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#2108 - Balada dos amigos separados

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.11.16

BALADA DOS AMIGOS SEPARADOS

 

Onde estais vós Alberto Henrique

João Maria Pedro Ana?

Onde anda agora a vossa voz?

Que ruas escutam vossos passos?

Ao norte? ao sul? aonde? aonde?

José António Branca Rui

E tu Joana de olhos claros

E tu Francisco E tu Carlota

E tu Joaquim?

Que estradas colhem vosso olhar?

Onde anda agora a vossa vida repartida?

A oeste? A leste? Aonde? aonde?

Olho prà frente prà cidade

e pràs outras cidades por tràs dela

onde se agitam outras gentes

que nunca ouviram vosso nome

e vejo em tudo a vossa cara

e oiço em tudo o som amigo

a voz de um a voz de outro

e aquele fio de sol que se agitava

sempre

em todos nós

Dançam as casas nesta noite

ébrias de sombra nesta noite

que se prolonga em plena angústia

aos solavancos do destino

e não consegue estrangular-nos

Sigo e pergunto ao vento à rua

e a esta ânsia inviolável

que embebe o ar de calafrios

Onde estais vós? onde estais vós?

E por detrás de cada esquina

e por detrás de cada vulto

o vento traz-me a vossa voz

a rua traz-me a vossa voz

a voz de um a voz de outro

toada amiga que me banha

tão confiante tão serena

Aqui aqui em toda a parte

Aqui aqui E tu? aonde?

 

POEMA DE MÁRIO DIONÍSIO RETIRADO DO LIVRO "POESIA COMPLETA" EDIÇÃO IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA 2016

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publicado às 19:17


#2107 - Um poema de Mário Dionísio

por Carlos Pereira \foleirices, em 14.11.16

MÁRIO DIONÍSIO

 

eis-te de novo minha pátria inquietante

de esquinas fugidias nua aos perigos

de novo o fosso aberto o passo instável

as porteiras olhando os vizinhos olhando

e o riso frio das ilusões denunciadas

nas clareiras do espanto abertas pelo escuro

 

de novo tu minha pátria invisível

dos pontos cardeais em chama lenta

de novo tu minha pátria forçosa

do silêncio gritante e desolado

 

de novo as portas se nos fecham e os olhos

passam de largo e fingem não nos ver

de novo sós nas ruas alvejadas e de novo

os tijolos primeiros nos degraus hesitantes

cada um em seu posto a estrada vive entre folhas que voam

cada um em seu posto ergue-se a vida ao alto

 

vem coração aqui está a tua pátria

vem coração operário de outras horas

vem ledo e forte pelos bairros tristes

nas macieiras rompem as maçãs

desponta loiro o trigo no chão negro

é entre mortos que o futuro floresce

 

POEMA DE MÁRIO DIONÍSIO IN "POESIA COMPLETA", EDIÇÃO IMPRENSA NACIONAL CASA DA MOEDA, 2016

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publicado às 18:49


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