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#2704 - Sidi Larbi Cherkaoui & Woodkid - I Will Fall For You

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.11.17

 

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publicado às 22:48


#2703 - Uma carta para a Francisca

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.11.17

 

Olá Francisca.

 

Dezembro é o último mês do ano. E no céu azul,  pequenas nuvens de algodão doce luzentes parecem árvores de natal.

 

As nuvens são habitadas por sonhos que espreitam e vigiam o teu sono através da janela do teu quarto,  e têm a forma de borboletas e pirilampos. E as vozes que tu ouves nos teus sonhos são de anjos que guardam e protegem a tua boca, os teus olhos, o teu coração, enfim, todo o teu corpo e te contam as histórias fantásticas do Lucas, da Mia e da Nina.

 

Todos nós temos uma nuvem que nos acompanha para todo o lado. É dentro dela que guardamos os nossos desejos, as nossas angústias, os nossos medos, as nossas lágrimas. E quando chove,  é a nuvem a limpar o nosso espírito, a nossa mente, a nossa alma, o nosso coração para ficarmos mais leves, mais serenos, mais inteligentes e com um enorme sorriso nos olhos.

 

Dezembro é o décimo segundo mês do ano. E o último. E no dia 25 celebra-se no mundo cristão o nascimento de Jesus Cristo. É Natal, que significa nascimento. E é o  tempo da generosidade, da solidariedade, das dávidas, da partilha, da comunhão, da reunião e do encontro. É o tempo das luzes festivas, que são as borboletas e os pirilampos que a tua nuvem, companheira de viagem, carrega durante o percurso que já começaste a fazer neste planeta que se chama Terra. E  enquanto durar a tua viagem que sejas  solidária, generosa, honesta com os outros mas principalmente contigo.

 

Um bom Natal. Que sejas muito feliz.

O Avô

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publicado às 19:30


#2702 - Birdy - People Help The People [Official Music Video]

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.11.17

 

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publicado às 18:59

 

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publicado às 18:42


#2700 - Quatro e Meia da Manhã

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.11.17

 CHARLES BUKOWSKI

 

os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre

quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro e dirão:
“ele tá bêbado de novo”,
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo e
como algo esfaqueado
e cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

 

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publicado às 18:16


#2699 - OS LIVROS QUE O CENTRO NACIONAL DE CULTURA RECOMENDA

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.11.17

 

DEZ LIVROS PARA LER ABSOLUTAMENTE…

 

Aproveitando a aproximação das Festas, publicaremos, ao longo do mês de dezembro, diversas sugestões de boa leitura.

Hoje apenas literatura portuguesa…

Eis o começo!

 

1) Até que as Pedras se Tornem mais leves que a Água, António Lobo Antunes (D. Quixote);

2) O Bebedor de Horizontes, Mia Couto, Terceiro volume de As Areias do Imperador (Caminho);

3) Domingo à Tarde, Fernando Namora (Caminho) - reedição;

4) Esta noite sonhei com Brueghel, Fernanda Botelho (Abysmo) - reedição;

5) Cinzento e Dourado – Raul Brandão em Foco nos 150 anos do seu Nascimento, Vasco Rosa (Imprensa Nacional);

6) Tempo de Escolha, António Barreto (Relógio d’Água);

7) Bíblia, volume III, tradução do grego de Frederico Lourenço (Quetzal);

8) Poesia, Eugénio de Andrade (Assírio e Alvim);

9) Transporte no Tempo, Ruy Belo (Assírio e Alvim);
10) Gastão Cruz, Existência (Assírio e Alvim).

 

POST RETIRADO DO BLOGUE DO CENTRO NACIONAL DE CULTURA

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publicado às 23:38


#2698 - O PÁSSARO AZUL

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.11.17

 CHARLES BUKOWSKI

Nascimento16 de agosto de 1920, Andernach, Alemanha
 
 

há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você?

 

POEMA DE CHARLES BUKOWSKI

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publicado às 23:16


#2697 - Prémio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.11.17

 

Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa anunciou no dia 29 de novembro os vencedores da edição de 2017, que avaliou 1.215 obras publicadas em 2016.

 

Karen, romance da portuguesa Ana Teresa Pereira, ficou em primeiro lugar, recebendo prêmio de R$ 100 mil. Ela é a primeira mulher a obter o prêmio máximo nas 15 edições do prêmio, que foi criado em 2003 como Prêmio Portugal Telecom e, desde 2015, passou a se chamar Oceanos. Nas edições anteriores, as escritoras Beatriz Bracher, Marina Colasanti, Cíntia Moscovich, Elvira Vigna e Ana Martins Marques haviam sido premiadas, porém não obtiveram o primeiro posto.

 

O brasileiro Silviano Santiago ficou em segundo lugar com o romance Machado, sendo premiado com o valor de R$ 60 mil, e Golpe de Teatro, do poeta português Helder Moura Pereira, é o terceiro colocado, premiado com R$ 40 mil.

 

A premiação para o quarto lugar, no valor de R$ 30 mil, será dividida entre a poeta portuguesa Maria Teresa Horta, que concorreu com Anunciações, e o romancista brasileiro Bernardo Carvalho, com Simpatia pelo Demônio. A decisão de atribuir o quarto posto aos dois autores aconteceu após sucessivas rodadas de votação nas quais prevaleceu o empate – levando a curadoria e o Júri Final, com base no regulamento do prêmio, a reconhecerem ambos como vencedores.

 

O Júri Final do Oceanos 2017 foi formado por dois portugueses – a poeta Ana Mafalda Leite e o crítico literário António Guerreiro – e seis brasileiros – as ensaístas Beatriz Resende e Mirna Queiroz, a tradutora e editora Heloisa Jahn e os escritores Maria Esther Maciel, Everardo Norões e Eucanaã Ferraz). A curadoria do Oceanos esteve a cargo da jornalista portuguesa Ana Sousa Dias, da gestora Selma Caetano e do jornalista Manuel da Costa Pinto, ambos brasileiros.

 

A edição de 2017 é um marco na história dos prêmios literários em língua portuguesa: este ano, Oceanos passou a contemplar obras publicadas em todos os países lusófonos e, com isso, tornou-se um radar da produção contemporânea dos países unidos pelo idioma – proporcionando conhecimento recíproco e promovendo o intercâmbio literário e editorial. Os números são expressivos: entre os 51 livros semifinalistas — 31 de autores brasileiros, 19 de autores portugueses e 1 de autor angolano —, 49 nunca foram publicados em outro país de língua portuguesa.

 

Os 19 livros de autores portugueses publicados em Portugal não haviam sido publicados no Brasil e 11 de seus autores nunca tiveram obras lançadas no Brasil; e, dentre os 31 livros semifinalistas publicados no Brasil, 30 ainda não têm edição em Portugal, sendo que 21 dos autores brasileiros semifinalistas são inéditos em Portugal – o que mostra como as sucessivas fases do Oceanos contribuem para difundir a obras dos escritores para além das fronteiras nacionais.

 

A primeira colocação obtida pelo romance Karen possibilita o reconhecimento, no Brasil, da importância que o conjunto da obra de Ana Teresa Pereira tem em Portugal, com mais de 30 livros publicados. Em contrapartida, a premiação de Silviano Santiago, que em 2015 havia vencido o Oceanos em primeiro lugar com Mil Rosas Roubadas, reitera – para o público lusitano e dos demais países lusófonos – o lugar ocupado pelo autor na cena literária brasileira.

 

Veja aqui os 04 vencedores
Clique aqui para baixar a lista de livros vencedores

 

FONTE: ITAÚ CULTURAL

 

 

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publicado às 19:48


#2696 - DOIS POEMAS DE MAR E UM DE SALA

por Carlos Pereira \foleirices, em 29.11.17

ARMANDO SILVA CARVALHO

Nascimento28 de março de 1938, Olho Marinho
Falecimento1 de junho de 2017, Caldas da Rainha
 
 
DOIS POEMAS DE MAR E UM DE SALA
 
Gosto de sentir a natureza e fingir
que não lhe pertenço.
O vento é esta mão gigante e nunca vista
que sacode o carro perante um mar
em brancas gargalhadas.
Não é o mundo que tenho na cabeça.
Penso nas gotas de água que embaciam o vidro,
e vejo o véu da chuva que ainda não chegou
com as nuvens atrasadas.
 
As palavras recusam-se a ser irmãs das ondas.
O meu silêncio não quer ser filho do clamor da tempestade
que faz dançar as aves na escuridão das nuvens
como sondas.
 
Mas como é belo
que tudo viva na luta de viver,
a fúria da maré o espelho do  meu rosto debruçado para dentro
como um poema de Pedro Homem de Melo.
 
O mundo natural dá-me a acidez da voz
que se solta
nos cabos teleféricos
e transporta o ruído dos loucos suicidas
a luxúria do tempo
ou esse luxo que se chama esperança.
 
No céu desamarrado a gaivota baila,
no chão perto do mar outro baile circunda
o meu coração desordenado.
 
E nunca saberei como se dança.
 
POEMA DE ARMANDO SILVA CARVALHO

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publicado às 19:11


#2695 - COM PESSOA NO MARTINHO DA ARCADA

por Carlos Pereira \foleirices, em 28.11.17

Casimiro de Brito.jpg

 CASIMIRO  DE  BRITO

 

 

COM PESSOA NO MARTINHO DA ARCADA

 

Também eu me sentei, anos a fio,

à mesa de Pessoa no Martinho

da Arcada e olhei para dentro do novelo emaranhado

da sua vida. Não há nada

para desenrolar, concluímos. Corriam

os anos setenta, oitenta

e os meus dias eram uma concha recheada de

metáforas cotações enigmas letras

de câmbio de afectos graffitti estatísticas

enquanto nas ruas de Lisboa a revolução rolava

ao sabor da maré e das brisas agitadas

pelo patrão Vasques e por outras

abelhas mestras. "Governa quem é alegre (...)

para ser triste é preciso sentir".

Também eu tomei café

de costas viradas para o Tejo e encontrei

o meu sossego no desassossego de Soares

como se fôssemos o mesmo guarda-livros cansado

que descia a Rua Augusta e depois se dividia

em dois, ele

a caminho da Rua da Madalena, eu

da Rua do Ouro, onde escrevíamos

apressadas sílabas no verso de papéis comerciais

que nos pagavam o pão e a renda

da casa. Do meu gabinete eu via o "lago azul" do Tejo,

ele não. O que mais me fascina

nesta fotografia

é a página que o poeta lê como se fosse

a mãe louca que embala um  filho

morto. Uma tãbua

"todos os papéis estão brancos"

"todas as mensagens se adivinham"

onde eu posso entrar e entrava nesses dias

quando me cansava de caminhar nas ruas baixas

que vão dar ao Cais das Colunas e então sentava-me

à sua mesa e misturava

como se fossem obscuras folhas de café

as palavras dele e outras minhas:

 

Sofro de não sofrer e sobre a morte

escrevo em seu trabalho de não saber

sofrer lavrando-a enquanto

a vida visita. Vivo ou finjo que vivo?

O discurso do corpo

canta, uma vaga aragem que sai fresca

do calor do dia e me faz

esquecer tudo e com as aves

resvalo e com os rios...

 

Incontáveis foram as veze em que o meu cansaço

da bolsa e da vida,

dos ruídos da baixa e dos barcos que partiam

no azul nevoeiro

se aconchegava na página desconhecida

como se fosse um velho buraco de

família uma espécie de sono

metafórico uma imersão

em águas antigas que exerciam em mim

um vago domínio. E então eu lia

o que ele talvez ali

estivesse lendo:

"Nem uma saudade já me resta

dos búzios à beira dos mares"

e também eu me sentia

nesses momentos

o sócio minoritário de um pequeno comércio de poetas

sentados na bruma: havia um que buscava

o mar dos búzios, outro que partia

para as praias onde havia búzios

e ouvia o mar "só e calmo",

como quem habita um aroma

paciente. Também eu

escrevi versos como se fossem lançamentos

de escrita, "com cuidado

e indiferença": havia que fundir-me,

entrar para dentro da areia

idizível; havia que pesar o ouro das palavras

sabendo que pesava

cinza. "O universo

não ẽ meu", lia Pessoa na página em que não sei

o que lia, o universo "sou eu" - fonte

sonolenta

 que se bebe a si própria

e mais nada. Também a mim

me doeu "a cabeça e o universo" nesses dias

em que fui abandonado à tona de água

como se a água tivesse um dentro e um fora

e os cabelos que me foram caindo não dissessem

que tudo são cabelos correndo como rios

um pouco loucos

de um lado para o outro - "uma vaga doença",

"um prenúncio de morte"

que não tem outro mistério além do mistério

de partirem barcos. Também eu

me sentei à mesa de Pessoa no Martinho

da Arcada enquanto lá fora chovia

"como se houvesse chovido (...)

desde a primeira página do mundo"

e o que faço agora é vê-lo estar lendo um nada

que é tudo basta olhar

para o olhar do amigo que sobre o poeta se debruça,

mudo. O enigma que vê outro enigma

no palco ainda verde

e já em ruína

 

POEMA DE CASIMIRO DE BRITO

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publicado às 21:36


#2694 - SEM TÍTULO

por Carlos Pereira \foleirices, em 27.11.17

Um corpo deitado sobre a pedra fria de um beco.

A alma é uma sombra inquieta que

sabe não ter força para

erguer o corpo.

Gotas de chuva escorrem

dos seus olhos assustados e

desaguam nas margens da boca.

Palavras surdas rasgam a pele

implorando ajuda -

ninguém as ouvirá:

está só num beco e assim ficará.

 

Na grande avenida,

a dois passos dali,

gente festiva celebra entre efusivos

beijos e promessas solenemente proclamadas

a passagem para um novo dia, um novo ano.

 

E o corpo já não os ouvirá.

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publicado às 18:24


#2693 - LISBOA

por Carlos Pereira \foleirices, em 27.11.17

bernard-noel.jpg

 BERNARD NOËL

 

LISBOA

 

sete colinas e nenhum papa um tremor

quando o grande sol mastiga o mar da palha

as casas alinhadas como espectadores

de pé diante de outras que vêem

envelhecer por cima delas as roupas estendidas do tempo

a cidade está tão cumeada de vermelhos

que vista de cima parece menchada de sangue

o olhar procura em todo o lado o branco de uma lenda

mas o presente pequenino tudo tapou

só o corpo do poeta ficou intacto

o álcool conserva muito melhor do que a memória

assim se esconde debaixo de uma pedra pesada

a prova de que o ser é menos que o não ser

quem saberá jogar com o desassossego

para que a duração empalhe enfim a pele

e mude a aparência em carne imortal

de um momento para o outro um novo morto morreu

tanto como o mais antigo de todos os mortos

estranha igualdade que desafia o tempo

 

POEMA DO POETA FRANCÊS BERNARD NOËL

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publicado às 16:04


#2692 - Amanhã, o Fim do Mundo

por Carlos Pereira \foleirices, em 27.11.17

 PENTTI HOLAPPA

 

AMANHÃ, O FIM DO MUNDO

 

O fim do mundo chega amanhã

passeamos no jardim de inverno de Lisboa.

É Janeiro, as camélias florescem e

os flamingos nadam na lagoa artificial.

A água é H2O original e a terra antiga.

Parece maravilhoso dividir um destino que se separa.

Acertou-nos uma flecha vinda de longe.

Alguém pensou em nós, na nossa espécie, no mundo.

Há só um único ponto, em que tudo se apoia, 

e está escondido no nosso conhecimento

ou no lixo ao lado da rua ou no

outro lado da Via Láctea, ou em Deus, mesmo no Amor.

Percebi hoje uma coisa tremenda.

Estou tão perto de ti, que me lanço para longe.

Na última noite quero passear

contigo em Lisboa.

 

Poema do poeta finlandês Pentti Holappa

 

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publicado às 16:00


#2691 - Escravatura

por Carlos Pereira \foleirices, em 26.11.17

 

 

O historiador e romancista João Pedro Marques assina o primeiro volume da nova coleção da editora Guerra & Paz Livros Vermelhos. O tema é polémico e o título tem uma só palavra: Escravatura.

Não acredita que os portugueses se interessem muito pelo tema, pois "no passado isso não aconteceu". Também não está preocupado em desmistificar a participação portuguesa na construção desta forma de explorar o outro: "Foi a que foi e está estudada pelos historiadores, entre os quais eu. A minha intenção ao voltar a escrever sobre o assunto, dirigindo-me desta vez aos leitores em geral, foi a de tentar esclarecer mal-entendidos que aparecem nas ideias e discursos de muitas pessoas."

 

 

AUTOR DA NOTÍCIA:  João Céu e Silva - DIÁRIO DE NOTÍCIAS

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publicado às 10:24


#2690 - FERNANDO PESSOA, LISBOA, OU VICE-VERSA

por Carlos Pereira \foleirices, em 25.11.17

 

 

FERNANDO PESSOA, LISBOA ODER UMGEKEHRT

FERNANDO PESSOA, LISBOA, OU VICE-VERSA

 

Boa tarde, Álvaro de Campo.

A mim não me trocas as voltas, reconheço-te

no engraxador da Rua de Santa Marta.

Os teus jogos de mão são um soneto

perfeito e acabado, evocando brilhos

em que Lisboa se revê -

lusitana, lascivamente cortejada

com olhos de alçapão.

O Tejo a teus pés engole as lágrimas

negras aqui choradas

pelas vítimas de conquistadores armados de gravata.

 

Boa tarde, Alberto Caeiro.

A mim não me trocas as voltas, reconheço-te

no cauteleiro de camisa azul,

aquele com os discos de suor nos sovacos.

Como um profeta, prometes na Baixa a toda a gente

o céu na terra.

A tua voz ardente de fadista atravessa-se

entre as casas,

para nos fazer tropeçar nos sons guturais

e cair nos braços da tristeza ferida,

atordoados do bacalhau.

 

Boa tarde, Ricardo Reis.

A mim não me trocas as voltas, reconheço-te

no guarda-freio da linha 12.

Brilha em ti a criança através das lunetas

quando travas e aceleras o cometa de lata,

sedento de carris, e os passageiros pensam

que chegou o Juízo Final.

Arrastas-te por Alfama, vais-lhe deixando cair

no coração as tuas odes nocturnas,

ancorando os seus dias no devaneio,

apesar da miséria.

 

Agosto de 1997

Poema escrito por Martin Steiner e traduzido por João Barrento

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publicado às 22:53


#2689 - LISBOA

por Carlos Pereira \foleirices, em 25.11.17

 WILLIAM CLIFF

 

LISBOA

 

o céu do Atlântico o grande céu errante

o céu e estas nuvens que passam lentamente

o céu que com o vento se nos faz inconstante

e nos despeja água que colhe prontamente

 

céu que faz renascer o gosto das viagens

no corpo do que quer por certo ainda sonhar

enquanto vê correr a sombra das imagens

pensamentos e fumos lá por fora a voar

 

oh! como é triste aqui desejar o amor

neste canto da terra tão longe da Europa

oh! como nos enfraquece todo este céu sem cor

e estas ondas que caem com a dureza da rocha

 

como está só aquele que passeia com o cão

e quer beber ao longe a sua solidão

com o seu negro olhar odeia e não mais quer

que olhar as mesmas ondas sem sequer as ver

 

oh! como este vento nos corta já a pele

como é mais forte aqui o sopro do mar alto

e como é tão difícil achar neste vergel

um lugar para o barco onde ancorar a salvo

 

e todo o mau humor na cara desta gente

e o silêncio diante da imensidão marinha

e este enorme rio com o seu maldoso vento

onde passam vapores para a Praça sozinha

 

Poema do poeta belga William Cliff

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publicado às 22:20

 

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publicado às 22:37


#2687- Donovan - Universal Soldier

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.11.17

 

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publicado às 19:32


#2686 - George Michael - Older

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.11.17

 

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publicado às 19:10


#2685 - Julee Cruise - Mysteries Of Love

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.11.17

 

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publicado às 18:48


#2684 - Os Homens Ocos

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.11.17

T. S. Eliot

 

OS HOMENS OCOS

 

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada
Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam — se o fazem — não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.
Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo
— Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

 

(Trecho de Os Homens Ocos, de T.S. Eliot.) 

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publicado às 18:28


#2683 - Aprendizagem

por Carlos Pereira \foleirices, em 24.11.17

 

Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão

que a vida só consome
o que a alimenta.

 

Poema de Ferreira Gullar

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publicado às 18:14


#2682 - GLOSA À CHEGADA DO OUTONO

por Carlos Pereira \foleirices, em 23.11.17

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GLOSA À CHEGADA DO OUTONO

 

O corpo não espera. Não. Por nós

ou pelo amor. Este pousar de mãos,

tão reticente e que interroga a sós

a tépida secura assetinada,

a que palpita por adivinhada

em solitários movimentos vãos;

este pousar em que não estamos nós,

mas uma sede, uma memória, tudo

o que sabemos de tocar desnudo

o corpo que não espera; este pousar

que não conhece, nada vê, nem nada

ousa temer no seu temor agudo...

 

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,

quando um de nós ou quando o amor chegou.

 

Poema de Jorge de Sena

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publicado às 23:36


#2681 - As coisas que mais prazer me deram na vida

por Carlos Pereira \foleirices, em 23.11.17
António Lobo Antunes

Agrafar mais, carimbar mais, vestir a camisola do Benfica aos quinze anos no primeiro treino, as Variações Goldberg, chegar da mata em Angola, os primeiros passos da minha filha Zézinha, eu a ensinar a Isabel a ler, o meu primo António a explicar-me Se a mãe sêsse o pai puzia gravata, um abraço do meu tio João Maria, o meu pai a deixar-me ganhar-lhe uma corrida

Ilustração: Susa Monteiro

Agrafar, carimbar, cortar uma página pelo picotado, fazer buraquinhos numa folha com aquela maquineta de fazer buraquinhos, o palrar de um bebé, calar de súbito o som a meio de uma ária de ópera, esmagar as bolhinhas de uma folha de plástico transparente, ver da janela, lá em baixo, o primeiro pássaro da manhã, olhar o retrato do Papa Inocêncio de Velázquez, meter na boca um pé de criança de três meses, uma finta de Garrincha na televisão, o sorriso súbito de certas mulheres, um sino de aldeia ao fim da tarde, as luzes de Beja à noite na planície, a Serra da Estrela vista da varanda dos meus avós quando eu tinha cinco anos, a minha filha Joana, pequenina, a desenhar a sua primeira árvore, o meu avô a fazer-me uma festa comigo quase a adormecer, o tenente, quando eu era cadete, a ordenar a Marcha lento e à vontade, um pirilampo no quintal a meio da noite, a voz da minha mãe a recitar António Nobre, um gato caminhando devagarinho no muro da buganvília, montar uma zebra de pau no carrossel do oito, dizer gosto de ti para um rosto que aumenta, os olhos azuis da Avó Querida quando me chamava meu amor, agrafar mais, carimbar mais, uma mulher a murmurar Meu Deus na almofada, o pneu afinal não ter furo nenhum, o médico junto à minha cama Vou dar-lhe alta, um falcão a passar junto à janela, o guardanapo com uma rã a saltar ao eixo, começar a ver o fundo do prato quando me davam sopa, beber água da bilha na casa de Nelas, a campainha do recreio a meio de uma frase do professor de Matemática, a primeira vez que dancei de cara encostada com uma menina de treze anos também, o palhaço que me apertou a mão no circo, a tia Madalena para mim Estou aqui filho comigo com a tuberculose, o raio verde no Caramulo, agrafar mais, carimbar mais, vestir a camisola do Benfica aos quinze anos no primeiro treino, as Variações Goldberg, chegar da mata em Angola, os primeiros passos da minha filha Zézinha, eu a ensinar a Isabel a ler, o meu primo António a explicar-me Se a mãe sêsse o pai puzia gravata, um abraço do meu tio João Maria, o meu pai a deixar--me ganhar-lhe uma corrida, o meu irmão Pedro a contar Já vou no Pardal de regresso de uma aula de Catequese sobre o Espírito Santo, o primo Alfredo que me levantava acima da sua cabeça e eu maior do que toda a família, a minha mãe perfumada com Chanel número cinco, a Gija a coçar-me as costas antes de me vestir o pijama, a professora de Português, no primeiro ano do liceu, a apontar-me à turma Este menino vai ser um grande escritor e eu feliz, a primeira vez que li A Ruiva de Fialho de Almeida, o sabor da minha boca depois de um rebuçado de hortelã pimenta, a cor do mar da Praia das Maçãs às seis da tarde, receber uma carta de Céline quando lhe escrevi aos quinze anos, o dia em que o Cifra me veio dizer que tinha uma filha e fui chorar de felicidade e raiva para o arame farpado, os meus pais terem-me encontrado quando me perdi em Veneza aos sete anos junto a um dos leões de pedra na Praça de São Marcos, o meu avô a murmurar Meu netinho acariciando-me o pescoço, beber água da bilha, o primeiro dente de leite que descobri de manhã na almofada, a esperança de voltar a ler As Aventuras De Dona Redonda E Da Sua Gente, a minha pilinha de repente grande e eu cheio de orgulho e vergonha, com a minha mãe a fingir que não via, o tio Joaquim a levar-me até aos Correios, na Beira Alta, no quadro da bicicleta, o palhaço pobre que me deu um passou bem no circo, comer cocada de Belém do Pará feita pela tia Isabel, eu em Paris à procura da cegonha que me tinha trazido dali para Lisboa sete anos antes: ainda não perdi a esperança de a encontrar e de certeza que ela se lembra de mim, acho eu. Ter feito chichi em Nova Iorque ao lado de Mickey Rooney. Cortar, mal acabe isto, todas as páginas do bloco pelo picotado. Acho que devo ter por aí uma dessas coisas de fazer buraquinhos: que mais pode um homem desejar?

 

(Crónica publicada na VISÃO 1289 de 16 de novembro)

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publicado às 16:52

"Os cem melhores poemas portugueses dos últimos cem anos", escritos por cem poetas, acaba de ser publicado pela Companhia das Letras, celebrando a pluralidade da poesia com autores famosos, mais desconhecidos, esquecidos ou acidentais.

A recolha foi feita pelo jornalista e escritor José Mário Silva que introduz a antologia com breves notas, nas quais se defende ainda antes do ataque: "Os cem poemas aqui reunidos não serão os melhores de um século, 'stricto sensu', mas fixam a resposta do antologiador à pergunta 'Quais são, para si, os cem melhores poemas portugueses dos últimos cem anos?'".

José Mário Silva reconhece que entre milhares de poemas portugueses escritos ao longo de um século é impossível escolher os melhores, não só por a escolha ser sempre incompleta, mas pela própria indefinição quanto ao que significa "melhor" em poesia, e sobretudo pela subjetividade do ato: "Uma antologia diz sempre mais sobre quem seleciona do que sobre a matéria selecionada".

"Nem o mais amplo e lúcido comité de sábios poderá chegar a um consenso que é, por definição, impossível", escreve José Mário Silva, que avançou, então, para a definição de critérios de escolha dos poemas.

O mais difícil prendeu-se com a representatividade e José Mário Silva optou por não fazer corresponder o número de textos escolhidos de cada autor com a sua importância relativa na história da literatura, para permitir uma maior variedade de vozes.

Se assim não fosse, "gigantes" como Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen ou Herberto Helder teriam de estar muito mais representados do que um jovem escritor com escassa bibliografia.

Ainda se levantaria outro problema, que era o de o leitor ser induzido a pensar que um Vitorino Nemésio era mais significativo do que um Mário Cesariny, só por o livro conter mais poemas do primeiro do que do segundo.

Assim, chegou o antologiador ao "critério radical" de escolher apenas um poema por autor, ou seja, o livro reúne cem poemas de cem poetas, sendo que -- e esta é a exceção -- Fernando Pessoa, que foi vários num só, aparece quatro vezes, enquanto ortónimo e enquanto cada um dos seus principais heterónimos (Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis).

A baliza temporal do século implicou a exclusão de poemas publicados pela primeira vez em livro antes de 1917, mas ainda assim foi suficiente para abranger autores ainda nascidos antes de 1900, como Camilo Pessanha, Angelo de Lima, Teixeira de Pascoaes, Judith Teixeira, Almada Negreiros ou Florbela Espanca.

São evocados também alguns poetas mais esquecidos, entre os quais José Gomes Ferreira, Mário Dionísio, António Maria Lisboa, Ana Hatherly ou Luís Pignatelli, e outros que nem têm a poesia como género literário principal, como é o caso de Jorge de Sena, Carlos de Oliveira ou Eduardo Guerra Carneiro.

Na lista contam-se, entre muitos outros, Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Alexandre O'Neill, Herberto Helder, Ruy Belo, Al Berto, Natália Correia, Fiama Hasse Pais Brandão, António Ramos Rosa, Hélia Correia ou Nuno Júdice.

Também as vozes mais jovens e menos conhecidas da poesia portuguesa, como é o caso de Rui Lage, Golgona Anghel, Raquel Nobre Guerra ou Matilde Campilho, constam deste livro de 192 páginas, dividido em quatro partes, intituladas "Retratos", "Relatos", Desacatos", "Hiatos".

 

AUTOR: AGÊNCIA LUSA

 

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publicado às 22:54


#2679 - Os Loucos da Rua Mazur

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.11.17

 

 

O mais recente Prémio Leya chega hoje às livrarias. Leia aqui o primeiro capítulo do novo romance de João Pinto Coelho.

Chega hoje às livrarias o mais recente Prémio Leya de Literatura, o romance Os Loucos da Rua Mazur, de João Pinto Coelho. O autor, que já tinha sido finalista deste prémio em 2014 com o livro Perguntem a Sarah Gross, regressa ao mesmo tema, o do holocausto e de uma das épocas do século XX mais dramáticas da história da humanidade. O cenário do romance é duplo, passando-se uma parte na atualidade e outra na Polónia, durante a II Guerra Mundial. Recorde-se que o júri presidido por Manuel Alegre escolheu este original entre 400 por ser "bem estruturado, bem escrito, que capta a atenção do leitor, quer pelo tema quer pela construção em tempos paralelos".

Para João Pinto Coelho, a edição que hoje chega aos leitores, menos de um mês depois de ter sido anunciado vencedor, só tem a ganhar por ser fruto do "reconhecimento que resulta da atribuição de um prémio literário com este prestígio, que acaba sempre por contribuir para a visibilidade do romance distinguido". Quanto ao futuro profissional passar pela atividade literária, Pinto Coelho não é por enquanto assim tão entusiasta: "No futuro imediato, não creio. É uma hipótese que poderei colocar, mas apenas quando tiver três ou quatro livros publicados."

Segundo o autor, este livro começou a ser pensado enquanto escrevia o anterior. Daí que admita que o cenário semelhante de ambos se deva à sua perceção sobre a necessidade de voltar a esta época: "Tive sempre a convicção de que havia coisas cruciais sobre a perseguição aos judeus naquele período que não constavam no meu primeiro romance. Além dos alemães, houve outros perpetradores; tem que ver com a universalidade do mal, e tinha de escrever sobre isso ou sobraria a sensação de uma história incompleta."

No que respeita à investigação, João Pinto Coelho voltou aos muitos livros que leu sobre o tema nos últimos trinta anos, não esquecendo os muitos contactos que estabeleceu com historiadores polacos ao longo de diversas visitas à Polónia. Questionado sobre se leu os livros dos seus antecessores premiados, aponta o de João Ricardo Pedro e o de Afonso Reis Cabral: "Dois romances magníficos."

 

Pré-publicação do primeiro capítulo de Os Loucos da Rua Mazur

Por João Pinto Coelho

 

PARIS, 2001

A montra negra da Livraria Thibault era a moldura mais respeitada da Rue de Nevers, um beco desconsolado que se escondia entre as costas de dois quarteirões do Quartier de la Monnaie e que, séculos antes, servira de escoadouro às imundices das irmãs da Penitência de Jesus Cristo. A loja situava-se sob o arco que abria para o Quai de Conti e, para entrar, era necessário bater na vitrina. Isto se ele desse pelo sinal, o que não era garantido. Naquele domingo, o livreiro cego dirigiu-se ao recesso mais escuro da livraria e sentou-se à escrivaninha. O tampo estava vago, apenas papéis dispersos, uma telefonia a pilhas e um rosto num passe-partout, o rosto de Fidelia.

 

 

 

Artigo escrito por João Céu e Silva para o  DN - Diário de Notícias

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publicado às 22:31


#2678 - A FLOR DA SOLIDÃO

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.11.17

 

A FLOR DA SOLIDÃO

 

Vivemos convivemos resistimos

cruzámo-nos nas ruas sob as árvores

fizemos porventura algum ruído

traçámos pelo ar tímidos gestos

e no entanto por que palavras dizer

que nosso era um coração solitário

silencioso profundamente silencioso

e afinal o nosso olhar olhava

como os olhos que olham nas florestas

No centro da cidade tumultuosa

no ângulo visível das múltiplas arestas

a flor da solidão crescia dia a dia mais viçosa

Nós tínhamos um nome para isto

mas o tempo dos homens impiedoso

matou-nos quem morria até aqui

E neste coração ambicioso

sozinho como um homem morre cristo

Que nome dar agora ao vazio

que mana irresistível como um rio?

Ele nasce engrossa e vai desaguar

e entre tantos gestos é um mar

Vivemos convivemos resistimos

sem saber que em tudo um pouco nós morremos

 

Poma de Ruy Belo

 

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publicado às 19:34


#2677 - RUA DE ROMA

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.11.17

 

RUA DE ROMA

 

Quero uma rua de Roma

com seus rubros    com seus ocres

com essa igreja barroca

essa fonte    esse quiosque

aquele pátio na sombra

ao longe a luz de um zimbório

mais o cimo dessa torre

que não tem raiz no solo

Em troca darei Moscovo

Oslo    Tóquio    Banguecoque

Fugaz e secreta à força

de se mostrar rumorosa

só essa rua de Roma

em cada nervo me toca

Por isso a quero assim toda

opulenta de tão pobre

com o voo desta poma

o ribombar desta moto

com este bar de mau gosto

em cuja esplanada tomo

este espresso após o almoço

à tarde um campari soda

Em troca darei Lisboa

Londres    Rio    Nova Iorque

toda a prata    todo o ouro

que não tenho em nenhum cofre

só no cotão do meu bolso

e no que a pátria me explora

Quero essa rua de Roma

Aqui onde estou sufoco

Aqui as manhãs irrompem

de noites que nunca morrem

Quero esse musgo    essa fonte

essas folhas que se movem

sob o sopro do siroco

ora tépido ora tórrido

frente à igreja barroca

tão apagada por fora

mas que do altar ao coro

por dentro aparece enorme

Quero essa rua de Roma

casta    rugosa    remota

Em troca darei as lobas

que  não aleitaram Rómulo

mas me deixaram na boca

o travo do transitório

Quero essa rua de Roma

sem conhecer quem lá mora

além da madonna loura

misto de corça e de cobra

que ao longo de tantas noites

tanta insónia me provoca

Quanto às restantes pessoas

inventarei como sofrem

Quero essa rua de Roma

Terá de ser sem demora

Sabemos lá quando rondam

abutres à nossa roda

Mas não me lembro do nome

da rua que assim evoco

soberba se bem que tosca

direita se bem que torta

com um Sol que tanto a doura

como a seguir a devora

Em troca darei o troco

do que por nada se troca

o florescer de uma bomba

o deflagrar de uma rosa

Quero essa rua de Roma

Amanhã    Ontem    Agora

Que importa saber-lhe o nome

se a trago dentro dos olhos

Há uma igual em Verona

Outra ainda mais a norte

Outra talvez nem tão longe

num burgo que o mundo ignora

Outra que apenas se encontra

onde a paixão a descobre

Mas rua sempre de Roma

Romana em todo o seu porte

mistura de alma e de corpo

aquém    além    do ilusório

Romana mesmo que em Roma

não haja que a recorde

Onde quer que o sexo a sonhe

e o coração a coloque

é lá que todo sou todo

Aqui não    Aqui não posso

 

POEMA DE DAVID  MOURÃO-FERREIRA

 

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publicado às 18:51

 

 

 

ALGUMAS PROPOSIÇÕES COM PÁSSAROS E ÁRVORES QUE O POETA REMATA COM UMA REFERÊNCIA AO CORAÇÃO

 

Os pássaros nascem na ponta das árvores

As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros

Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores

Os pássaros começam onde as árvores acabam

Os pássaros fazem cantar as árvores

Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se

deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal

Como pássaros poisam as folhas na terra

quando o outono desce veladamente sobre os campos

Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores

mas deixo essa forma de dizer ao romancista

é complicada e não se dá bem na poesia

não foi ainda isolada da filosofia

Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros

Quem é que lá os pendura nos ramos?

De quem é a mão a inúmera mão?

Eu passo e muda-se-me o coração

 

POEMA DE RUY BELO

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publicado às 18:45


#2675 - ACORDAR NA RUA DO MUNDO

por Carlos Pereira \foleirices, em 21.11.17

 

ACORDAR NA RUA DO MUNDO

 

Madrugada, passos soltos de gente que saiu

com destino certo e sem destino aos tombos

no meu quarto cai o som depois

a luz, ninguém sabe o que vai

por esse mundo, que dia é hoje?

soa o sino sólido as horas, os pombos

alisam as penas, no meu quarto cai o pó.

 

um cano rebentou junto ao passeio.

um pombo morto foi na enxurrada

junto com as folhas dum jornal já lido.

impera o declive

um carro foi-se abaixo

portas duplas fecham

no ovo do sono a nossa gema.

 

sirenes e buzinas. ainda ninguém via satélite

sabe ao certo o que aconteceu. estragou-se o alarme

da joalharia. os lençóis na corda

abanam os prédios. pombos debicam

 

o azul dos azulejos. assoma à janela

quem acordou. o alarme não pára o sangue

desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o

vídeo não gravou

 

e duma varanda um pingo cai

de um vaso salpicando o fato do bancário

 

POEMA DE LUIZA NETO JORGE

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publicado às 18:18


#2674 - Soneto

por Carlos Pereira \foleirices, em 20.11.17

Nascimento10 de agosto de 1921, Belém, Pará, Brasil
Falecimento1 de julho de 1981, Lisboa
 
 
SONETO
 
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.
 
Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.
 
Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.
 
A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
 
Poema de Carlos de Oliveira
 
 

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publicado às 17:46


#2673 - Um Poema de Vitorino Nemésio

por Carlos Pereira \foleirices, em 20.11.17

Nascimento19 de dezembro de 1901, Ilha Terceira
Falecimento20 de fevereiro de 1978, Lisboa
 
 
 
O anoitecer situa as coisas na minha alma
Como as cadeiras arrumadas
Quando os amigos partiram.
Meus degraus ainda têm a passada do adeus,
Lá quando uma palavra cria tudo,
E o resto, fechada a porta,
É posto nas mãos de Deus.
Então, à minha janela,
Tudo repousa e larga o aro dos conjuntos,
Tudo vem, com um gesto secreto e confiado,
Pedir-me o molde e o amor do isolamento,
Como se um desconhecido
Passasse e pedisse lume
E eu, sem reparar, lho estendesse:
Quando quisesse conhecê-loo,
Só a minha brasa ao longe,
Na noite que se faz pelo peso dos rios
E vive de fogo dado.
Assim nocturno, sou
O suporte de quem não tem para aconsciência,
Que é como não ter para pão:
As coisas cegas
Prendem-se a mim,
Ao meu olhar, que é único na noite
Pelo seu grande alcance de humildade,
E fico cheio delas,
Como estes sítios ermos, junto de uma cidade,
Cemitérios de tudo, lugares para cães e bidons velhos;
Fico cheio da pobreza e do sinal das coisas,
Como um retrato de gente pobre é pobre e gauche
(Vale a recordação),
Mas sinto-me, ao mesmo tempo seco e cheio de tacto
Como se fosse o seu bordão.
 
Poema de Vitorino Nemésio

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publicado às 17:22


#2672 - Agosto 1964

por Carlos Pereira \foleirices, em 17.11.17

 

Entre lojas de flores e de sapatos, bares,
mercados, butiques,
viajo
num ônibus Estrada de Ferro-Leblon.

Volto do trabalho, a noite em meio,
fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,
relógio de lilases, concretismo,
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,
que a vida
eu compro à vista aos donos do mundo.
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

Digo adeus à ilusão
mas não ao mundo. Mas não à vida,
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
da punição injusta,
da humilhação, da tortura,
do horror,
retiramos algo e com ele construímos um artefato
um poema
uma bandeira

 

Poema de Ferreira Gullar

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publicado às 19:40


#2671 - Um poema de José Ángel Valente

por Carlos Pereira \foleirices, em 17.11.17

 

Se depois de morrer nos levantamos,

se depois de morrer

venho para ti como dantes vinha

e algo há em mim que desconheces

porque não sou o mesmo,

que dor o morrer, saber que nunca

alcançarei as margens 

do ser que foste para mim tão dentro

de mim mesmo,

se tu eras eu e inteiro me invadias

porque é tão cega agora  esta fronteira,

tão aziago este muro de palavras

subitamente geladas

quando mais te requeiro,

te digo vem e às vezes

ainda me olhas com ternura

apenas nascida da lembrança.

 

Que dor é morrer, chegar a ti, beijar-te

desesperadamente

e sentir que o espelho

não reflecte o meu rosto

nem tu sentes,

tu que tanto amei,

a minha ansiosa impresença.

 

Poema de José Ángel Valente, traduzido por Pedro Tamen.

 

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José Ángel Valente nasceu em Orense em 1929.

Estudou nas Universidades de Santiago de Compostela e de Madrid, onde se licenciou em Filologia Românica.

Estudou em Oxford, onde obteve o Master of Arts.

De1958 a 1980 viveu em Genebra, onde foi tradutor em organizações internacionais, e posteriormente em Paris, onde dirige um serviço da Unesco.

Poeta conceituado, obteve em 1955 o Prémio Adonais da Poesia, em 1960 e 1980 o Prémio da Crítica, e em 1988 o Prémio Príncipe das Astúrias.

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publicado às 19:10

 António Lobo Antunes

 

O SENHOR BARATA

 

As pessoas têm a ideia que a morte é a solidão total num nada completo. E provavelmente é. Julgo que é. Mais: tenho a certeza que é, mas não somos capazes de conceber isso. Não aceitamos conceber isso. De forma alguma nos resignamos a isso. E assim nasceram as religiões. Que todas elas nos prometem, nos garantem, nos juram a existência do dia seguinte e o tornam mais ou menos aceitável

George Steiner perguntou-me

– Sabe porque é que os judeus não se matam?

esperou um bocadinho e como não disse nada respondeu ele por mim:

– Não podem suportar a ideia de não ler o jornal no dia seguinte
e fiquei a olhar para a sua cara lá em baixo

(ele é mais pequeno)

com um sorriso nos olhinhos agudos. Isto não é só verdade para os judeus, claro. Quem

(mesmo aqueles que, como eu, não lêem jornais)

suporta a ideia de não ler o jornal do dia seguinte? Não saber o que vai passar-se? Ficar sozinho num vazio absoluto? As pessoas têm a ideia que a morte é a solidão total num nada completo. E provavelmente é. Julgo que é. Mais: tenho a certeza que é, mas não somos capazes de conceber isso. Não aceitamos conceber isso. De forma alguma nos resignamos a isso. E assim nasceram as religiões. Que todas elas nos prometem, nos garantem, nos juram a existência do dia seguinte e o tornam mais ou menos aceitável. Se até há quem suba ao céu de corpo inteiro. Se até há, como Jesus garantiu ao ladrão, quem hoje mesmo estará connosco no Paraíso. No meu caso quando lá chegar encontro logo o senhor Barata, que faleceu há dias, é que nem ginjas. O senhor Barata a quem daqui a uns tempos vou dar um abraço

– Dê cá mais cinco, senhor Barata

 

e que costumava comer no mesmo restaurantezinho que eu. Era gordo, pequeno, com um eterno boné na cabeça, colocado numa exactidão de cápsula, de calções, com um saco de cabedal a cair-lhe do ombro esquerdo. Passava o almoço sem companhia, ou antes na companhia do telemóvel e do jornal, que lia todo até os anúncios

(com fotografia)

das vendedoras de carícias a preços em conta e nádegas atlânticas, oferecendo beijos na boca e

(passo a citar)

bum-buns gulosos, cujas dimensões me provocavam um certo receio de ser completamente devorado e ficar na companhia dos colegas da véspera. O senhor Barata tinha sido tipógrafo, mostrou-me logo à primeira o seu cartão de membro do Partido Comunista que, sei lá a razão, imaginava mais castos e afinal malandrecos, e um retrato dele em Maputo, fardado de soldado e com um cão da Polícia Militar pela trela, garantindo-me que, como eu, também havia passado por África a defender o Império, e decidiu tratar-me logo por tu. Respondi-lhe

– Você se quer falar comigo diz Sua Alteza

mas a sua solidão comoveu-me. Morava sozinho não percebi bem onde, cheirava a infelicidade que tresandava, adoecera tempos antes e a quimioterapia enfraquecia-o muito:

– Um cancro do pulmão, sabe?

como por acaso não sabia comovi-me mais. Apontou o boné

– Já me atingiu a cabeça

mostrou-me a papelada médica e eu lá tentava animá-lo o melhor que podia sobre os nossos pratos de peixe espada. Que eu percebesse não tinha mulher nem filhos, nunca lhe vi nenhum compincha e lá íamos falando nisto e naquilo sobre as nádegas do jornal onde às vezes me parecia que um Lenine a espreitar, embora não se sentisse com ânimo para frequentar o Partido nem as meninas. Comia no restaurantezinho, fazia os tratamentos e depois seguia para casa, tão solitário como um cacto no Pólo Norte. Não se queixava, ia aguentando com dignidade a sua cruz, caminhava na direção de uma noite secreta, sem queixas, sem azedume, sem tragédia, falando-me dos seus tempos de tipógrafo e do seu respeito pelos livros, até já lera um dos meus

(percebia-se logo que mentia)

ou um bocado de um dos meus, mas era tudo tão difícil agora. Disse-lhe que era tudo difícil desde o princípio e ele, em resposta, encheu-me dos seus tempos de África, onde ainda convertera dois ou três cabos ao marxismo-
-leninismo que continuava a apoiar sem reservas, embora crítico e lúcido. Gostou que eu também houvesse andado por esses lados, mas a possibilidade da morte levara-o a abandonar o ateísmo, com os rabos do jornal na ideia, que sempre ajudam, Alteza, pensa-se que não mas ajudam. Depois de uns dias sem aparecer no restaurantezinho perguntei por ele ao dono que me segredou

– O senhor Barata morreu

ou seja encontraram-no no chão, em casa, ainda vivo, e foi acabar ao hospital. Custa-me dar com outro freguês na sua mesa agora. Eu gostava do senhor Barata. Não pensem que não: gostava mesmo e tenho pena que não possa ver, no periódico, os rabos dos amanhãs que cantam. Escrevi isto num tom propositadamente ligeiro a fim de me impedir de secar a ramela de uma lágrima. Se eu tivesse um boné como o dele enfiava-o na cabeça numa exactidão de cápsula.

 

Crónica publicada na VISÃO 1288 de 9 de novembro

 

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publicado às 08:03

 

Rosa Montero venceu o Prémio Nacional das Letras Espanholas 2017, um galardão que o júri justificou com a longa trajetória novelística, jornalística e ensaística da escritora espanhola.

A escritora Rosa Montero venceu esta terça-feira o Prémio Nacional das Letras Espanholas 2017, no valor monetário de 40 mil euros, um galardão que o júri justificou com a longa trajetória novelística, jornalística e ensaística da escritora espanhola.

O júri do prémio destacou ainda que a trajetória da escritora madrilena demonstrou “brilhantes atitudes literárias” e enalteceu a “criação de um universo pessoal, cujo tema reflete seus compromissos vitais e existenciais, classificados como éticos e de esperança”, de acordo com o Ministério da Educação, Cultura e Desporto de Espanha, responsável pelo prémio.

Rosa Montero nasceu em Madrid em 1951, estudou jornalismo e psicologia e colaborou com grupos de teatro independentes, enquanto começava a publicar em vários meios de comunicação 1976, altura em que começou a trabalhar em exclusivo para o “El País”, tornando-se editora-chefe do suplemente de domingo em 1980 e 1981.

Em 1978, venceu o Prémio Manuel del Arco para entrevistas, em 1980, o Prémio Nacional de Jornalismo para reportagens e artigos literários e, em 2005, o Prémio da Associação da Imprensa de Madrid pela sua vida profissional.

Entre os seus romances contam-se “A filha do canibal” (Prémio Primavera de Novela em 1997), “A louca da casa” (2003), que lhe valeu os prémios “Qué Leer” 2004 para o melhor livro do ano, Grinzane Cavour para o melhor livro estrangeiro publicado na Itália em 2005, e Roman Primeur 2006, em França.

É ainda autora de “História do rei transparente” (2005), vencedor do prémio ‘Qué Leer’ 2005 para o melhor livro do ano e o ‘Mandarache Prize’ 2007.

O seu trabalho está traduzido para mais de 20 línguas.

 

Autor
  • Agência Lusa

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publicado às 23:15


#2668 - "O Lápis Mágico de Malala"

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.11.17

MALALA YOUSAFZAI

 

A Editorial Presença publicou o livro ilustrado para a infância "O Lápis Mágico de Malala" da paquistanesa Malala Yousafzai que em 2014 foi laureada com o Prémio Nobel  da Paz.

 

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publicado às 23:01


#2667 - Sergio Ramírez vence Prémio Cervantes 2017

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.11.17

O escritor nicaraguense Sergio Ramírez é o vencedor do Prémio Cervantes 2017, o mais importante Prémio Literário da literatura em língua espanhola.

Sergio Ramírez venceu em 1998 com o livro "Margarita, está lindo o mar" o Prémio Alfaguara do romance, livro publicado em Portugal pela Difel.

Tem, também, outro livro ("Tiveste medo do Sangue?") publicado em 1989 pela Editorial Caminho.
O Prémio Cervantes foi criado pelo Ministério da Cultura de Espanha em 1975 com o objectivo de reconhecer a carreira de um escritor que, através do seu trabalho, contribuiu para enriquecer o legado literário hispânico.

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publicado às 22:38


#2666 - Eu sou outro

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.11.17

 YOLANDA PANTIN

 

EU SOU OUTRO

 

Aceitei o convite para viajar.

No carro,

a paisagem passa demasiado depressa.

Roça o ouvido

a música surda que o interior repele.

Atravessamos o país sem parar,

a não ser para urinar ou beber um gole de água

nas estações de serviço.

O verão castiga cinzento e estático

como o céu.

Conversas banais distraem o assédio

das horas mortas.

Montamos as tendas

na margem de um rio largo e lamacento.

As aves chilreiam ao levantar voo.

Abeiro-me do rio

como Narciso do lago.

As águas turvas não me reflectem o rosto.

Sonhei com isto

 

              (A ferida sarou sobre a carne morta)
 
_________________________________________________________________________________________________________________
Yolanda Pantin nasceu em Caracas em 1954. Estudou Letras na Universidade de Caracas. Publicou vários livros de poesia, entre os quais se destacam Casa o Lobo, Correo del Corazón, La Canción Fria, Poemas del Escritor, El Cielo de Paris. Com o livro Poemas del Escritor (1989) obteve o Prémio de Poesia Fundarte.

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publicado às 19:15


#2665 - Um poema de Al Berto

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.11.17

 Alberto Raposo Pidwell Tavares (Al Berto)

11 Jan 1948 | 13 Jun 1997
 
 
 
panos estendidos sobre os animais mortos
névoa
escondendo a paisagem onde caminha o corpo
que esqueceste ontem no limiar da manhã
 
senta-te na cama - toca nos animais
solta-os e vais ver que a paisagem gravou
sombras nos olhos - fecha-os
para que tudo arda com a itensidade de um astro
 
dá as mãos e  o coração
às feras do crepúsculo - quando o termómetro
marcar 39 e meio e nas pálpebras se abrirem
charcos de treva... mas
 
por agora
fica sossegado - bebe o leite quente
aconchega as mantas - dorme
com o fio da gadanha enrolado ao pescoço
 
POEMA DE AL BERTO
 

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publicado às 18:54


#2664 - ÚLTIMAS PALAVRAS DE VIRGÍLIO

por Carlos Pereira \foleirices, em 15.11.17

 FERNANDO GUIMARÃES

 

ÚLTIMAS PALAVRAS DE VIRGÍLIO

 

Foi junto dos pântanos que nasci. Neles vi o rosto de meus pais

e de todos os antepassados. Olham-me sempre através do lodo

tranquilamente. Quando me falam, talvez a água entre

pelas suas gargantas e as palavras tornam-se mais lentas e serenas.

Escuto-os e sei como hei-de continuar a viver ao seu lado. Eles ensinam-me

o sentido que procuro em cada frase. Reparo que um verso fica

mais perto, e descubro como as sílabas longas e breves encontram

a pouco e pouco o que é o seu justo lugar; trata-se da harmonia apenas

que lhes pertence. Há-de ser assim naturalmente e tudo se repete

sem qualquer esforço, como se os deuses estivessem ali. Mas eu sinto-me

tão frágil diante deles... Sei que os seus lábios são demasiado pesados

e, por isso, nada lhes pergunto. Espero, tranquilamente. Então eles olham-me

com contida alegria, acenam-me, fazem sinais que não compreendo

sequer: Há uma explicação que procuro ainda e fito de repente

as suas pupilas. Aí, nesse ponto negro, surpreendo aquilo que principia

a oscilar entre o nada e todas as coisas, a ignorância e o meu conhecimento:

esta será a claridade de que precisam para me ver. Não me ofusca

e é essa a luz que mais desejo agora. Mas sei que preciso

também da noite. E é acerca dela que tantas vezes escrevo. Há-de alguém

continuar a ler o que chega dessa sombra, mesmo que seja eu que a venha

dissipar para que se torne só meu o que digo. Pergunto algumas vezes

pela paz que existe em tudo o que perdemos. Imaginarei

depois a minha última viagrm. Só isto. Não é mais fácil falar sobre

a última viagen de cada um de nós? Ela arrasta-nos para o interior

da areia. Encontramos, depois, as mesmas ondas esquecidas, os sinais do mar

ou alguns versos, aqueles que há muito ficaram presos às nossas mãos.

Encontramos também aquilo que poderia ser apenas a proximidade

de qualquer sonho. Sim, porque é adormecidos que nós seguimos

por esse caminho difícil, entre sombras, com o peso das nossas pálpebras

pousadas sobre o corpo. Ah, conheço esse peso. Queria recordá-lo

como se viessem falar acerca do meu rosto com simplicidade

para que finalmente o consigam reconhecer. Mas quem há-de

escrever o que por mim não pode ser escrito, senão com o silêncio

de ambos? Este era o meu destino, o caminho que sigo

ao encontro de outras vozes, cercado pelas nuvens que existem

apenas no interior dos olhos, nessa escuridão súbita que se torna

uma secreta forma de saber. Aí descubro estas palavras e para elas quero

a mesma simplicidade, porque é assim que se fala da morte.

 

POEMA DE FERNANDO GUIMARÃES

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Escritores > Fernando Guimarães

Data Nasc: 03/02/1928 Naturalidade: Cedofeita, Porto

Na web:


 Biografia

Fernando de Oliveira Guimarães, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu na freguesia de Cedofeita, a 3 de fevereiro de 1928.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, viu editado, em 1956, o seu primeiro livro de poesia, ‘Face junto ao vento’, mas poucos anos antes já tinha debutado na revista Eros, com a publicação de alguns poemas.

Lecionou Filosofia em várias escolas do ensino secundário e colaborou em diversos jornais e revistas, como O Comércio do Porto, Jornal de Letras, Árvore.

O seu trabalho enquanto tradutor reflete afinidades literárias muito concretas – traduziu obras de Shelley, Keats, Byron, Dylan Thomas, Hugo von Hofmannsthal e Elaine Feinstein.

Trabalhou como investigador no Centro de Literatura da Universidade do Porto. Integrou o Conselho Científico e foi membro investigador do Centro de Estudos do Pensamento Português da Universidade Católica Portuguesa.

Recebeu, entre outros, o Prémio D. Dinis (1985), o Pen Clube Português (1988) e o Prémio Luís Miguel Nava (2003).

Em 1995 foi feito Comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.

Fernando Guimarães é um reincidente na lista de autores galardoados com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (APE). Em 1992, a distinção reconheceu a obra ‘O Anel Débil’ (Edições Afrontamento); volvidos 15 anos, foi o livro ‘Na voz de um nome’ (Roma Editora). Este último livro valeu-lhe também o Prémio Literário Ruy Belo 2008.

Em 2006 foi-lhe atribuído pela Universidade de Évora o Prémio de Ensaio Vergílio Ferreira, tendo em vista o conjunto da sua obra ensaística.

A sua obra poética “Os caminhos Habitados”, venceu o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes 2014.

Bibliografia:

A Face Junto ao Vento, 1956 (poesia)

Os Habitantes do Amor, 1959 (poesia)

As mãos Inteiras, 1971 (poesia)

Três Poemas, 1975 (poesia)

Poesia 1952-1980, 1981

A Poesia da Presença, 1981 (ensaio)

Simbolismo, Modernismo e Vanguardas, 1982 (ensaio)

Casa: o Seu Desenho, INCM, 1985 (poesia)

Tratado de Harmonia, 1988 (poesia)

Poética do Saudosismo, 1988 (ensaio)

A Analogia das Folhas, Edições Lumiar, 1990 (poesia)

Poética do Simbolismo em Portugal, 1990 (ensaio)

O Anel Débil, Edições Afrontamento, 1992 (poesia)

Conhecimento e Poesia, 1992 (ensaio)

Poesias Completas, Vol.I, Edições Afrontamento, 1994

Os Problemas da Modernidade, 1994 (ensaio)

As quatro Idades, Presença, 1996 (prosa)

Diotima e as outras Vozes, Campo das Letras, 1999 (teatro)

O Modernismo Português e a sua Poética, 1999 (ensaio)

Limites para uma Árvore, 2000 (poesia)

Lições das Trevas, 2002 (poesia)

Artes Plásticas e Literatura: do Romantismo ao Surrealismo, 2003 (ensaio)

Mulher, Asa, 2006 (poesia)

Na Voz de um nome, Roma Editora, 2006 (poesia)

Sentido e Sensibilidade, Caixotim, 2007 (ensaio)

A Obra de Arte e o Seu Mundo, 2007 (ensaio)

A Poesia Contemporânea Portuguesa (3ª edição), 2008 (ensaio)

Agumas das Palavras – Poesia Reunida 1956-2008, Quasi Edições, 2008

História do Pensamento Estético em Portugal, 2009 (ensaio)

As Raízes Diferentes, Relógio d’Água, 2011 (poesia)

Os Caminhos Habitados, Edições Afrontamento, 2013 (poesia)

 


Principais Obras Publicadas

Poesia 1952-1980
2015, Modo de Ler

As suas imagens mais significativas correspondem a um empenho de captar o ritmo de tudo quanto, de algum modo, se pode dizer palpita, ou se desenvolve a partir de um núcleo geminativo. Eis uma poesia cuja ontologia poderia mesmo exprimir, em abstrato, dizendo nós não existimos, e nada existe, salvo … Ler mais

Os Caminhos Habitados
2013, Edições Afrontamento

“Há-de ser o silêncio. Ele vem de novo ao teu encontro como se o esperasses. Talvez seja maior a tranquilidade que existe no único caminho que vinhas percorrer. Sabes que se esta sombra te acompanha é porque nela habitas.” Poema da pág. 59

Apresenta-se aqui uma visão geral da poesia na segunda metade do século XX. Esta poesia é atravessada por alguns movimentos que vêm de um tempo anterior ou que com ela coincidem: Neo-Realismo, Surrealismo, Poesia Experimental ou, recentemente, o Pós-Modernismo. À margem destes movimentos, vários poetas mais ou menos isolados se … Ler mais

Uma obra essencialmente filosófica que dá conta do aparecimento do pensamento estético em Portugal.

Sentido e Sensibilidade
2007, Edições Caixotim

Volume de ensaios da autoria do professor e ensaísta Fernando Guimarães, em torno da obra de diversos autores portugueses, evidenciando os traços que lhes são comuns. Obra de marcante interesse para uma compreensão alargada das intersecções dos autores românticos na literatura moderna.

Mulher
2006, Edições ASA

Em Mulher recolhe-se a poesia de Fernando Guimarães onde esta palavra, que pode estar presente ou ausente, exprime a comunicação e o encontro que se entreabrem no ser, na existência humana. Tais poemas aproximam-se de uma reflexão – digamos uma ontologia – que vai procurar o sentido que há nessa existência.

Na Voz de um Nome
2006, Roma Editora
 
Lições de Trevas
2002, Quasi Edições

Plano Nacional de Leitura Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura. Na primeira parte do seu novo livro, «Lições de Trevas», Fernando Guimarães procede a um convite à leitura. São poemas sobre como ler um livro, dirigindo-se ao leitor e explicando que a poesia não é tanto … Ler mais

 

INFORMAÇÃO RETIRADA DO «SÍTIO» ESCRITORES.ONLINE

 

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publicado às 19:09


#2663 - Sucedem-se os Dias

por Carlos Pereira \foleirices, em 14.11.17

SUCEDEM-SE OS DIAS

 

A poesia é de facto um animal

difícil de domesticar. Há as palavras,

as tardes de sol nas esplanadas dos cafés,

as manhãs brumosas junto ao mar. Os cavalos

galopam na planície, mudam de direcção

bruscamente. Aonde irão? Mudou

de cor o céu. Ainda azul, mas baço agora.

O maço de cigarros em cima da mesa,

os estudantes loiros que tomam café,

as raparigas que com os dentes e os lábios

tentam seduzir os nossos destinos incertos.

Para onde nos leva o tempo? E o desejo?

De madrugada acordei, assustou-me a solidão.

Tanto silêncio na noite que parece misteriosa.

Sucedem-se os dias da nossa  morte lenta.

Quem quer saber de nós? E nós,

de quem queremos saber, sinceramente?

A linguagem desenvolve em nós a ilusão

de entender o mundo e o que nos acontece.

É como ir pelos carris do comboio,

de qualquer comboio para não se sabe onde.

Vamos indo e acreditamos que uma noite

havemos de chegar ao destino. Para quê

querer ou pedir mais? Duas da tarde.

Vieram três pessoas sentar-se à minha mesa

do café. Hello, Bob, how are you doing?

O António Nobre não teria resistido

ao rosto angélico, ao olhar virginal

da rapariga que se sentou connosco a tomar

café. Que espera ela da vida, que

pensa do futuro? Que fantasias 

ou sonhos graves atormentam

o seu espírito aparentemente

tão sereno? Vive numa casa

perto do mar, é estudante. Se eu

fosse andando? Mas não me apetece.

Poesia, deixa-me ir assinalando o percurso

da intranquilidade. A minha biografia

é igual à de toda a gente, não tenho

vida privada nem sei o que isso é.

Isolando-me, preservo da corrupção o

interior.  Alimento a necessidade de

me sentir original e diferente adoptando

certa maneira de falar. Tudo o que

escrevo é autobiográfico, evidentemente.

É o que me têm sugerido, com o ar de

acusar-me. Confessional, pouco artístico.

Queriam-me solene, conformado,

obediente? Sabem mais da minha

vida do que eu, vêem-me por todo

o lado nos meus poemas. E sou apenas

o sonho de um outro, o meu e o

deles, ficção e histórias que se contam.

Escrevo porque não existo. Lugar-comum,

retórica conhecida. Questão de perspectiva.

A linguagem permite todos os abusos e a

verdade nunca existiu. Só a poesia.

De que derrotas se fez a nossa vitória

sobre o vazio que nos estava prometido?

Ir-se construíndo dia a dia, operariamente.

Abelhas modestas, vivendo na obsessão do

mel que depois nos roubam. Por que tosses,

rapariga que lês o jornal? A montanha

ao fundo, a brisa que vem do mar. Passa

o inefável sem cessar diante dos nossos

olhos, escondido na banalidade do destino.

Uma existência divina, quem pudera. De

calções, sentado na esplanada do café,

parece que nunca saí do mesmo sítio. Por

favor, rapariga, fecha um pouco o ângulo

das pernas, começam a perturbar-me as tuas

calcinhas azuis. Um pardal poisa na mesa,

depois voa de novo. Vou-me

embora também, pousar noutro lugar.

 

Poema de João Camilo

 

 

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publicado às 21:30


#2662 - REVISTA "LER"

por Carlos Pereira \foleirices, em 14.11.17

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A revista "Ler", Edição de Outono 2017. n.º 147, já se encontra disponível nas bancas.

 

 

 

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publicado às 21:22


#2661 - CAIR DO PANO

por Carlos Pereira \foleirices, em 13.11.17

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 RUI KNOPFLI (INHAMBANE, 1932 | LISBOA, 1998)

 

CAIR DO PANO

 

As acácias já se incendiaram de vermelho

e o zumbido das cigarras enxameia obsidiante

a manhã de Dezembro. A terra exala,

em haustos longos, o aguaceiro da madrugada.

Ao longe, no extremo distante da caixa

 

de areia, o monhé das cobras enrola

a esteira e leva o cesto à cabeça,

cumprido o papel exacto que lhe coube

e executou com paciente sageza hindu.

Dura um instante no trémulo contraluz

 

do lume a que se acolhe, antes da sombra

derradeira. Assim, os comparsas convocados

para esta comédia a abandonam, verso

a verso, consignando-a ao olvido

e à erva daninha que, persistente, a cobrirá

 

irremediavelmente. O encenador faz

a vénia da praxe e, porque aplausos

lhe não são devidos, esgueira-se pelo

anonimato da esquerda alta. É Dezembro

a encurtar o tempo, o pouco que nos sobra.

 

Poema de Rui Knopfli incluído no livro O Monhé das Cobras, publicado em 1997, pela 

Editorial Caminho.

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publicado às 20:58


#2660 - Citações

por Carlos Pereira \foleirices, em 12.11.17

 Blaise Pascal (1623-1662) | Filósofo, Físico, Matemático.

 

"Todos os problemas da humanidade decorrem da incapacidade de o homem ficar tranquilamente sentado sozinho no seu quarto"

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publicado às 08:34


#2659 - O Oriente é uma boca

por Carlos Pereira \foleirices, em 10.11.17

Israël Eliraz

 

O ORIENTE É UMA BOCA

 

1.

Levanta um dedo e aponta

o centro no qual

 

o rapaz (de joelhos,

à tua frente) desenha

 

segundo as leis da luz

e as leis do ragga,

 

e como ele pergunta:

"estás dentro do teu corpo

 

ou és 

o teu corpo?"

 

Põe no teu caminho

uma  pausa de

flores

 

2.

Um homem nu

levanta a alma

 

que levanta o corpo

à mão.

 

Subitamente ao corpo

falta corpo.

 

A boca, punho de ouro

empunha carvões de prazer.

 

Como uma pena,

uma mancha sobe

do calor do peito.

 

O que é que nasce

em ti, sem ti,

 

quando perguntas,

"estou mais ou menos

no centro disto?"

 

3.

O oriente

é uma boca 

 

para onde te voltas

de joelhos

 

àprocura de matéria

mais rápida

 

que a luz, que o

ragga. Aprendes

 

com a energia do sol, com

o fruto acobreado no forno do olho:

 

o que há -

é isto! é o que há!

 

e há aquele

que antecede tudo

 

o que se disser

dele

 

e sem ele -

não somos

 

Poema de Israël Eliraz

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publicado às 21:37


#2658 - Prémio Goncourt 2017

por Carlos Pereira \foleirices, em 10.11.17

O Prémio Goncourt 2017 foi atribuído ao escritor francês Eric Vuillard com o livro "L'Ordre du Jour".

O Prémio Goncourt é o mais importante prémio literário francófono.

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publicado às 21:26


#2657 - PRÉMIOS P.E.N. PARA OBRAS PUBLICADAS EM 2016

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.11.17

O poeta Fernando Pinto do Amaral com o livro "Manual de Cardiologia", o romancista Ernesto Rodrigues com o livro "Uma Bondade Perfeita" e o ensaísta Rui Miguel Mesquita foram os vencedores do Prémio Literário P.E.N. Clube Português.

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publicado às 16:08


#2656 - Três Madrigais

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.11.17

 Philippe Jaccottet (30 de Junho de 1925)

 

TRÊS MADRIGAIS

 

Todas as searas ardem

e a breve cotovia

é um ascendente fragmento desse fogo.

Transpõe todos os patamares do ar

até porque o chão é demasiado quente.

 

Há uma beleza que os olhos e as mãos tocam

e que obriga o coração a um primeiro grau no canto.

Mas uma outra foge-lhes e é preciso ir mais alto

até não vermos mais nada,

o belo alvo e o caçador pertinaz

confundidos na jubilação da luz.

 

Poema de Philippe Jaccottet

______________________________________________________________

Nasceu na Suíça em 1925. É tradutor e poeta.

A sua obra poética obteve o Grande Prémio de Poesia da Academia Francesa.

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publicado às 09:12


#2655 - TAL A SALIVA DE TER SIDO

por Carlos Pereira \foleirices, em 03.11.17

 

TAL A SALIVA DE TER SIDO

 

Faltam-nos braços e palavras,

noites horizontais de que ainda sabemos pouco,

e saber que entre a morte

e a pressa da névoa ao desvanecer-se

há-de ficar alguma lembrança consistente de ter sido.

 

Escrevo-te agora porque sei que amanhã

nunca acabaria tudo isto

que se estende sobre ti porque é saliva.

 

 Observa a luz, da varanda,

e vê a névoa caída nesta casa

onde entre lençóis prolongo a última palavra sábia:

eco inútil deste ponto onde mora

uma fugaz febril memória de amor e de cinza.

 

Poema do poeta catalão Jordi Virallonga

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publicado às 14:32


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