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BALADA DOS AMIGOS SEPARADOS
Onde estais vós Alberto Henrique
João Maria Pedro Ana?
Onde anda agora a vossa voz?
Que ruas escutam vossos passos?
Ao norte? ao sul? aonde? aonde?
José António Branca Rui
E tu Joana de olhos claros
E tu Francisco E tu Carlota
E tu Joaquim?
Que estradas colhem vosso olhar?
Onde anda agora a vossa vida repartida?
A oeste? A leste? Aonde? aonde?
Olho prà frente prà cidade
e pràs outras cidades por tràs dela
onde se agitam outras gentes
que nunca ouviram vosso nome
e vejo em tudo a vossa cara
e oiço em tudo o som amigo
a voz de um a voz de outro
e aquele fio de sol que se agitava
sempre
em todos nós
Dançam as casas nesta noite
ébrias de sombra nesta noite
que se prolonga em plena angústia
aos solavancos do destino
e não consegue estrangular-nos
Sigo e pergunto ao vento à rua
e a esta ânsia inviolável
que embebe o ar de calafrios
Onde estais vós? onde estais vós?
E por detrás de cada esquina
e por detrás de cada vulto
o vento traz-me a vossa voz
a rua traz-me a vossa voz
a voz de um a voz de outro
toada amiga que me banha
tão confiante tão serena
Aqui aqui em toda a parte
Aqui aqui E tu? aonde?
POEMA DE MÁRIO DIONÍSIO RETIRADO DO LIVRO "POESIA COMPLETA" EDIÇÃO IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA 2016
MÁRIO DIONÍSIO
eis-te de novo minha pátria inquietante
de esquinas fugidias nua aos perigos
de novo o fosso aberto o passo instável
as porteiras olhando os vizinhos olhando
e o riso frio das ilusões denunciadas
nas clareiras do espanto abertas pelo escuro
de novo tu minha pátria invisível
dos pontos cardeais em chama lenta
de novo tu minha pátria forçosa
do silêncio gritante e desolado
de novo as portas se nos fecham e os olhos
passam de largo e fingem não nos ver
de novo sós nas ruas alvejadas e de novo
os tijolos primeiros nos degraus hesitantes
cada um em seu posto a estrada vive entre folhas que voam
cada um em seu posto ergue-se a vida ao alto
vem coração aqui está a tua pátria
vem coração operário de outras horas
vem ledo e forte pelos bairros tristes
nas macieiras rompem as maçãs
desponta loiro o trigo no chão negro
é entre mortos que o futuro floresce
POEMA DE MÁRIO DIONÍSIO IN "POESIA COMPLETA", EDIÇÃO IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA, 2016