dá
e nunca esquecerei o seu sorriso, nunca esquecerei a sua cara quase encostada à minha. Morreu muito pouco tempo depois. Quer dizer: continua vivo em mim. Continuará para sempre vivo em mim, o sorriso não se vai apagar nunca. Trago-o comigo para me iluminar quando estiver muito escuro. Sempre que vou ao Serviço de Oncologia fazer revisões passo sempre pela sala da quimioterapia e cumprimento as pessoas uma a uma. Sinto-me entre irmãos junto deles. Sou um deles. Serei sempre um deles. Engraçado como o Prof. Gordon Love está cada vez mais português, o sotaque vai desaparecendo aos poucos, tem um calão e uma coleção de palavrões notável que melhora todos os dias, no caminho para aqui e daqui se vai enriquecendo porque faz o trajecto a pé. E vê ministros e deputados a dar com um pau dado que mora perto da Assembleia da República. Alto, ruivo, chegou magrinho e engorda que é uma beleza, já de barriga respeitável. De vez em quando fazemos uma pausa, tiramos ambos os óculos e conversamos um bocadinho antes de recomeçar, eu que ando a corrigir um livro que me está a dar um trabalhão sem fim. Olha, comecei este livro perto dele, o anterior também, chegou estava eu a acabar Para aquela que está sentada no escuro à minha espera, portanto agora conheço-o melhor, somos amigos oferece-me exemplares da Library of America, foi a Espanha com a família e trouxe-me de lá uma edição óptima da obra completa de Quevedo, autor que muito admiro, nascido no ano em que Camões morreu. Parafraseando o meu amigo George Steiner, em Tolstoi e Dostoievski, ou se é filho de Quevedo ou se é filho de Gôngora, e eu sou filho de Quevedo. Ou de Bashô, o grande poeta japonês do século XVII.
Uma tradução minha de um dos seus hai-ku:
Os quimonos secam ao sol. Ai as mangas pequenas da criança morta.
Que extraordinário, não é? Mas voltando ao princípio e a
– Matou alguém em África?
O que me vem à cabeça é que me matei a mim: nunca mais tornei a ser o mesmo e julgo que isto se passa com toda a gente que lá esteve, é inevitável. Qualquer experiência radical nos muda, e toda a gente sabe isto, toda a gente passou por isto de uma maneira ou outra. Uma mulher, por exemplo, depois de ter um filho torna-se inevitavelmente uma nova pessoa. Freud falava muito da inveja do pénis, mas nunca falou da inveja, a maior parte das vezes inconsciente, que os homens têm de não poderem engravidar e parir, e quando fui médico senti isso tantas vezes nas psicoterapias, era tão óbvio. Nós, homens, nunca saberemos o que é uma vida a nascer dentro do nosso corpo, numa intimidade absoluta. De certo modo tento compensar isso com o que escrevo. Vou parindo livros, mas os livros não me abraçam da mesma maneira. Se fosse capaz de ter filhos em mim não escrevia, disso tenho a certeza. Só não sei como fazia para engravidar porque a ideia de um homem dentro de mim me repugna infinitamente, era lá capaz. Eu vi a minha mãe com todos os filhos lá dentro e ainda hoje a invejo. Vi-a dar de mamar a cinco galfarros e ela, que era muito bonita, ficava linda na sua comunhão absoluta. A única vez que a vi chorar foi quando um deles se perdeu dentro da sua barriga. E já contei que, quando o Pedro morreu, ela disse
– Uma mãe não tem o direito de estar viva com um filho morto e morreu também.
Quando foi do pai não disse
– Uma mulher não tem o direito de estar viva com o seu marido morto
ela que gostava muito dele e não voltou a ser a mesma pessoa nunca mais. Mas aguentou-se, que mais não fosse por nós. Quando eu estava com um dos cancros vi isso, tão claro, na cara dela. Teria morrido por mim também estava tão claramente escrito na sua cara, ela que não demonstrava os sentimentos e era corajosa e dura. Será que nós, homens, sabemos o que é o amor? Às vezes penso que sim, às vezes duvido. Auden: “diz-me a verdade acerca do amor”. Eu quero uma mulher que morra por mim. Como Modigliani teve. Há assim cabrões como ele, que têm essa sorte, Modigliani que morreu a dizer
– Querida, querida Itália
que não sei ao certo se é um País ou uma Mulher.
(Crónica de António Lobo Antunes publicada na revista VISÃO n.º 1296 de 4 de janeiro de 2018)
Com percursos históricos diferentes e motivações sociais, culturais, políticas, religiosas e psicológicas bem diversas, as fogaças e caladinhos que conhecemos e adoptamos como um dos ex-libris do concelho de Santa Mara da Feira, são, hoje, extremamente importantes para a economia de algumas unidades industriais e comerciais da cidade.
As fogaças e caladinhos encerram dentro de si uma parte importante da nossa história enquanto testemunhos da nossa memória colectiva. Mas, mais importante do que as formas, os sabores e os gestos que ensinam as receitas, é permitir que cada porção de farinha, de açucar, de ovos e manteiga seja a descoberta da alma, das emoções, dos conflitos, da dor, morte, esperança e vida do povo anónimo das Terras de Santa Maria.
Houve, nos séculos XV e XVI, uma grande epidemia. E o povo foi dizimado. E aqueles que restaram levantaram os braços e os olhos em direcção ao Céu e dirigiram as suas súplicas carregadas de fé ao mártir S. Sebastião. E fizeram promessas e empenharam as suas vidas.
O mártir sorriu. E o sorriso limpou-lhes a alma e as lágrimas. E as lágrimas transfiguraram-se e tomaram a forma de fogaças.
E, todos os anos, no dia 20 do mês de Janeiro, somos cúmplices e testemunhos vivos de uma promessa que nos pediram para cumprir. E cumprimos. Por isso descemos à cidade e enfeitamos as velhas ruas do burgo e damos-lhe vida, cor e emoções. E vivemos a História, e aprendemos que a Fogaça não é apenas um símbolo, mas toda a alma do povo das Terras de Santa Maria.
E, ao enterceder, quando a penumbra do dia confunde os rostos e transforma as sombras em silhuetas, o povo junta-se em pequenos grupos e regressa a casa transportando consigo as fogaças e caladinhos. Durante a viagem relembram momentos já passados e contam histórias que fazem parte da História da cidade. E recordam, a propósito de caladinhos, os anos 30, a polícia política, as tertúlias na Farmácia Araújo, e a perspicácia do Augusto Padeiro. E contam como simples biscoitos passaram do anonimato para a ribalta da glória.
"...Um dia, à noite, aqui em Santa Maria da Feira, o Augusto Padeiro e seus empregados estavam a fazer biscoito sortido com forma arredondada e achatada. De repente, entraram elementos da polícia política e o Augusto Padeiro, com medo, disse aos empregados: Shiu! Calados!.
Um dos elementos da Polícia perguntou: - Porque disse calados?
O Augusto Padeiro, respondeu: Porque estamos a fazer Calados. Estes biscoitos são os Caladinhos"...
E de memórias em memórias, sob a égide do castelo altaneiro, num ritual marcado pelo tempo, o povo cumpre o voto e, de uma forma cúmplice e intimista, ergue o olhar ao Céu e o Santo sorri.
A Actual Editora, chancela do Grupo Almedina, adquiriu os direitos para a edição portuguesa do livro Fire and Fury, do autor Michael Wolff, sobre o presidente norte-americano, Donald Trump. O livro deverá chegar às livrarias portuguesas em Fevereiro. E no Brasil, o livro será editado pela Editora Objetiva.
A obra tem sido um dos títulos mais comentados nas últimas semanas, tendo gerado longas filas de espera no dia do lançamento nos EUA. Outras pessoas optaram pela compra online, o que em alguns casos levou a um engano. Um outro livro com um título similar foi comprado por muitos leitores. Trata-se do livro Fire and Fury: The Allied Bombing of Germany, 1942-1945 da autoria de Randall Hansen, professor da Universidade de Toronto.
No livro Fire and Fury: Inside the Trump White House, Michael Wolff analisa os esquemas internos da presidência de Trump, através de informação privilegiada a que teve acesso. Na obra, o autor explora o fenómeno Trump e a polémica, as controvérsias, os escândalos e o drama a ele associados.
A Porto Editora vai editar, em Março, "Em Minúsculas", obra de Herberto Helder que reúne as crónicas e reportagens feitas pelo poeta em Angola entre Abril de 1971 e Junho de 1972.
Este livro resulta da investigação, transcrição, revisão e selecção de textos feita por Daniel Oliveira, filho de Herberto Helder, Diana Pimentel e Raquel Gonçalves.
A Livraria Lello, no Porto, vai acolher a instalação artística “O Rosto do Porto”, que consiste em 400 bustos de figuras da cidade, a inaugurar no sábado, quando se assinala o 112.º aniversário do espaço.
A instalação, cujas esculturas foram levadas a cabo por Ester Monteiro, retrata em bustos de barro “anónimos e figuras conhecidas do Porto”, numa celebração da cidade “através dos rostos de quem a faz, de quem a habita e a representa”, explicou o Bairro dos Livros, que assumiu a responsabilidade artística do projeto, em comunicado.
Patente a partir das 10h00 de sábado, dia de aniversário para o qual está prevista a visita do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, “O Rosto do Porto” conta com quatro centenas de retratos feitos entre novembro de 2017 e os primeiros dias de 2018.
A instalação reflete um trabalho de “cerca de 300 horas dedicadas à modelação dos bustos”, realizada na própria Lello ou em vários estabelecimentos comerciais da cidade, como o Mercado do Bolhão.
Entre as figuras retratadas estão nomes como o autor Richard Zimler, o cineasta João Botelho, o arquiteto Siza Vieira e o encenador Nuno Carinhas, diretor artístico do Teatro Nacional São João, além do deputado do PS Alexandre Quintanilha e o médico e investigador Manuel Sobrinho Simões, diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup).
Entre os anónimos, destacam-se os artistas urbanos Hazul, Mr. Dheo e Godmess, cuja identidade é desconhecida, mas também outras personalidade da cidade, como “Manel do Laço, o Sr. Alcino Sousa, do Bolhão, e a D. Hermínia, da clássica Taberna de Santo António”.
As crianças também fazem parte das 400 caras portuenses, depois de uma visita ao Colégio Nossa Sr.ª da Esperança. Os bustos vão ficar instalados “nos nichos do piso superior da livraria”, recuperados no âmbito do restauro que o estabelecimento tem atravessado nos últimos dois anos.
Segundo a administração da livraria portuense, composta por Aurora Pedro Pinto e José Manuel Lello, citada em comunicado, o projeto faz parte do esforço de celebração do património “material e imaterial” da Lello, através de um “recurso artístico que preserva para o futuro a memória das grandes figuras e personalidades de uma cidade”.
O corpo encerra dentro de si diferentes silêncios, feitos de palavras importantes e sagradas, que nunca devem ser ditas em profanas conversas, para que não percam a magia da exaltação e do mistério.