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#2073 - Nils Frahm - Some

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.06.16

 

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publicado às 23:28


#2073 - Maxence Cyrin - Where Is My Mind

por Carlos Pereira \foleirices, em 30.06.16

 

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publicado às 23:26


#2072 - Livros e Leituras - UMA CAUSA IMPROCEDENTE

por Carlos Pereira \foleirices, em 28.06.16

 Cláudio Magris

 

"...A morte destina-se aos museus. A todos, não só a um Museu de Guerra. Cada exposição - quadros, esculturas, objetos, maquinaria - é uma natureza-morta e a gente que se aglomera nas salas, enchendo-as e esvaziando-as como sombras, exercita-se na futura estância definitiva no grande Museu da Humanidade, do mundo, em que cada qual é uma natureza--morta. Rostos como fruta colhida da árvore e disposta num prato..."

 

Excerto de "Uma causa improcedente" de Claudio Magris, editado pela Quetzal, Abril 2016

 

______________________________________________________________________

Claudio Magris nasceu em Trieste, em abril de 1939. É romancista, ensaísta, germanista, e colabora regularmente com revistas e jornais europeus, nomeadamente o Corriere della Sera. Depois de uma passagem pela Universidade de Freiburg, foi professor de Língua e Literatura Germânicas na Universidade de Turim. Atualmente dá aulas na sua cidade natal. Magris exerceu também o cargo de Senador entre 1994 e 1996.

Os seus livros contribuíram para o conhecimento literário da cultura europeia – ele foi o criador do conceito de Mitteleuropa. Claudio Magris é um dos candidatos favoritos ao Prémio Nobel da Literatura e um dos mais influentes intelectuais dos nossos tempos.

 

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publicado às 17:55


#2071 - David Machado vence o Prémio Salerno Libro d'Europa

por Carlos Pereira \foleirices, em 23.06.16

 

 David Machado, com o romance "Índice Médio de Felicidade" publicado em 2013 pela Editora Dom Quixote, foi o vencedor do Prémio literário

«Prémio Salerno Libro d´'Europa»

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publicado às 23:24


#2070 - POESIA É ACTO

por Carlos Pereira \foleirices, em 22.06.16

REMCO CAMPERT

 

 

POESIA É ACTO

 

Poesia é acto

de afirmação. Afirmo

que vivo e que não vivo só.

 

Poesia é futuro: pensar

na próxima semana, em outro país

e em ti mesmo quando velho.

 

Poesia é minha respiração, empurra

meus pés às vezes hesitantes

sobre a terra que pede movimento.

 

Voltaire acometido de varíola

salvou-se ingerindo entre outras coisas

120 litros de limonada: isso é poesia.

 

Ou então a ressaca. Quebrada

nas rochas não se deixa derrotar,

refaz-se: e isso é poesia.

 

Cada palavra que se escreve

é um atentado contra a velhice.

Afinal a morte vence, isso é certo,

 

mas a morte é apenas silêncio na sala

depois de ressoar a última palavra.

A morte é emoção.

 

 

 

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publicado às 15:24

 

 

 A morte espreita

A morte espera por eles os que fogem da morte

 

Os que fogem do medo

A morte espreita

A morte espera por eles os que fogem da morte

 

Os barcos, jangadas que transportam sonhos em vez de gente

A morte espreita

A morte espera por eles os que fogem da morte

 

E quando os sonhos naufragam a morte espera por eles os que fogem da morte

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publicado às 19:12


#2068 - Sem título

por Carlos Pereira \foleirices, em 19.06.16

 Já caminhei muito caminho;

Para trás ficaram as sombras

que aprisionei em molduras

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publicado às 22:51


#2067 - Auto-retrato em 3X4

por Carlos Pereira \foleirices, em 19.06.16

 JOÃO MELO

 

AUTO-RETRATO 3X4

 

Sou um homem de muitos silêncios e raras eloquências,

inesperadas paixões programadas,

alguns medos, optimismos inúteis

e, principalmente, uma vasta e apaziguadora preguiça.

O meu coração está preso desde uma tarde distante

a uma só mulher,

excepto nos interlúdios.

Escrevo cada vez mais desesperadamente.

Às vezes tenho pensamentos incestuosos.

Se não fossem as consequências,

juro que cometeria um pequeno crime.

A vida trespassa-me como uma faca,

mas não consigo agarrá-la.

 

Poema de João Melo

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publicado às 16:07


#2066 - The serial killer

por Carlos Pereira \foleirices, em 18.06.16

JOÃO MELO

 

- O seu nome?

- Qual deles?

- Bem, como é que você se apresenta?

- Depende...

- Depende?

- Sim, depende. Não sabe o que é depender?

É...

- Sei,sei. Mas depende de quê?

- Ora, não imagina? Do contexto, das minhas conveniências...

- Explique-se melhor...

- Já vi que a senhora é ingénua.

- Sou escritora.

- Ah, está bem... E posso saber  porquê que quer saber o meu nome? Desculpe, mas não posso deixar de fazer esta pergunta...

- É simples. Tenho de escrever uma estória sobre

- Sobre mim? Quer dizer que eu vou passar a ser uma personagem literária e não apenas um indivíduo? Sem falsas modéstias, eu não acho que a minha vida seja tão emocionante assim... De certo modo, é mesmo muito chata!...

- Na verdade, não é bem sobre si.  A sua vida será apenas o pretexto que pretendo utilizar para demonstrar que, qundo os países estão em crise, a líbido dos povos aumenta, podendo mesmo ficar completamente descontrolada. É uma tese inovadora - reconheço -,  mas estou plenamente convencida da sua justeza.

- Concordo. Em tempo de crise, os homens descobrem as suas três vocações realmente essenciais: rezar, roubar e fornicar.

- As crises são, sobretudo, morais...

- É a sua opinião. A minha...

- Ora, segundo me disseram, o senhor é um exemplo desse, digamos assim, «acirramento sexual» típico das situações de crise.

- Faço o que posso, faço o que posso... Mas vale mesmo a pena contar a minha vida aos seus leitores?

- É evidente que sim. Mas, por favor, não percamos tempo. Quanto mais depressa me responder, mais depressa este conto termina...

- Costuma dizer-se que quem conta um conto acrescenta um ponto...

- Tentarei ser o mais justa e objectiva possível. Diga-me lá: como é que você se chama?

- Tenho um nome de guerra, mas só o uso em ocasiões especiais.

- Alguém lhe chamou, uma vez, porco machista...

- Isso é um slogan. Não é um nome.

- É angolano?

- Sim. Mas poderia ser malaio. Esquimó, não, por causa do frio.

- Descreva-me a sua família.

- A extensa ou a restrita?

- Como são as suas relações coma sua mãe?

- Esteja sossegada, que não desejo matá-la.

- A sua mulher já o traiu alguma vez?

- O amor tem de ser testado, nem que seja só de vez em quando...

- Quantas mulheres é que já levou para a sua cama?

- É a escritora que quer saber isso ou é a mulher?

- Tem problemas políticos?

- Não.

- E com o fisco?

- Também não.

- Ou com a Igreja?

- Sou ateu, graças a Deus.

- Tem inimigos?

- E se os tiver?

- Diga-me porquê que escreveu esta frase: «Foder é um dever revolucionário!»?

- Adivinhe. Ou então invente. A escritora é você...

- Mas não há mesmo nada de errado  consigo?

- Até conhecê-la, não...

- Bolas! A sua vida não tem nenhum enredo!

- Eu avisei-a... Aliás, só a literatura é que precisa de enredo. A vida não passa de uma sequência de acasos e coincidências...

- Não posso escrever sobre si sem uma boa intriga. O que é que os meus leitores vão dizer?

 

- Mata-me! Mata-me!

 

- Quer mesmo saber o meu nome?

- Hum...

- Chamam-me The Serial Killer. Acha apropriado?

 

Conto de JOÃO MELO

 

 

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publicado às 23:07


#2065 - Sem título

por Carlos Pereira \foleirices, em 18.06.16

 

Tu és um imenso mar e

eu uma singela e frágil canoa

 

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publicado às 23:03


#2064 - Euphoria - Silence in everywhere

por Carlos Pereira \foleirices, em 18.06.16

 

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publicado às 18:20


#2063 - MAOMÉ E A MONTANHA

por Carlos Pereira \foleirices, em 17.06.16

 ROSA  ALICE BRANCO

 

MAOMÉ E A MONTANHA

 

Guardo o mais absoluto segredo
das pedras que rolam no fundo dos leitos
embora nada saiba,
nada ouse saber.
Vou pelo olhar até ao rio,
o rio vem a mim
e ambos caminhamos deslumbrados
para fora de nós.

O cantar da água
corre nos meus olhos exactamente como corre
a manhã
até que o sol a prumo
faz de mim o desenho do rio
que vejo,
o mapa das veias
onde o corpo nasce de novo.

À vinda procuro a minha sombra.
O coração que me há-de trazer de volta
demora-se no rio
como se nele corresse
uma sede de olhar.

Os pés colam-se à margem.
Do outro lado as casas vão mudando
de expressão
mais lentamente do que a água corre.
O sol abraça-me pelas costas
e deixa-se escorregar como crianças
que riem,
que não distinguem a voz seca do tempo.

É noite à lareira da casa.
Os objectos acendem-se:
também eles mudam de rosto
como tudo o que é iluminado por amor.
Aproximo-me de longe,
venho do rio,
o rio vem de mim.

Rosa Alice Branco, in 'O Único Traço do Pincel' , 1997

 

 

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publicado às 18:21

 

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publicado às 22:28


#2061 - Desesperança

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.06.16

O medo esborratara-lhe a alma

O vento assobiava uma canção de amor sarcástica

Cabeças espreitavam por entre as frestas da janela, a casa espiada

 Um limão sobre a mesa

Um corpo rugoso sentado, as mãos cansadas sobre as pernas

Um virar de cabeça na direcção do nada

Uma nódoa na parede

A alma um calendário

A melancolia um ponto escondido no armário

Um cravo murcho e cabisbaixo vergado pela vergonha

Um olhar azul magoado

Um fio de água

A serpente no copo

A taça vazia

O coração remendado

Gotas de suor eruginosas

Sulcos esculpidos na pele, a idade do corpo, a idade do medo

Fugir parada

A pancada no corpo

A saudade da idade jovem e de um tempo de rara felicidade

 

 

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publicado às 16:03


#2060 - Questões de Semântica

por Carlos Pereira \foleirices, em 16.06.16

 

O Poder é a fisga e nós o bando de pardais

 

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publicado às 15:30

 

 RICHARD FORD

 

 

 

 Richard Ford, escritor americano, vence o Prémio Princesa das Astúrias da Literatura 2016

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publicado às 15:18


#2058 - patxi andion

por Carlos Pereira \foleirices, em 15.06.16

 

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publicado às 00:02


# 2057 - Heather Woods Broderick - "Wyoming"

por Carlos Pereira \foleirices, em 14.06.16

 

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publicado às 23:49


#2056 - Sem título

por Carlos Pereira \foleirices, em 14.06.16

 A noite corre ligeira

o céu sujo de nuvens

as searas dançam uma valsa triste

o maestro é um espantalho

os gestos denunciam loucura

os gatos miam

as corujas observam

indiferentes

um coro de protestos rebenta vindo do céu

o mundo parece desafinado

o cão desconfiado esconde o rabo entre as pernas

a terra está com cio e reclama chuva

os girassóis cansados dormem com a cabeça de lado

a noite está quase a mudar de turno

o dia está à sua espera

para começar tudo de novo

até que chegue o tempo da noite

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publicado às 23:24


#2055 - Questões de Semântica

por Carlos Pereira \foleirices, em 14.06.16

As  cabeças cheias  de letras minúsculas;

Já não têm espaço as maiúsculas, as irreverentes, as subversivas.

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publicado às 23:18


#2054 - ENGANOS E DESENCONTROS

por Carlos Pereira \foleirices, em 12.06.16

 RUY BELO

 

ENGANOS E DESENCONTROS

 

Canto o homem solar que pisa a neve

A palavra confirma-se em silêncio

as metáforas sobem as metáforas descem

O homem é desejo e não trabalho

é essa mesmo uma das suas definições

Todos os paraísos se baseiam no presente

mas ao matar a morte  matam o prazer

O agora do corpo une-nos à morte

O que é que eu fiz da minha juventude?

pergunta tristão uma vez findo o sortilégio

que o unia a isolda a loura e do rosto claro

Canto esse antigamente esse tempo impossível hoje para nós

quando rivalen o súbdito de marc

com o furor dos amadores da cornualha

se apaixonou por brancaflor irmã de marc

e assim deu início a um conto de amor e da morte

Isolda amou tristão com louco amor

e ouvia o seu cantar como só canta

o rouxinol quando o verão acaba

Ambos refugiados na floresta de morois

vêem chegar a estação quente uma terceira vez

tão belos e imóveis como estátuas mas

marc o ingénuo tio de tristão

em vez da realidade via as aparências e

quanta tortura amor terá causado

A única época feliz do homem terá sido o neolítico

quando o momento triunfava do futuro

Aquele que depois se dedicou a edificar a casa de amanhã

foi vítima do quadro do presente

O paraíso é de anjos e animais

articulemos nós só a palavra vida

Com a frágil felicidade sempre ameaçada

tristão despede-se da sua loura amiga

e extrai o seu prazer do esquecimento

Pesa-lhe na cabeça um pensamento

aves do bosque sede ao seu serviço

E tristão busca isolda com

a cruz no crânio dos loucos de outrora

Quando o sol se levanta traz a claridade

deixai-os ir ao fundo da loucura no

país afortunado dos viventes

Mas nunca mais na vida a voltaria a ver

Cólera de mulher é coisa de temer

e a mulher de tristão fá-lo morrer

antes que chegue o navio de isolda

Sem alteridade não há unidade

A poesia pode muito para mim

pois vem iluminar os meus fantasmas

Quando uma sociedade se corrompe

corrompe-se primeiro a linguagem

 

A tarde escreve uma curva suave

Vou muito simplesmente com o vento

sem sequer conhecer que fujo de mim mesmo

O trigo na campina amadurece

passeio no jardim a cena passa-se no espírito

digo-te adeus e digo adeus à minha juventude

Falo desses teus olhos matutinos

coroo-te de flores ó donzela

tão branca como a cera alta como a gazela

Tens no olhar o prestígio da guerra

voz velada de sol talvez luar

Quero um país que tenha a minha idade

Sinto ter ante mim tempos sem fim

Chego ao termo de quanto pode amar um homem

Já não há uma pátria para mim

falas e logo o tempo se detém

na fragrante fragrância do teu rosto

que luz constantemente em abundância

O murmúrio da minha indignação

por graça da beleza e juventude ignora

o impuro comércio cortesão

Morrer é uma coisa que se vê

O teu amor cresce como uma árvore

há vozes de desgosto na separação dos corpos

Eu canto aves animais herbívoros ou carnívoros

e centra-se na tarde e cerca-me completamente

este crepúsculo esta hora de poetas

A noite entra depois pelas nossas janelas

e traz consigo pitagóricos gente que vive só pelos desertos

Eu porém vivo vou de cidade em cidade

Escrever-te é a maneira de te ter presente

deste satisfação a um amigo e companheiro

pagaste a dívida de amizade e de fraternidade

Por confia em ti nada perdi

é a ti que te quero e não abraços teus

addeus mulher amada mundo meu

Eu digo eu canto e logo o mundo faz-se

ó ave vida momentânea sobre as águas

Chorar eis tudo o que por fim me é possível

antes a sepultura para mim que para ti

eu prefiro seguir-te a enterrar-te

se morres despedimo-nos da vida 

pensar-te morta é morte para mim

que a dor que for me chegue sem aviso

tudo menos o meio de ficar no receio

Mas se te perco tu que és a minha esperança

qual é então a esperança que me resta?

Mais amarga a mulher que a própria morte

mais amarga que a morte é a separação

e aí tu em paris e eu em argenteuil

Louvados os caminhos da mulher

e aquele que por eles caminhar

Em mim canta por vezes abelardo

e é a mim que heloísa tenta

por vezes agradar e não a deus

Os actos de um amor que for em mim contentamento

não podem apoiar agora a penitência

Os sítios e as horas nossas testemunhas

encontram-se na minha consciência

Deus sonda os rins e o que neles se esconde

artistas da mentira e da bajulação e canto a

desolada mulher do fim do mundo mulher que

não teme o tema da prosperidade

não a venha a vaidade a visitar

A morena é do sol que nela incide mas

tu virgem loura és o lírio da montanha

Introduziu-te o rei na sua câmara

e tocou-te de estrelas de mistério

Alterno a alegria com a dor

na pureza da prece perturbada

participo da angústia e do prazer

em tanto desespero quanto aspiro

Ando em prosperidade e aflição

sou um homem de júbilo e de pena

e rio tanto mais quanto mais choro

Arrebata-me o róbur do rubor

Galateia desdenha mas espera

enjeita mas seduz ao mesmo tempo

Eu faço uso da carne e roupa branca

à minha mágoa impus um fundo freio

como de tudo o que se vende no mercado

pois é de deus a terra e quanto encerra

Quando eu despertar hei-de aflorar o vinho

não darei importância a quanto não

me preparar para a definitiva posição

Há muito desertei da minha fé

são meus amigos pecadores e publicanos

recuso aquele que sonda corações e rins

não me suja comer com as mãos por lavar

Eu suportei o dia e o calor

deixai-me ao acabar rezar completas

Pequenino e submisso como um riso

eu canto o insensível pássaro do nada os

lençóis de linho sob o cáustico cloreto as

estampas antigas onde os anjos sobem

escadas de salvação com homens pela mão

de olhos cheios de sombra e de penumbra em

casinhas térreas esmagadas pelas chuvas na

consequente conclusão do verão

Eu canto a solidão do céu só entre céu e terra

palavras pitorescas proferidas  num

discurso dominado pela erudição

combinações confusas e entrecruzadas a

vermelhidão do púcaro da peste

Eu canto as rosas de trepar abertas em fevereiro a

tesoura que podava pela tarde

as casas corpos definidos sobre a terra as

luzes da ceia abertas nos casebres as

covas que o vento cava na água do mar

esse mar bravo de muitos dias de fevereiro

Já os olhos das árvores abotoam

Viajo pelo tempo até ao porto da velhice

onde poisar a pluma da penumbra

 

Eu canto as violetas vistas nos teus olhos

canto a cega conspiração das tuas mãos canto o

paquete que aparelha para o mar a

missa rezada em capela escusa

naquela noite confidente e cúmplice

dos olhos das mulheres ardendo como tochas

Neste verão fechado em nevoeiros

de dias devassados pelo som da ronca

eu canto a tarde posta sobre a tua testa

a ressalga do mar na minha casa

nas minhas duas mãos nas minhas lágrimas

Eu canto o teu vulto evidente nesta praia

e lá na ponta o forte dando já o corpo ao anoitecer

e sinto aqui o mar mesmo na cama

valsar a toda a volta desta tonta vida

Eu canto o pássaro que poisa já no ramo ou

uma reviravolta de quadrante

que arrasta folhas mortas no outono

e retiro a cabeça das vidraças desta vida da

terra deixada da mulher amada no

furor ambulatório dos meus passos

Durmo cego no mais secreto mar

A vida é como um manto ó agustina

e o adultério não é fácil à mulher

como o não era no século sétimo anterior a cristo

quando alguém começava a esperar pela morte

ou no século doze quando a fonte de vaucluse

corria e o verão chegava sem eu esperar

e a voz da tempestade vinha na idade

Eu canto as tardes frescas qundo nas

repartições nos não congregam os cuidados

e as longas alamedas se cumulam de flores vermelhas

e as donzelas se embrenham em silêncios tão pesados como bofetadas

Canto as rameiras que usam nos cabelos uns pentes de pedras

e se lhes vêem as saias de baixo amarelas e lilases

e há mulheres nobres de rostos com tons de um verde-maçã e violeta

sob os ramos mais baixos de sinceiros

e outras árvores de folhas amarelas e reversos brilhantes como prata

e a voz de uma ave oculta em laranjeiras

pode subitamente provocar o pranto

Canto uma flor desconhecida que abre

seu ventre mate na íntima penumbra de florestas

quando em quase toda a natureza humana

a vibração de besta substitui a alegria

e as mulheres multiplicam os cabelos

de uma cor fulva e serpenteantes

eu canto o despertar da ira como um gesto inicial

quando não descoberto o mundo apetece e

nos poemas não cabem as ffelpudas folhas das nespereiras e

se sabe esperar meses pelo resultado de uma frase dita num salão

Eu canto a crueldade generosa e o febril fogo castigador

vivos no homem que não pervertia ainda

essa paixão vencida que há por baixo da mentira

canto o cansaço de quem cai na relva e sob a gigantesca tília

jaz quando as rameiras não eram ainda

as aves proibidas que só saem ao anoitecer

e a pequena pedra sua a sua água perlada

e há no manso mar nuvens que anunciam o calor

canto aquele português que não domina ainda

a face decomposta e deformada

mas onde se reflecte a luz do sol e onde cai a chuva

e que sabe saborear amoras bravas

e os caldos de sêmola aprecia

num retiro furtivo de evasão das mundanas congregações

canto o tempo em que havia colóquios mortais

debaixo das ameixieiras rutilantes

e o pecado não era tíbio e consentido

por mulheres que viviam na intimidade da sensualidade

e amavam quer o cheiro quente de um campo lavrado

quer a emanação olorosa da fruta

que amadurecia nas salas das casas

canto a miséria franca inda sem luvas

eu canto tudo isso ou não canto realmente nada disso

Canto o tempo dos gastos com as permanentes

deslocações da corte de uma terra para outra

e os cortesãos há séculos vergados sobre o chão

rodeados talvez de espargos bravos quando

os dias se passavam em amores

e nos mais variados exercícios de armas

e uma casta esmoler aliviava os precisados

sem em troca exigir-lhes as virtudes dos vencidos

Canto o tempo de sol e as pragas de gafanhotos vindas com a chuva

quando a sensualidade corroía já esse homem altivo

por se saber prestes  a morrer

quando ninguém gostava da ambiguidade fugidia e fácil

e as mulheres se mostravam já capazes

da verdadeira compreensão da sensualidade

amiúde divinizadas perlos homens para as isolarem

Canto os contemporâneos dos homens ilustres

que mais tarde falhavam outra vez

quando a felicidade era um sofrimento já passado

junto de tílias perto de alguns pássaros

que caíam cerrados como pedras

canto os poços tão fundos que segundo os velhos

se ouvia o cantar dos galos nesse dia que havia para lá do fundo

quando havia inúmeros objectos cujo uso se esqueceu

e um silêncio pouco após ameaçado levemente

pelo cantar dos galos pelas flautas dos pastores

e a penumbra  não era precursora da sombra

Eu encho o peito de ar e canto tudo isso

Que alguém ampare o que for que em nós espere

que alguma coisa dure antes de ir-

-se embora ó morna urna eterna e nocturna

ávida e lêveda dúvida lívida mas tórrida

parássemos e víssemos e velhíssimos nos embrulhássemos num

sensual servil lençol sob o dossel azul e mole

A área da matéria é vária e etérea

o átrio é pétreo e vítreo

mas a larva ou a erva que sirva para que a água ferva

que a vida a não absorva nem a ponha turva

que o debate debite azeite por quem opte e lute

Contemplo por exemplo o amplo tempo

onde o tema do drama recai numa trama

e o meu acto é um tecto para um grito

que gosto de ver roto quando luto num

segundo que descendo dura menos que subindo

muito menos que amando nada se me afundo ao

relento cego sossegado branco

Não mais hei-de voltar ao estaleiro onde me despedi de solteiro

na noite solitária de mãos dadas com o vento

Foi da maré vazante a vitória precária e aparente

da terra e sua gente sobre a pátria permanente

de peixes e corais conchas e tudo o mais

Eu canto as mulheres cabelos de sargaço e áticos narizes de aço

ou rostos de marfim que me perdem a mim

e entre elas tu comprida cabeleira

tanto tempo perdido coisas sem sentido

palavras para o teu ouvido flores do teu vestido

mulher que choro agora e ausente embora é comigo que mora

causa desta tristeza que me altera a natureza

enfim coisas insignificantes que hoje valem mais que antes

E aquele pinheiro positivo e uno

oposto aos fáceis fogos vesperais

pinheiro antes de mim e digno de respeito

mais profundo que um homem e que sabe mais

alheio às manhas que por si a própria vida tem

e muito mais as tem naturalmente quem

com paixão vive a vida e a vive sem medida

e a consente em imolar ao mar

que há muito ouve insistente chamar

e é complexo como a máxima mulher

Ó mar azul meu actual paul

ó catedral de angústia ó pequena réstia

dessa feliz felicidade que sei que não há-de

haver sem eu correr o risco de a perder

ó essa voz que cresce com o dia que desce

sobre esse pinheiro manso onde ainda me condenso

e não nesta miséria que é eu ser pessoa séria

Canto a vela cheia de vento que me arranca num momento

e me faz imolar ao mar que como um deus exige a vida de homens

que lhe ouviram a voz sentiram vocação e

cedo se iniciaram nos mistérios de um supremo ser

que na água que é rapidamente a mim me lava

E canto a neve que se atreve ao que me deve

névoa vinda do sul por sobre o mar azul

luz do lápis-lazúli que se azula

e açula a rasa solidão do mar

melancólica morte dessa praia ao norte

a praia onde desmaia toda aluz que saia

do dia luminar que lá ao longe vai levar

a alegria feroz da luz veloz

deixando sobre o mundo o grito do meu luto

ebulição da vida a custo reprimida

viola violenta que a luz é que sustenta

E sonho como fausto em renovar a vida

gesta já gasta que arrasta a flor da giesta e

sustento-me de ti mesa da vida posta

luz que me aquece quando tudo me arrefece

mulher que passas pela estrada branca

da vida amena ao som da leve avena

olhos redondos olhos como abrunhos

e que vergas à luz como uma verdadeira amendoeira

e morro muito a custo após o mês de agosto

dor dolorosa minha e do meu sonho

num pensamento ermo de um enfermo

que ora aspiro a frescura perfumada de um limão

termo e habitação da terra por deus dada

ora é meu destino a dor lida no olhar do pescador

e mesmo quando durmo em dor me afirmo

 

O meu desporto é a versificação

e troco o próprio verão por três quatro palavras

dessas a que é alheio o coração

Um verdadeiro pescador é dias que nas redes traz

uma vida não chega pra fazer um pescador

na consciência oculta e ignorada do seu tempo

Mas tantas coisas houve que passaram para mim

essa dor onde havia íntimas mulheres

largos ao sol quadros antigos tons de luz

recantos odorosos como a adolescência

essa prega dos lábios onde nasce o riso

o limiar da dor ou os acessos ao amor

tudo isso situado nas imediações dos  olhos

Canto o homem que tinha ainda alguma voz no rio

que corria veloz pra preservar a limpidez e

no rosto um resto de malícia e de melancolia

e a voz na noite tanto esmorecia

que por cima do vento mal se ouvia

e os medronhos caíam as folhas buliam

na perfídia do perigo ou na nudez da perversão

Mas nada disso havia ainda nesse  tempo

além do célere corcel do tempo que corria

do dispensável excesso de experiência

convite à convicção da consciência

terrível e terrestre turbulência

Eu canto a mínima ruína de queimar os dedos o

passo tão calculado como o de uma prostituta

infiltração nas íntimas instituições

pródigos monumentos a nós próprios e

o terrível turíbulo da torpe turbulência

abundância de mãos em máximas imersas

acção dispendiosa para a paz do mundo

Quem se busca a si próprio bruscamente afasta

o manto gotejante das águas tirrenas

do peregrino pertinaz de ítaca ou da

criança apenas convencida da recente vida

sem bem conhecer afinal como conseguida

A útil única e vibrátil vida que

no ríspido rigor real ainda vibra

no quente coração dos corajosos homens

ao ritmo de uma néscia narrativa

provém dos livros desse adolescente aberto

às grandes massas do instinto e risco

dificilmente tributáveis pelo fisco

Se aos deuses nada há a acrescentar

pouco lhes há também a retirar

e muitas vezes mesmo a invejar

Conhecesse eu as ruas tão bem como a vida

recebesse no rosto o bafo azul do nevoeiro

e as amplas janelas que de par em par

deixam entrar em casa imenso o mar

jamais haviam de deixar passar

a nesga negra da profunda negação

esse orgulho do sexo que odeia o segredo

as vozes do serão no morno ar às vezes

Canto a destra desenvoltura que amestra a desventura

e o castigo que traz a paz da culpa

e os grandes gritos só devidos aos aflitos

manto de insulsa água que rodeia as árvores

e o ríspido risco assumido vivo e a

rajada de luar humilde na calçada

Envelheci talvez. Tenho coisas atrás

essa cara convulsa agora causa de rerpulsa

os sórdidos recantos desse rosto

que um intenso gosto antes tivera em contemplar

o desnível possível à cascável acessível

alguém menor que a pedra inferior à onda

mais planta do que absurdo e árvore jamais

onde desprevenida se jogava a nossa vida

sem ser-nos devolvida alguma imagem

onde minimamente esparso ardesse o remorso

Sempre fora o meu mal evitar fazer mal

Esse espectro do nosso desespero o confidente

amara apenas essa rapariga

para a emancipar do infortúnio

Aqui sobre estas águas eu suspenso deixo

a vida até qualquer outro verão

onde outra vez procure em vão o que ora procurei

Eu canto a margem terra empedernida

que exagera e se mostra enfim tão indecisa

quanto antes entre terra e água e o

vento devorador dessas nocturnas raparigas

Das amadas mulheres só me ficam

as que no casamento buscam a legalização

do ouro que a especulação assegurou aos seus antepassados

hoje tão cintilantes quão discretas antes

Viram-se homens de muitos gestos mas de poucas mãos

e viu-se o ar mandado pelo mar

atravessar as ávidas janelas

e entrar de mansinho nas primeiras casas

representantes da cidade e dos seus habitantes

de sorriso escolástico nos lábios

As ondas de tão sôfregas mordiam

pretensas pedras mas afinal terra

e contra o cais as palmas como que batiam

na tragédia que toda a festa encerra

A cidade era parda àquela hora

naquele tempo em que nascem brancas maias

e a mais bela é a cor rubro-saturno

Névoa ou mágoa de sal tudo era azul

Toda a noite eu dançava entre as fogueiras

precisava de ouvir vozes humanas

para me dissipar a solidão

e queria viver e não morrer

e via corações nos cântaros de barro

e ria e ria mais ao vê-los rebentar

a golpes de espadim entre sério e a brincar

Onde estavam agora os amigos de outrora

que comigo corriam pelas praias

e a inocente fronte só de beijos me a cobriam

 no correr dos dias?

Só me quedava ver escorrer das bocas negras dos mendigos

aquela água que corre das carrancas

quando a tormenta cerra o céu dos templos

As aves são um sol branco e maior

sobre o trigo que cresce e que decresce

como o homem que nasce e nascendo envelhece

e eu passo e vou e volto e então abro

os olhos sobre o rio do balcão do paço

e há um vasto espaço nos meus olhos

E canto a alegria de volúveis bailarinos

camareiros arautos fâmulos donzéis

e sonho que não mais acabará essa alegria

As casas as fachadas tudo se reveste de veludo

e casa por ladrões rondada é casa roubada

E a resina arde em meio da multidão

que enche as ruas onde então já danço

entre o aroma ou música que areja

os quartos já fechados desde há muito

que ergue casas já há muito demolidas

e uma voz ouvida e perdida

se vê pelo presente repetida

inicial lustral como uma madrugada

Que importa que no mundo morram os ministros?

É patriótico negar a nacionalidade

aos naturais de um país vencido

que só buscou no mar razão de ser. Eu canto a

memória fugitiva como a água

que parece estender alguma mão de paz

sobre a ácida lâmina de um sabre

Gente amarela e morna amordaçada

domina esse país aonde a ironia

dissimula a impossível alegria

numa vida que vai por mim contaminada

vida do largo da areia e do vento

À minha personalidade própria de poeta

na carne cerebral de que careço

a eternidade vem-me das papoilas

desfolha-se-me a vida como as pétalas das rosas

e pensei e li mais do que vivi

E só tu sobressais entre as demais

mulher eterna com a luz na fronte

e dominante agora em todo o horizonte

Humano mesmo se demasiado humano

povoam-me cidades sossegadas

de sonhos que semeiam as semanas

onde o só silêncio é soberano

Dobra-se a brisa à mão do meio-dia

a fantasia é fértil em verdade

e do presente obscuro português

algum futuro há-de enfim nascer

Do salmo lúgubre da luz final do dia

que já há quatro séculos se entoa

hão-de rasgar a noite portuguesa

as raparigas da cidade de lisboa

E eu hei-de voar ao vento do momento

Dizias qualquer coisa? Esta manhã? Perfeitamente

 

 

Madrid, 31/V/1977

 

POEMA DE RUY BELO IN «O TEMPO DAS SUAVES RAPARIGAS E OUTROS POEMAS DE AMOR»

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publicado às 14:50


#2053 - PORTUGAL

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.06.16

JORGE DE SOUSA BRAGA

 

PORTUGAL

 

Portugal

Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir

como se tivesse oitocentos

Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África

só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais

e nunca mais voltasse

Quase chego a pensar que é tudo mentira que o Infante 

D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney

e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente

Portugal

Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional

(que os meus egrégios avós me perdoem)

Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo

Anda na consulta externa do Júlio de Matos

Deram-lhe uns electrochoques e está a recuperar

aparte o facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas

Portugal

Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a febre do Império

mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado

Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse

das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador

Portugal

Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém

Sabes

estou loucamente apaixonado por ti

Pergunto a mim mesmo

como me pude eu apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu

mas que tem o coração doce ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal

e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade

Portugal estás a ouvir-me?

Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete Salazar estava no poder nada de ressentimentos

O meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram nada de ressentimentos

Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos

Portugal  depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas a nado na piscina municipal de Braga

ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional

Que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que Camões lá deixou

Portugal

Sabes de que cor são os meus olhos?

São castanhos como os da minha mãe

Portugal gostava de te beijar muito apaixonadamente

na boca

 

(DE MANHÃ VAMOS TODOS ACORDAR COM UMA PÉROLA NO CU, 1981)

 

 

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publicado às 22:58


#2052 - GRAFIA 1

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.06.16

 FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO

 

GRAFIA 1

 

Água significa ave

 

se

 

a sílaba é uma pedra álgida

sobre o equilíbrio dos olhos

 

se

 

as palavras são densas de sangue

e despem objectos

 

se

 

o tamanho deste vento é um triângulo na água

o tamanho da ave é um rio demorado

 

onde

 

as mãos derrubam arestas

a palavra principia

 

(MORFISMOS, 1961)

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publicado às 22:44


#2051 - XC

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.06.16

 ARMINDO RODRIGUES

 

 

XC

 

Pouco é um homem e, no entanto, nele

cabe tudo o que existe e fica ainda

espaço bastante para poder negá-lo.

 

(BELEZA PROMETIDA, 1950)

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publicado às 22:37


#2050 - 26

por Carlos Pereira \foleirices, em 09.06.16

 VITORINO NEMÉSIO

 

26

 

O anoitecer situa as coisas na minha alma
Como as cadeiras arrumadas
Quando os amigos partiram.
Meus degraus ainda têm a passada do adeus,
Lá quando uma palavra cria tudo,
E o resto, fechada a porta,
É posto nas mãos de Deus.
Então, à minha janela,
Tudo repousa e larga o aro dos conjuntos,
Tudo vem, com um gesto secreto e confiado,
Pedir-me o molde e o amor do isolamento,
Como se um desconhecido
Passasse e pedisse lume
E eu, sem reparar, lho estendesse:
Quando quisesse conhecê-lo,
Só a minha brasa ao longe,
Na noite que se faz pelo peso dos rios
E vive de fogo dado.
Assim nocturno, sou
O suporte de quem não tem para consciência,
Que é como não ter para pão:
As coisas cegas
Prendem-se a mim,
Ao meu olhar, que é único na noite
Pelo seu grande alcance de humildade,
E fico cheio delas,
Como estes sítios ermos, junto de uma cidade,
Cemitérios de tudo, lugares para cães e bidons velhos;
Fico cheio da pobreza e do sinal das coisas,
Como um retrato de gente pobre é pobre e gauche
(Vale a recordação),
Mas sinto-me, ao mesmo tempo, seco e cheio de tacto
Como se fosse o seu bordão.

 

 

Poema de Vitorino Nemésio (EU, COMOVIDO A OESTE, 1940)

 

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publicado às 19:35


#2049 - Mark Kozelek » Moon River (Mancini/Mercer cover)

por Carlos Pereira \foleirices, em 08.06.16

 

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publicado às 00:42


#2048 - mark kozelek - float on

por Carlos Pereira \foleirices, em 08.06.16

 

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publicado às 00:37


#2047 - Nils Frahm - Corn

por Carlos Pereira \foleirices, em 08.06.16

 

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publicado às 00:32


#2046 - Questões de Semântica

por Carlos Pereira \foleirices, em 07.06.16

O tempo

e

o

modo

e

a

circunstância

 

causa

e

o

efeito

e

a

consequência

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publicado às 23:19


#2045 - Geometrias

por Carlos Pereira \foleirices, em 05.06.16

 

O ar oblíquo das coisas verticais

penduradas de cabeça para baixo

em sinais de ar rude a exigir distância prudente.

 

O corpo, paralelo com a vida vazia,

deitado na horizontal;

a alma fugindo em busca do ar circular,

o seu ponto de fuga.

 

Palavras bêbedas desenhadas no papel pardo

que embrulha os sopros sinusoidais do coração.

 

Um rosto,

em linha recta com  o espelho,

revelando as formas diagonais da alma e

as linhas paralelas da idade e os

olhos,

duas lágrimas ovais que perfumam a

linha curva da boca.

 

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publicado às 19:18


#2044 - In a sentimental mood

por Carlos Pereira \foleirices, em 04.06.16

 

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publicado às 22:07


#2043 - Rui Paixão

por Carlos Pereira \foleirices, em 02.06.16

 

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publicado às 12:03


#2042 - A ORIGEM DA HUMANIDADE

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.06.16

ILHAS ANDAMAN

 

 

A ORIGEM DA HUMANIDADE

 

O primeiro homem chamava-se Jutpu («Solitário»).

 

Nasceu no interior de uam cana de bambu, como um pássaro nasce de um ovo.

 

O bambu fendeu-se e nasceu uma criança.

 

Quando começou a chover, construiu uma pequena cabana para se abrigar e ali ficou a viver.

 

Fez um pequeno arco e flechas.

 

Quando cresceu construiu cabanas de maiores dimensões e arcos e flechas mais compridos.

 

Um dia, encontrou um fragmento de quartzo e com ele fez escarificações no corpo.

 

Jutpu sentia-se triste, cansado de viver só.

 

Roubou um pedaço de barro de um formigueiro e moldou-o com a forma de uma mulher.

 

O barro tomou vida e a mulher tornou-se sua esposa. Chamava-se Kot («Barro»).

 

Viviam juntos, em Terut-Biliu.

 

Mais tarde, Jutpu moldou mais homens e mulheres a partir do barro. Foram os primeiros antepassados dos Andaman.

 

Jutpu ensinou os homens a construir canoas, e arcos e flechas, e ensinou-os a caçar e a pescar.

 

A sua esposa ensinou as mulheres a fazer cestos, redes, esteiras, e tangas e a usar barro para fazer desenhos no corpo.

 

ILHAS ANDAMAN

 

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publicado às 23:05


#2041 - A MULHER QUE CRIOU A TERRA

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.06.16

IROQUESES

 

A MULHER QUE CRIOU A TERRA - (MITO DA CRIAÇÃO)

 

No início não existia terra para se viver, mas lá em cima, no grande azul, habitava uma mulher sonhadora. Uma noite sonhou com uma árvore coberta de rebentos brancos, que iluminava o céu quando as suas flores se abriam, mas que trazia uma terrível escuridão quando elas se voltavam a fechar. O sonho assustou-a, de modo que foi ter com os sábios homens velhos que viviam com ela, na sua aldeia no céu, e contou-lhes.

 

«Puxem esta árvore mais para cima», implorou-lhes, mas eles não entendiam. Tudo o que faziam era escavar à volta das raízes, tentando arranjar  espaço para haver mais luz. Então a árvore caiu no buraco que eles fizeram e desapareceu. Depois disso, deixou de haver luz, apenas escuridão.

 

Os homens velhos começaram a ter medo das mulheres e dos seus sonhos. Era dela a culpa da luz se ter ido para sempre.

 

Então puxaram-na até ao buraco e empurraram-na. Sentiu-se a cair, para o fundo, em direcção ao grande vazio. Debaixo dela não existia nada para além de uma terrível quantidade de água. Esta estranha mulher sonhadora do grande azul, certamente teria ficado desfeita em mil bocados, não fosse um peixe-águia que veio em seu socorro. As suas penas formaram uma almofada que permitiu à mulher uma aterragem suave por.. cima das ondas.

 

Entretanto, o peixe-águia não conseguia sozinho mantê-la. Ele precisava de ajuda. Chamou pelas criaturas das profundidades. «Temos que encontrar alguma coisa sólida onde esta mulher possa descansar», disse ansiosamente. Só que não existia nenhum pedaço sólido, apenas as águas tormentosas e sem fim.

 

Um mergulhão desceu na água, para baixo, até ao fundo do mar e trouxe de lá um pouco de lama no seu bico. Encontrou uma tartaruga, espalhou a lama no seu casco e mergulhou outra vez para trazer mais lama.

 

Então os patos juntaram-se-lhes. Eles gostavam de se sujar com lama e portanto ajudaram a trazer mais alguma nos seus bicos, espalhando-a por cima da tartaruga. Os castores também ajudaram - eles eram grandes construtores - e trabalharam muito, tornando a carapaça da tartaruga cada vez maior.

 

Agora toda a gente estava muito ocupada e entusiasmada. Este mundo que eles estavam a construir começava a ficar enorme! Os pássaros e os animais apressavam-se, construindo países, continentes, até que por fim tinham construído toda a terra. Durante todo esse tempo, a mulher do céu esteve sempre calmamente sentada nas costas da tartaruga.

 

Ela ainda aguenta a terra até hoje.

 

IROQUESES, AMÉRICA DO NORTE

 

 

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publicado às 19:25


#2040 - Hoje apetece-me ouvir

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.06.16

 

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publicado às 18:46


#2039 - Fauré: Cantique de Jean Racine Op 11

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.06.16

 

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publicado às 18:24


#2038 - (Mito da Criação)

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.06.16

POVO FULANI

 

(MITO DA CRIAÇÃO)

 

No princípio existia uma enorme gota de leite.

Então chegou Doondari e criou a pedra,

A pedra criou o ferro;

E o ferro criou o fogo;

E o fogo criou a água;

E a água criou o ar.

Então Doondari desceu pela segunda vez.

Juntou os cinco elementos

E moldou-os num homem,

Mas o homem era orgulhoso.

Então Doondari criou a cegueira e a cegueira derrotou o homem.

Mas quando a cegueira se tornou demasiado orgulhosa,

Doondari criou o sono, e o sono derrotou a cegueira;

Mas quando o sono se tornou demasiado orgulhoso, 

Doondari criou a preocupação, e a preocupação derrotou o sono;

Mas quando a preocupação se tornou demasiado orgulhosa,

Doondari criou a morte, e a morte derrotou a preocupação.

Quando a morte se tornou demasiado orgulhosa,

Doondari desceu pela terceira vez.

E ele veio como Gueno, o Eterno,

E Gueno derrotou a morte.

 

Poema do povo Fulani, Mali - traduzido por Vasco David

 

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publicado às 18:04


#2037 - Raduan Nassar galardoado com o Prémio Camões 2016

por Carlos Pereira \foleirices, em 01.06.16

REDUAN NASSAR

 

Raduan Nassar Vence o Prémio Camões 2016

 

O Prémio Camões de 2016 foi atribuído ao escritor brasileiro Raduan Nassar. O anúncio foi feito no dia 30 de maio, às 19h00, em Lisboa, pelo Secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado e pelo júri da 28ª edição do concurso.

Descendente de libaneses, nasceu em Pindorama, Estado de São Paulo, em 1935. Estudou Direito e Letras na Universidade de São Paulo, apesar de ali ter concluído a sua formação académica em Filosofia. É autor de uma obra de intervenção, promovendo uma consciência política e social contra o autoritarismo.

Raduan Nassar estreou-se na literatura em 1975, com o romance Lavoura arcaica. Em 1978, foi publicada a novela Um copo de cólera, e em 1997  a coletânea de contos Menina a caminho.

Com apenas três livros publicados, é considerado pela crítica como um grande escritor e comparado a nomes consagrados da literatura brasileira, como Clarice Lispector e Guimarães Rosa, graças à extraordinária qualidade da sua linguagem e da força poética da sua prosa. Os seus livros tornaram-se conhecidos do público em geral com as versões cinematográficas de Um copo de cólera e Lavoura arcaica.

Com a obra traduzida em várias línguas, Raduan Nassar está publicado pela Penguin no Reino Unido, tendo feito parte, em 2016, da longlist do MAN Booker International Prize com a tradução de Um copo de cólera.

O júri foi constituído pela professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Paula Mourão, pelo escritor português Pedro Mexia, pela escritora e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Flora Sussekind, pelo escritor e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Sérgio Alcides do Amaral, pelo reitor da Universidade Politécnica de Maputo, Lourenço do Rosário, e pela professora da Faculdade de Letras de Lisboa e da Universidade de Macau Inocência Mata, natural de S. Tomé e Príncipe.

O Prémio Camões foi instituído por Portugal e pelo Brasil, em 1988, e atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor Miguel Torga (1907-1995), autor, entre outras obras, de “Os bichos”, “Contos da montanha” e “Criação do mundo”.

Em 2015, o prémio foi atribuído à escritora portuguesa Hélia Correia e, em 2014, ao historiador e ensaísta brasileiro Alberto da Costa e Silva.

O moçambicano Mia Couto (2013), os brasileiros Dalton Trevisan (2012), Ferreira Gullar (2010) e João Ubaldo Ribeiro (2008), os portugueses Manuel António Pina (2011) e António Lobo Antunes (2007) e o cabo-verdiano Arménio Vieira (2009) são outros vencedores recentes.

Dos 27 distinguidos, apenas o angolano Luandino Vieira, de 79 anos, autor de “Luuanda”, atualmente a viver no Alto Minho, em Portugal, recusou o prémio.

João Cabral de Melo Neto (1990), Vergílio Ferreira (1992), Jorge Amado (1994), José Saramago (1995) e Eduardo Lourenço (1996) foram outros galardoados com o Prémio Camões.

Rachel Queiroz (1993), Sophia de Mello Breyner Andresen (1999), Maria Velho da Costa (2002), Agustina Bessa-Luís (2004), Lygia Fagundes Telles (2005) e Hélia Correia são as seis mulheres distinguidas, até agora, com o Prémio Camões.

 

Notícia retirada do site «Camões, Instituto da Cooperação e da Língua

 

 

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publicado às 16:56


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